segunda-feira, 30 de maio de 2016

Terror expandido



O trailer pode até enganar mostrando uma ficção científica de ação, mas Rua Cloverfield 10 é, na verdade, um thriller psicológico. E dos mais eficientes. Primeiro, porque se apoia em um desafio, que é manter o interesse do público sendo um filme de câmara (que se passa em um único ambiente, como já expliquei em artigo anterior). E isso sem apelar para a enrolação. O roteiro é simples, mas eficiente.
A produção se aproxima bastante de outro filme: Possuídos (de William Friedkin, de O Exorcista). As duas obras se desenrolam em um único cenário e têm um personagem que envolve os demais em um aterrorizante jogo psicológico. Mas, o filme do estreante Dan Trachtenberg tem algumas vantagens. A primeira é saber criar tensão diante de uma ameaça que permanece boa parte do tempo invisível.
A sacada genial é situar a trama na mesma realidade do blockbuster Cloverfield (2008), que mostrou uma invasão alienígena em Found Footage. Compreendendo que realmente houve a destruição do mundo lá fora, os riscos para os personagens são reais. Por outro lado, há medos frequentes ali dentro também.  E o espectador acaba entrando no clima de claustrofobia graças ao excelente design de produção, que torna um bunker um ambiente acolhedor, mas ao mesmo tempo opressor como uma prisão. A trilha reforça bem a atmosfera de tensão crescente, até atingir seu clímax no ato final da história.
 Mas a narrativa não funcionaria com um elenco ruim. Aqui, o trio principal consegue segurar o filme inteiro com competência. John Gallagher jr. Faz um personagem ignorante, mas de bom coração, que só encontra violência na vida. Já a bela Mary Elizabeth Winstead segura uma personagem decidida e inteligente, capaz de avaliar cenários e tomar decisões frias, mesmo em uma situação de extrema adversidade. E representa algo já corriqueiro na filmografia do produtor J.J. Abrams: mulheres fortes como protagonistas, já mostrado em Star Wars – O Despertar da Força.  
Entretanto, boa parte da força da produção reside na participação, sempre competente aliás, de John Goodman. O astro está se especializando em criar tipos bonachões, aparentemente bem intencionados, porém completamente dominados por uma instabilidade psicológica. É só lembrar de Sobchak em O Grande Lebowski. Em Rua Cloverfield, ele é capaz de criar temor apenas com o olhar ou pequenos gestos, como mexer a barba. Suas expressões faciais anteveem seus atos e é incrível acompanhar sua transformação. Em um mundo justo, Goodman seria lembrado em algumas das premiações anuais do cinema americano.
Rua Cloverfield 10 é um bom início de carreira para Trachtenberg e uma boa surpresa em uma safra de poucos filmes de grande bilheteria realmente bons, provando que é possível fazer muito com orçamentos diminutos, mas grandes ideias.

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