Em uma entrevista na última semana, o
todo-poderoso presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, disse que Pantera
Negra (Black Panther, 2018) é o melhor filme já feito pela empresa. A
empolgação tem fundamento. A verdade é que Pantera Negra é tudo que se esperava
dele e mais um pouco. Ryan Coogler (dos ótimos Fruitvale Station e Creed) sabe
exatamente o que se espera de um personagem assim. Ele é forte e representa a
luta dos negros por espaços sociais e culturais que lhes foram negados ao longo
dos séculos.
Para isso, Coogler buscou muitas
inspirações, misturando História e
Modernidade da África para criar o reino de Wakanda, como se fosse um
território próprio no continente africano. O design de produção, figurinos e
trilha sonora (de Kendrick Lamar) criam uma estrutura de comunidade orgulhosa
de fazer parte do continente-mãe. Tudo bonito, colorido e cheio de rituais de
iniciação e amadurecimento.
Falando em amadurecer, Coogler também
escreveu o roteiro mais completo entre aqueles que seguem a “Fórmula Marvel” do
cinema. A jornada do seu herói não apenas é adequada, como temos um vilão
tridimensional. O embate entre T’challa (Chadwick Boseman, o carisma em pessoa)
e Killmonger (Michael B. Jordan, em performance magnética) é, simbolicamente, o confronto entre visões
de mundo dicotômicas, mas igualmente justificáveis. Por isso, apesar de
repudiarmos as ações do anti-herói, somos capazes de compreendê-las, o que é
fundamental para desenvolvermos uma ligação com ele e criarmos empatia, por
outro lado, com o protagonista. O monólogo final é digno daquele na chuva em
Blade Runner.
Se não bastasse, temos personagens
coadjuvantes com comportamentos e arcos bem definidos. Sabendo que precisaria
de atores que dessem conta disso, o diretor os selecionou a dedo. Reunir
veteranos do naipe de Forest Whitaker e Angela Basset com revelações do nível
de Daniel Kaluuya (indicado ao Oscar por Corra!) e Sterling K. Brown, é para
vencer de goleada. Entretanto, são as mulheres negras que tomam a tela para si.
Lupita Nyong’o, Letitia Wright e Danai Gurira transbordam personalidade como
guerreiras honradas, inteligentes e decididas. Okoye é, agora, minha adaptação
de heroína favorita da tela grande.
Somando
todas as qualidades e sua importância para a representatividade dos negros,
Pantera Negra é um tiro certeiro da produtora que, mesmo – obviamente - visando
lucro, consegue tratar de temas caros a estes, como escravidão, exclusão
cultural e racismo, sem parecer complacente. E imaginem a importância disso
para as crianças negras, que se veem totalmente representadas em uma aventura
de sucesso nas bilheterias? A cena final, com uma pergunta direta (Quem é
você?) e um sorriso de “Eu sou você amanhã”, responde totalmente à questão.
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