“E se você estiver
certo e todos eles errados?”. A frase no cartaz que ornamenta a parede do porão
de um dos personagens de Fargo exemplifica bem o tipo de motivação que os move
da nova série do canal FX. Eles são limitados intelectualmente ( com uma única
exceção) e levam uma vida medíocre, mas mesmo assim não medem as consequências
para conseguir seus objetivos. Mas é claro que é preciso um gatilho para isso.
E em meio ao ambiente congelado de duas pequenas cidades do interior dos EUA, o
estopim se cria com muito sangue. Aqui o choque inicial gera uma espiral de
atitudes erradas ou irresponsáveis que terminam sempre em violência.
Quando estreou em 1996,
o filme Fargo, dos irmãos Joel e Ethan Cohen, chamou a atenção do público e da
crítica por ser bem construído e por levar a violência desenfreada para um
ambiente não acostumado com ela. A encomenda do sequestro da esposa por um
infeliz vendedor vira uma comédia de erros, recheada de humor negro. A produção
foi aclamada com dois Oscar: melhor roteiro para a dupla e melhor atriz para
Frances Mcdormand. Antes desse, os irmãos já haviam dirigido o ótimo Gosto de
Sangue e deram continuidade a essa linguagem e estética bizarras nos filmes
subsequentes, todos ótimos: Barton Fink, Na Roda da Fortuna, O Grande Lebowski,
E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? e Onde os Fracos Não Têm Vez, além dos irregulares
O Amor Custa Caro, Queime Depois de Ler, Bravura Indômita e Um Homem Sério.
O curioso é que a série
apenas pega a premissa kafkiana dos diretores e o ambiente para contar uma nova
história: dessa vez, o encontro do vendedor de seguros Lester Nygaard (Martin
Freeman, ótimo) e o assassino Lorne Malvo em um hospital e um acordo de morte, termina
em uma espiral de brutalidade. Depois de anos sem fazer algo que preste no
cinema, Billy Bob Thornton tem aqui o papel da sua vida. Ele encarna Malvo com
uma frieza e um mau humor impressionantes, e mesmo com a aparência frágil, é a
encarnação do mal sempre que aparece em cena. O elenco inteiro é ótimo, com
destaques para Colin Hanks e Allison Tohman, como os dois únicos policiais
sensatos, apesar de medrosos, do local.
Cada episódio possui um
ritmo diferente e são bem dirigidos. As cenas da invasão de policiais em uma
casa e o “percurso” de um peixe do aquário até a mesa de mafiosos são puro
cinema e tem um plano sequência que acompanha, do lado de fora e pelas janelas,
o ataque a um prédio é Brian de Palma em estado bruto. Destaco apenas um problema na
história: todo o núcleo que envolve um dono de supermercado não acrescenta nada
à história principal e termina sem resolução, apesar de ser bem divertida. Quem
está atrás de uma boa série, depois do sucesso de Breaking Bad e True
Detective, vai encontrar uma boa opção em Fargo.
Livro
- Na próxima
quinta-feira, durante a abertura da Semana Nacional de Trânsito, no Hangar
Centro de Convenções, haverá o lançamento da coletânea literária Tudo Que Não
Foi, organizada pelo movimento Não Foi Acidente. A obra reúne textos de autores
do país inteiro acerca dos acidentes de trânsito. Entre os escritores
convidados do livro está o paraense Caco Ishak. O lançamento ocorrerá após a
palestra de abertura. Prestigiem.
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