terça-feira, 16 de setembro de 2014

Uma espiral de violência e morte


“E se você estiver certo e todos eles errados?”. A frase no cartaz que ornamenta a parede do porão de um dos personagens de Fargo exemplifica bem o tipo de motivação que os move da nova série do canal FX. Eles são limitados intelectualmente ( com uma única exceção) e levam uma vida medíocre, mas mesmo assim não medem as consequências para conseguir seus objetivos. Mas é claro que é preciso um gatilho para isso. E em meio ao ambiente congelado de duas pequenas cidades do interior dos EUA, o estopim se cria com muito sangue. Aqui o choque inicial gera uma espiral de atitudes erradas ou irresponsáveis que terminam sempre em violência.
Quando estreou em 1996, o filme Fargo, dos irmãos Joel e Ethan Cohen, chamou a atenção do público e da crítica por ser bem construído e por levar a violência desenfreada para um ambiente não acostumado com ela. A encomenda do sequestro da esposa por um infeliz vendedor vira uma comédia de erros, recheada de humor negro. A produção foi aclamada com dois Oscar: melhor roteiro para a dupla e melhor atriz para Frances Mcdormand. Antes desse, os irmãos já haviam dirigido o ótimo Gosto de Sangue e deram continuidade a essa linguagem e estética bizarras nos filmes subsequentes, todos ótimos: Barton Fink, Na Roda da Fortuna, O Grande Lebowski, E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? e Onde os Fracos Não Têm Vez, além dos irregulares O Amor Custa Caro, Queime Depois de Ler, Bravura Indômita e Um Homem Sério.
O curioso é que a série apenas pega a premissa kafkiana dos diretores e o ambiente para contar uma nova história: dessa vez, o encontro do vendedor de seguros Lester Nygaard (Martin Freeman, ótimo) e o assassino Lorne Malvo em um hospital e um acordo de morte, termina em uma espiral de brutalidade. Depois de anos sem fazer algo que preste no cinema, Billy Bob Thornton tem aqui o papel da sua vida. Ele encarna Malvo com uma frieza e um mau humor impressionantes, e mesmo com a aparência frágil, é a encarnação do mal sempre que aparece em cena. O elenco inteiro é ótimo, com destaques para Colin Hanks e Allison Tohman, como os dois únicos policiais sensatos, apesar de medrosos, do local. 

Cada episódio possui um ritmo diferente e são bem dirigidos. As cenas da invasão de policiais em uma casa e o “percurso” de um peixe do aquário até a mesa de mafiosos são puro cinema e tem um plano sequência que acompanha, do lado de fora e pelas janelas, o ataque a um prédio é Brian de Palma em estado bruto. Destaco apenas um problema na história: todo o núcleo que envolve um dono de supermercado não acrescenta nada à história principal e termina sem resolução, apesar de ser bem divertida. Quem está atrás de uma boa série, depois do sucesso de Breaking Bad e True Detective, vai encontrar uma boa opção em Fargo.

Livro
- Na próxima quinta-feira, durante a abertura da Semana Nacional de Trânsito, no Hangar Centro de Convenções, haverá o lançamento da coletânea literária Tudo Que Não Foi, organizada pelo movimento Não Foi Acidente. A obra reúne textos de autores do país inteiro acerca dos acidentes de trânsito. Entre os escritores convidados do livro está o paraense Caco Ishak. O lançamento ocorrerá após a palestra de abertura. Prestigiem.

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