segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Criador e Criatura


Quando Star Wars – O Despertar da Força estrear nesta quinta-feira, 17 de dezembro, milhares de pessoas já terão comprado seus ingressos antecipados, tornando o 7º filme da mitologia um fenômeno de bilheteria antecipado. E basta uma volta pelas ruas, para ver a convulsão cultural provocada pela franquia em todo o mundo. Em toda a parte, há algum produto sendo vendido com elementos da valiosa marca, com autorização da marca ou não: de shampoos infantis a canecas de cerveja. E a Lucas Films, produtora que gerencia os produtos SW criada por George Lucas, arrecadou, arrecada e arrecadará bilhões de dólares com licenciamentos, séries, jogos (alguns excelentes) hqs e livros.
Todo esse hype se justifica por méritos do próprio diretor, um visionário. Você pode discutir a qualidade intelectual do produto, mas não o senso de oportunidade de Lucas. Em uma década onde o cinema primava pelo realismo na direção e roteiros e diretores do nível de Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Sam Peckimpah dominavam as premiações e corações dos cinéfilos, havia um rapaz franzino e barbudo que preferiu explorar outras frentes, com a ficção científica experimental (o razoável THX-1138, 1971) e a comédia juvenil (Loucuras de Verão – American Graffiti), seu primeiro sucesso, lançado em 1973.
 Mas, o maior arrasa-quarteirão do cinema chegou às salas de cinema  4 anos depois: Star Wars – Uma Nova Esperança era um sci-fi barato e inocente, apesar da estética suja do deserto. Trazendo inovações do campo dos efeitos especiais, o filme chamou a atenção principalmente por resgatar a magia dos seriados americanos que precediam os filmes nas décadas de 1950 e 1960 (Perdidos no Espaço e Flash Gordon, por exemplo), adicionando elementos de Film Noir e Westerns. Tudo cercado por uma ingenuidade típica das histórias em quadrinhos da era de ouro das hqs, quando o maniqueísmo entre vilões e heróis era bem construído em caráter e figurino. Por isso os heróis são “cavaleiros” e os vilões são seres obscuros e apavorantes.
O único senão dessa história é algo que Coppola lamentou em entrevista há alguns dias: Lucas, infelizmente ficou preso no labirinto da sua própria criação, como um Frankenstein moderno admirado e assustado com a proporção que o seu monstro, no caso o seu filme, adquiriu. Uma pena, pois ele poderia ter contribuído muito mais para o cinema de autor. Mesmo assim, deixou sua marca produzindo e roteirizando grandes produções como a série Indiana Jones. E a Disney tenta, agora, desvincular a saga do seu criador, dando uma nova chance para o novo midas de Hollywood, J.J. Abrams. Vamos ver se Abrams fará jus ao cara que deu luz ao maior ícone do cinema Blockbuster: o vilão Darth Vader.  A conferir, afinal, o ingresso já está comprado há algumas semanas.

Um comentário:

Marcus Pessoa disse...

George Lucas só deu uma contribuição ao cinema de autor: produziu o belíssimo filme de seu amigo Paul Schrader, "Mishima, uma vida em quatro capítulos". De resto, está totalmente certo o Coppola. O livro "Easy Riders, Raging Bulls", aliás, conta que Lucas e Spielber, apesar de andarem com os doidões (Coppola, Scorcese, etc), eram os caretas da turma.