(artigo originalmente publicado na coluna #DiárioCultural do Diário do Pará, caderno Você de 18/11/2014)
Este artigo contém
alguns pequenos spoilers da temporada final de Boardwalk Empire.
O grande problema das séries de televisão é conseguir manter
a regularidade da história em uma temporada ou várias temporadas inteiras. No
cinema, por exemplo, você tem algumas horas para contar as histórias. Na TV, as
produções exigem toda a calma (ou pressa) necessária para fechar suas
mitologias. Muitas não conseguem, pois a indústria é cruel com fracassos, e são
canceladas abruptamente, sem final. Outras mantêm certo nível de qualidade em
seus roteiros e a coerência com sua narrativa.
Mas, algumas séries se perdem
pelo caminho e o conceito original se desmancha no ar. Foi o caso de Dexter,
que trocou de produtores e assassinou sua reputação depois da quarta temporada.
Durou mais quatro, quando não poderia. Ou de Homeland, que permanece no ar como
uma nulidade após quatro anos, após prometer muito nos seus primeiros
episódios. A trama tensa de gato e rato deu lugar a um amor louco e sem muito sentido.
O que nos trouxe até Boardwalk
Empire. Na estreia, a série chamou a
atenção para os nomes dos envolvidos: o criador era Terrence Winter, roteirista
conhecido por The Sopranos, além de trazer outros escritores e diretores da
premiada série também da HBO, como Tim Van Patten. A produção executiva foi do
ator Mark Wahlberg e de Martin Scorsese, que dispensa apresentações. E a trama
trazia para os telespectadores o jogo de interesses entre mafiosos e políticos
durante a lei seca americana. Sem contar, o talento de Steve Buscemi como o
protagonista Nucky Thompson.
Mas, o encanto com a história
durou apenas duas temporadas. Apesar de alguns núcleos dispensáveis, a trama
era bem amarrada e com boas reviravoltas. O problema veio com a morte de um
personagem importante naquele segundo ano. Parece que os roteiristas se
perderam completamente. Em seguida, tivemos dois anos regulares, até chegar a
este fatídico quinto ano, finalizado há duas semanas.
O que se viu foi uma sequência de
tramas desinteressantes e desperdício de um elenco grandioso, com destaques
para Michael K. Williams (cujo personagem Chalky nem deveria ter voltado para a
série), Jeffrey Wright (que aparece alguns minutos apenas nos oitos episódios)
e Michael Shannon. Shannon , aliás, foi o mais prejudicado. Seu Nelson passou
de um obstinado e louco agente da lei seca para um mafioso patético e burro.
É inaceitável ainda que você
tenha Al Capone e Eliott Ness no seu elenco e não consiga explorá-los
decentemente. Capone prometia muito desde o início, mas virou uma figura sem
noção, que só fazia gritar, gesticular muito e ameaçar capangas quando
aparecia. Nada daquele que se transformou em um dos maiores criminosos do mundo
. Já Ness participou de duas únicas cenas aqui. Se quiser saber quem são eles vá
assistir o clássico Os Intocáveis, de Brian de Palma. Nem a ascensão no
submundo de Charlie “Lucky” Luciano foi bem contada.
Outros personagens como a
prostitura Gillian, o chefe da máfia Rothstein e o assassino sem rosto Richard
Harrow (vivido pelo ator Jack Huston, sobrinho de Anjelica Huston e neto do
grande diretor John Huston) tiveram plots desperdiçados e acabaram mortos ou
esquecido, apesar de prometerem bem mais.
No fim, só sobrou mesmo Steve
Buscemi, que carregou a trama nas costas e deu dignidade ao anti-herói
principal, Nucky Thompson. Buscemi já era um ator conhecido por filmes como
Fargo e Armageddon, mas aqui ele teve o melhor papel da carreira e conseguiu transformar
um poderoso e amargurado empresário do crime em uma figura tridimensional.
Muito pouco para uma série que prometia ser a sucessora natural da história da família
Soprano na HBO. Fica para a próxima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário