Durante a última semana, ouvi muitas reclamações sobre a ausência do novo filme de Lars Von Trier, Melancolia, na lista de estreias do circuito comercial de Belém. Sinceramente, a mim não faz a menor falta. E aqui tomo emprestada uma frase de Renato Russo para me explicar: Em minha opinião, o dinamarquês se enquadra naquela categoria dos que falam demais, pois não têm nada a dizer (Como toda regra tem exceção, O Anticristo é passável).
Radical? Talvez sim. Não costumo ser. Mas os filmes do Von Trier não me provocam reflexão, apenas sono (seguido de raiva por ter perdido meu tempo). Rebuscado ao extremo, ele exalta a forma para disfarçar um conteúdo desinteressante. E não me entendam mal, não se trata aqui de uma defesa do cinema-pipoca ou do entretenimento puro. Existem inúmeros cineastas – atuais e consagrados – que conseguem unir essas duas vertentes, arte e diversão, em suas obras e têm meu respeito.
Michael Mann, Chris Nolan, Copolla, Allen, Samuel Fuller, Edgar Wright, Shyamalan (que ainda tem crédito, mesmo depois das recentes bobagens que dirigiu) e Lucio Fulci são alguns deles. E aqui vai uma dica pra quem está se lamentando por não poder (ainda) assistir na telona o novo Trier. Um “velho” Fulci está em cartaz hoje à noite, às 21h, na Sessão Maldita do Cine Líbero Luxardo, com entrada franca. Infelizmente, vou estar em pleno fechamento da edição do DIÁRIO e perderei a exibição. Mas quem estiver sem compromisso e gostar de cinema, tem a obrigação de estar lá.
O filme em questão é Um lagarto com pele de mulher. Ainda não vi, não posso comentar especificamente sobre ele. Mas por tudo que já vi de Lucio Fulci, posso afirmar sem medo que o seu pior filme com certeza vale mais a pena do que o melhor de Von Trier. Craque da mise-en-scène, Fulci extrai a tensão de seus movimentos de câmera. Joga com o terror psicológico, ao mesmo tempo em que não hesita em partir para o gore, com litros de sangue jorrando da tela.
Curiosamente, um de seus temas preferidos é o mesmo que Trier vez ou outra invoca, como a religião, a violência e demais sentimentos originários daí. Controversos, ambos são. Gênio, pra mim, só Fulci. Ainda mais se levarmos em consideração os parcos recursos que o italiano sempre teve à sua disposição em oposição à babação de ovo em cima de Trier, que consegue financiamentos em vários países (seu banimento de Cannes por ter feito uma piada nazista só vai ajudá-lo nisso. Ele está na moda).
E se você virem o filme de Fulci e afirmarem que é trash, eu digo que a primeira impressão é essa mesmo. Eu tive e me diverti muito, do mesmo jeito. Claro que algumas pessoas não curtem isso. Mas vale a pena. Se os risos involuntários (eles existem) forem deixados de lado, você terá uma aula de cinema. Aos poucos, saltam aos olhos detalhes da composição, do roteiro, entre outros aspectos, que dão vontade de gritar, à la Cidade de Deus: “Trier é o c... Cult mesmo é o Fulci, p...”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário