Facões e motosserras desmembrando várias partes do corpo humano, um livro maldito que ressuscita os mortos e os mais escabrosos pesadelos. Adicionem a essa sangrenta salada uns adolescentes idiotas, piadas sobre sexo e um fiapo de roteiro. Pronto. Está armado o cenário perfeito para o embate entre três dos maiores ícones do cinema de horror: Freddy Krueger, Jason Voorhees e Ash Williams. Imaginado originalmente como a continuação do filme que reunia os dois clássicos assassinos, a ideia, que inseria na trama o célebre protagonista de “Evil Dead”, não foi levada adiante por nenhum estúdio hollywoodiano e acabou por ganhar vida nas páginas dos quadrinhos.
Lançada em seis edições entre 2007 e 2008, a minissérie “Freddy vs. Jason vs. Ash”, escrita por James Kuhoric, com arte de Jason Craig e capas de J. Scott Campbell e Eric Powell, ainda não chegou ao Brasil, mas está disponível para download em alguns sites e blogs em uma versão traduzida (porcamente, diga-se, mas vale a pena mesmo assim). A história se passa cinco anos depois dos eventos do filme. Freddy sobrevive apenas dentro do subconsciente de Jason e pretende usar o Necronomicon, o livro dos mortos, para ter passe livre entre o mundo real e o dos sonhos. No meio disso, Ash é transferido no seu trabalho para Cristal Lake e começa a combater os vilões.
Existe um fato curioso que só quem é fanático pelas séries no cinema vai perceber. Afinal, por que diabos o Necronomicon está escondido na antiga casa de Jason? Puro oportunismo para unir os universos de cada personagem, pensarão alguns. Mas, puxando pela memória, no sexto filme de “Sexta-Feira 13” é feita uma referência ao livro que inferniza a vida de Ash. Embora explicada, a maneira como essa conexão é realizada soa como uma forçada de barra. Assim como muitos outros aspectos da minissérie. Em um dado momento, é nítido que o roteirista não sabia mais o que fazer para prolongar a narrativa e utiliza exatamente o mesmo recurso três vezes consecutivas.
O bom é que em um projeto trash sempre tem um detalhe que salva a pátria. Nesse caso, é a autoparódia. O fato de podermos rir de tudo o que já foi produzido antes faz com que a minissérie respire. Nesse ponto, a introdução é um primor. Os sobreviventes de “Freddy vs. Jason” retornam ao lugar onde quase foram mortos para... Serem mortos. E tudo fica ainda mais hilário com a narração em off, mostrando que a linha que separa o surreal da completa estupidez é muito tênue e que a opção da maioria dos roteiros pela segunda é frequente no gênero, além de, o que é pior, bem aceita por todos.
Quanto aos desenhos, um detalhe interessante: foi mantida a concepção de um Jason aterrorizante e um Freddy caricaturado. Isso é muito bem explorado, de uma forma que só nos quadrinhos se poderia criar. As lutas também são executadas com maestria, nada extravagante ou que nos deixe confusos sobre o que está acontecendo. Temos a noção exata do que está sendo mutilado e com o quê. Enfim, é um trabalho interessante, que tem seus defeitos, mas resgata nostalgicamente a trajetória dos três personagens, na base de sexo e violência. Só senti falta daquele cigarrinho de maconha nas mãos dos coadjuvantes fadados a morrer. Aí sim, a “viagem” estaria completa.
Texto publicado no Caderno Por Aí desta sexta, dia 19
Confiram aí essa animação legalzinha:
E vocês podem fazer o download da HQ aqui
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