quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Paul Verhoeven: o holandês maldito




 Há duas semanas, estreou a aguardada refilmagem de Robocop, dirigida pelo brasileiro José Padilha, e que vem dividindo as críticas pelo mundo. Tida como uma releitura do original, a obra do diretor de Tropa de Elite 1 e 2, adiciona novas camadas de leituras sociais à história do policial que é transformado em máquina. Mas, o que pouca gente sabe, é que o diretor do original é um holandês polêmico, que causou rebuliço por um tempo em Hollywood e que ainda hoje é venerado e odiado na mesma proporção: Paul Verhoeven.

Para se ter uma ideia de como Verhoeven é importante para a indústria cinematográfica, além de Robocop, outro filme seu já foi refilmado: O Vingador do Futuro (em 2011, obra fraca com Colin Farrel) e um novo Tropa Estelares (1997) vem aí. O que os três trabalhos têm em comum, além de serem ficções científicas famosas e cultuadas, é a assinatura do diretor: as tramas sempre trazem algum tipo de crítica social, exageros visuais e roteiros que beiram o deboche, mas que escapam disso justamente pelas duas primeiras características serem tão fortes nas suas películas.
Em Robocop, por exemplo, ele questiona o poder das multinacionais e da propaganda, além, claro, da violência urbana que envolve o Estado, a polícia e a sociedade, em um caldeirão sempre prestes a entornar (comparações com a situação atual do Brasil não são coincidências). O Vingador do Futuro evoca o domínio das corporações sobre a população e o meio ambiente, no caso aqui, o domínio sobre o ar de Marte. Já Tropas Estelares leva para o lado do pastiche o poder da mídia e aponta o dedo para a lavagem cerebral que a militarização pode levar, mesmo em meio a uma batalha com insetos gigantes.
Claro que não podemos deixar de citar sua obra mais conhecida: Instinto Selvagem (1992). Campeão de Bilheteria e ainda hoje lembrado como uma das famosas películas do cinema cult, ganhou fama e grande bilheteria pelas tórridas cenas de sexo entre os personagens de Michael Douglas e Sharon Stone, além da célebre sequência da cruzada de pernas hipnotizante da atriz. A história do detetive que se envolve com a principal suspeita de um assassinato pouco importa, não é? O diretor, obviamente, cometeu algumas bobagens, tipo o horroroso Showgirls (que causou polêmica na época de lançamento, em 1995, pela nudez e pela cena da Lap Dance, e ganhou diversos Framboesas de Ouro. O próprio Verhoeven foi receber o prêmio) e o Homem sem Sombra (thriller sem sal estrelado por Kevin Bacon baseado na obra O Homem Invisível, que estreou em 2000).
Seu último trabalho de visibilidade foi o elogiado suspense A Espiã, de 2006, que foi feito em seu país de origem. Mesmo longe de Hollywood hoje, Paul Verhoeven marcou seu nome na história do cinema pela maneira pouco convencional e polêmica que decide filmar.
 

(Coluna publicada no Diário do Pará de 06 de março de 2014, Caderno Você)

Nenhum comentário: