(Texto originalmente publicado na coluna do Diário do Pará do dia 09 de setembro de 2014 - Caderno Você)
Em 1895, os irmãos Auguste e
Louis Lumière fizeram a projeção em cinema da chegada de um trem na estação.
Foi o primeiro registro cinematográfico, mas também podemos dizer que ali era criado
o documentário inaugural da história. Afinal era um registro em movimento da
realidade. Com o passar do século seguinte e já no início deste, os
documentários ganharam em densidade e linguagem, deixando de ser um recorte do
real para se tornar uma reinterpretação pessoal do enfoque documental. Mas, os
diretores decidiram então que era preciso ir mais além, transcendendo a ilusão
do cotidiano sob os olhos da ficção. Surgiu o Mockumentary, que nada mais é que
um documentário falso, montado em uma estética metanarrativa para servir ao
roteiro.
Foi o que fez o diretor Rob
Reiner com This is Spinal Tap (1984). Reiner produziu outros sucessos
posteriormente, como Harry e Sally e Conta Comigo. Mas, nenhum foi tão
subversivo quanto esta história de uma banda decadente de rock que busca manter
o estrelato a qualquer custo. Tudo é contado como se estivéssemos diante de um
arquivo documental, onde o narrador e entrevistador é o próprio Reiner. Engraçado
e politicamente incorreto, é uma das melhores películas sobre música que já vi.
Sasha Baron Cohen faria algo parecido com Borat (2007), onde cria um repórter
louco que acaba se confrontando com muitas das hipocrisias do EUA. Essa maneira
de fazer comédia inspirou também algumas séries como Derek e The Office, ambas
criadas pelo humorista Ricky Gervais, e também Reno 911!, onde uma equipe de
filmagem acompanha o cotidiano de um departamento de polícia cheio de loucos.
Zelig, de Woody Allen vai mais
além. A obra mescla as cenas falsas com cinejornais do início do século
passado, onde a figura do personagem título se insere em uma montagem
excelente. Allen dá a vida a um personagem fascinante, que é capaz de se
transformar em qualquer pessoa, de qualquer nacionalidade ou cultura. Ao mesmo
tempo que desnuda essa personalidade camaleônica, ele joga em tela toda a
hipocrisia humana ao mudar sua natureza ao sabor do acaso.
Com
o terror Cannibal Holocaust, de 1980, outro subgênero de documentários
fictícios, só que voltado para filmes de horror, surgiu: o Found Footage,
que nada mais são que roteiros com enredos de “filmes perdidos”, encontrados
por um personagem. Desde a Bruxa de Blair (Blair Witch Project, 1999), o
formato ficou famoso. Dois diretores pegaram alguns atores desconhecidos, uma
câmera caseira e filmaram na floresta uma história prosaica, mas que se apoiou
em um murmurinho do início da internet, somada a boatos que seriam filmagens
reais e, pronto. Estava criada uma nova receita para encher os cofres dos
estúdios: Filmes baratos, simples, mas com gorda bilheteria garantida.
Daí, surgiram vários exemplares de filmes perdidos para todos os
gostos: REC (REC, 2007), com zumbis; Cloverfield (Idem, 2008), sobre um monstro
gigante; e o fenômeno Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007) e suas
intermináveis continuações, que continuam dando fôlego a esse tipo de filme e
indicam que a febre de cinema apoiado em “filmagens caseiras” não irá passar
tão cedo.

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