O trailer pode até enganar
mostrando uma ficção científica de ação, mas Rua Cloverfield 10 é, na verdade,
um thriller psicológico. E dos mais eficientes. Primeiro, porque se apoia em um
desafio, que é manter o interesse do público sendo um filme de câmara (que se
passa em um único ambiente, como já expliquei em artigo anterior). E isso sem
apelar para a enrolação. O roteiro é simples, mas eficiente.
A produção se aproxima bastante
de outro filme: Possuídos (de William Friedkin, de O Exorcista). As duas obras se
desenrolam em um único cenário e têm um personagem que envolve os demais em um
aterrorizante jogo psicológico. Mas, o filme do estreante Dan Trachtenberg tem
algumas vantagens. A primeira é saber criar tensão diante de uma ameaça que
permanece boa parte do tempo invisível.
A sacada genial é situar a trama
na mesma realidade do blockbuster Cloverfield (2008), que mostrou uma invasão
alienígena em Found Footage. Compreendendo que realmente houve a destruição do
mundo lá fora, os riscos para os personagens são reais. Por outro lado, há
medos frequentes ali dentro também. E o
espectador acaba entrando no clima de claustrofobia graças ao excelente design
de produção, que torna um bunker um ambiente acolhedor, mas ao mesmo tempo
opressor como uma prisão. A trilha reforça bem a atmosfera de tensão crescente,
até atingir seu clímax no ato final da história.
Mas a narrativa não funcionaria com um elenco
ruim. Aqui, o trio principal consegue segurar o filme inteiro com competência. John
Gallagher jr. Faz um personagem ignorante, mas de bom coração, que só encontra
violência na vida. Já a bela Mary Elizabeth Winstead segura uma personagem decidida
e inteligente, capaz de avaliar cenários e tomar decisões frias, mesmo em uma
situação de extrema adversidade. E representa algo já corriqueiro na
filmografia do produtor J.J. Abrams: mulheres fortes como protagonistas, já
mostrado em Star Wars – O Despertar da Força.
Entretanto, boa parte da força da
produção reside na participação, sempre competente aliás, de John Goodman. O
astro está se especializando em criar tipos bonachões, aparentemente bem
intencionados, porém completamente dominados por uma instabilidade psicológica.
É só lembrar de Sobchak em O Grande Lebowski. Em Rua Cloverfield, ele é capaz
de criar temor apenas com o olhar ou pequenos gestos, como mexer a barba. Suas expressões
faciais anteveem seus atos e é incrível acompanhar sua transformação. Em um
mundo justo, Goodman seria lembrado em algumas das premiações anuais do cinema
americano.
Rua Cloverfield 10 é um bom início de carreira para
Trachtenberg e uma boa surpresa em uma safra de poucos filmes de grande
bilheteria realmente bons, provando que é possível fazer muito com orçamentos
diminutos, mas grandes ideias.
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