quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Não há como escapar do mestre Babadook



Em um primeiro momento, The Babadook pode ser confundido com alguns dos filmes alternativos que pipocam aos montes todos os anos nos festivais. Narrativas simples, montagem que alterna entre planos longos e rápidos, planos fechados em pequenos objetos ou gestos do cotidiano. Há também um plano magnífico que acompanha a personagem principal em queda até a cama, despertando de um sonho. Aos poucos e durante longos minutos, descobrimos que esta, Amelia (vivida pela veterana atriz Essie Davis, de Matrix Reloaded), é mãe solteira, após a morte trágica do marido em um acidente de carro. Ela vive reclusa com o filho. Ambos possuem aparências frágeis e parecem doentes. Mas, então percebemos que o que estamos vendo é na verdade uma das experiências mais angustiantes em um filme de terror nos últimos anos.
Toda essa construção narrativa é importante para o que acontece em seguida. A partir do momento em que esta escolhe um livro aleatório para ler ao garoto e fazê-lo dormir, o filme ganha contornos assustadores. A produção australiana tem alguns problemas, principalmente no terço final. A edição fica confusa, deixando o espectador meio perdido e o final é fraco e sem sentido, por apelar para uma surpresa desnecessária e um humor deslocado. Mas vale a experiência da atmosfera criada pela diretora Jennifer Kent, que se mostrou uma estreante talentosa.
A maior qualidade do filme é conseguir manter o monstro apenas sugerido a maior parte da trama. Muitas vezes, não sabemos se ele está realmente se manifestando ou faz parte de alguma alucinação. Nesse sentido, o design de produção é importante, pois é capaz de transformar qualquer sombra em uma ameaça e renovar o conceito clássico do Bicho-Papão. A trilha sonora é simples, mas eficiente. Outro ponto positivo da história é manter o foco apenas nos dois personagens de mãe e filho. Em alguns momentos, realmente tememos pela vida do pequeno, mas é melhor não contar mais para não estragar a experiência psicológica que é assistir ao filme.
Com o bom material em mãos, a diretora mostra claramente as influências da película. Primeiro, possui elementos narrativos de O Iluminado, como o fato de o protagonista ser uma criança e não ficar definido se as manifestações sobrenaturais são reais ou não. Kent consegue até subverter clichês do gênero, como no momento em que determinados personagens aparecem. Em outras produções, suas mortes seriam usados como muletas narrativas, mas aqui não. A obra também tem muitas similaridades com Poltergeist, O Chamado e até de A Entidade (para mim, o melhor filme de terror do ano passado).
Com poucos recursos e um elenco praticamente desconhecido, The Babadook consegue ser mais aterrorizante que outros filmes feitos para terem sucesso, como o fraco Annabelle. Isso graças ao talento da diretora e da história. O veterano diretor William Friedkin (O Exorcista) disse que é “o filme mais assustador que já viu”. O elogio é exagerado, mas com certeza, é a melhor obra de horror do ano. O  E como o próprio livro amaldiçoado diz: “Você não pode fugir do mestre Babadook”, principalmente após assistir a este exemplar da sétima arte.

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