(Texto originalmente publicado no Diário do Pará, Caderno Você, coluna #DiárioCultural de 02/12/2014)
Na última sexta-feira, 28 de novembro, foi lançado o primeiro teaser trailer do próximo filme da nova trilogia de Star Wars, chamado O Despertar da Força. Algumas imagens aleatórias, vislumbres dos sabres de luz, das naves, robôs e personagens, além da trilha marcante de John Williams. Bem, foi o suficiente para acender a empolgação dos fanáticos e dos cinéfilos em geral. Nesse meio tempo, já surgiram diversas teorias sobre a história na internet, além de outros vídeos que pegaram fragmentos do teaser e foram reconstruídos pelos fãs.
Esse burburinho recente causado pela saga de George Lucas é só um fragmento de como que a participação dos chamados “consumidores de mídia” é cada vez mais importante para que determinada obra ou manifestação sobreviva em um mundo virtual repleto de opções. Eles estão ali para criticar em tempo real, dar idéias, criar suas próprias teorias e compartilhar suas opiniões em comunidades fechadas de conhecimento (fóruns, chats, murais, comunidades de redes sociais, etc.). Se na maioria das vezes, esse conhecimento fica fechado entre “membros”, outras esse movimento extrapola o próprio circuito e ganha vida própria. A própria Lucas Arts (de George Lucas), já incentivou e promoveu concursos de melhores histórias de fãs. Algumas viraram curtas metragens disponíveis no Youtube, com qualidade impressionante.
É o que Henry Jenkins, no livro Cultura de Convergência, chama de cultura participativa, baseada em convergênciasaceitas em diferentes meios, onde fragmentos de informações extraídos dos fluxos midiáticos são readaptados para se criar mitologias pessoais ou coletivas. Não é um fenômeno novo. Star Trek, por exemplo, já gerou inúmeros encontros de fãs, que até hoje adotam vestes, gestos e línguas daquele universo espacial. Mas, este ganhou musculatura com a internet. De Matrix a Lost, os produtores aproveitaram muito bem esse fluxo alternativo de informação para expandir suas mitologias. Os irmãos Wachowski, por exemplo, deram apoio a quadrinhos e desenhos animados feitos por artistas fãs, que reinterpretaram aquele mundo e fizeram coisas novas. Outros bons exemplos são os adoradores de sagas como Harry Potter, Game of Thrones e The Walking Dead. São milhares, que adoram, mas criticam na mesma proporção, gerando um tsunami de opiniões.
Muitos, ao invés de se restringir a emitir opiniões, passam à criação. Em 2010, Kevin Tancharoen criou pequenos curtas baseados no universo do game Mortal Kombat. O resultado foi tão profissional que a própria Warner Bros o contratou para fazer uma série oficial online chamada Legacy. O produto final não é tão bom, mas este é um excelente exemplo do universo de possibilidades que os chamados Fanfics (histórias originais criadas por fãs) abrem.
Ainda mais em um período completamente interativo como hoje, onde smartphones, tablets e ambientes de nuvens deram o poder para os indíviduos no fascinante ambiente de massa que é a internet. Por isso, sejam criadores games, livros, séries, filmes e música, só irá sobreviver e crescer nesse ambiente quem souber dar olhos e ouvidos para esse mercado participativo. Ou então, não gerará um mínimo caractere no Twitter.
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