segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Os melhores de 2015

Vamos para aquela lista marota de melhores do ano? Vamos:



- Mad Max/ A Estrada da Fúria – George Miller
- Que Horas Ela Volta? – Anna Mulayert
- Divertidamente – Peter Docter e Ronaldo Del Carmen
- Ida - Paweł Pawlikowski
- Birdman - Alejandro González Iñárritu
- A Corrente do Mal – David Robert Mitchell
- Sangue Azul – Lírio Ferreira
- Star Wars – O Despertar da Força – JJ Abrams
- A Gangue - Myroslav Slaboshpytskiy
- A Pele de Vênus – Roman Polanski


O melhor do Netflix – Beast of No Nation – Cary Fukunaga
Achei bem marromenos: Whiplash – Damien Chazelle
Blockbuster do ano: Mad Max – George Miller
Não esperava nada e gostei: Homem-Formiga – Peyton Reed
Esperava muito e decepcionei: John Morre no Final – Don Coscarelli
Vou Ficar devendo: Leviatã, o Expresso do Amanhã, Straight Outta Compton, Jurassic World, 45 anos e Vicio Inerente.

Diretor: George Miller
Roteiro: A Corrente do Mal
Ator: Michael Keaton – Birdman
Atriz – Regina Casé – Que Horas Ela Volta?
Série do Ano: The Knick
Roteiro: Sense 8
Atriz: Kristen Ritter – Jessica Jones
Ator: David Tennant – Jessica Jones
Clive Owen – The Knick
Não esperava nada e gostei : Magnifica 70
Larguei de mão: Game of Thrones
Abusando da minha paciência: The Walking Dead

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Um novo Star Wars para a nova geração



Há duas maneiras de se apreciar Star Wars – O Despertar da Força. Ambas são a “força” do filme, mas também seu “lado negro”. Quem já é familiarizado com o cânone da saga, vai adorar ver como J.J. Abrams é 100% fiel ao estilo de George Lucas nos filmes originais. Mas também irá perceber que essa mesma reverência é o elo fraco dessa reconstrução: A história lembra demais Uma Nova Esperança, até na distribuição dos arquétipos pela narrativa. Abrams não se pauta pela novidade, mas pela reconstrução semiótica do que já é consagrado.
Não é a toa que o diretor também escreve a obra junto ao veterano Lawrence Kasdan, responsável pelos dois melhores filmes da trilogia original (O Império Contra-Ataca e o Retorno do Jedi). Outro grande mérito aqui é praticamente esquecer a segunda trilogia de Lucas (A Ameaça Fantasma, O Ataque dos Clones e a Vingança dos Siths). Nada daqueles exageros de cores, efeitos visuais forçados e diálogos ruins.
Claro que há aqueles que nunca viram nenhuma película ou não sabem nada da mitologia. Este irão adorar o clima de sci-fi antigo e quadrinhos. Há fantasia, ação, suspense, romance e comédia. Tudo bem equilibrado pelo roteiro, sem excessos. A reapresentação dos personagens já conhecidos é equilibrada. O maior defeito, aqui, também é o respeito ao material original, que pode deixar o espectador boiando em alguns momentos ou não entendendo referências (há algumas boas, fora da saga, como Apocalipse Now).
Os principais méritos estão, é claro, na parte técnica e no elenco. É um filme bonito, bem fotografado, com um design de produção fantástico e efeitos visuais mais práticos,  com um bem vindo retorno ao original, com cenários reais e personagens animatrônicos, deixando o CGI apenas para as cenas espaciais ou de naves. O design de som é maravilhoso e Bem Burtt prova que é o mestre em dar personalidades para robôs só com sons eletrônicos.
Quanto aos atores, Daisy Ridler e John Boyega são gratas surpresas. A primeira consegue transformar a protagonista Rey em uma personagem forte e decidida, mesmo em um ambiente hostil. Já Boyega é Finn, um humano medroso e engraçado, mas sem exageros. Oscar Issacs também é destaque com o corajoso piloto Poe Dameron. Uma mulher, um negro e um latino como protagonista são algumas das escolhas acertadas de J.J, que não dá escala de importância para o elenco por etnia ou gênero. Pensem na importância disso ao imaginar a cabeça de uma criança ao ver seus heróis imaginados dentro de sua própria representação social. E tem uma participação especial de Max Von Sydow, que dispensa comentários.
E não posso deixar de terminar esse texto sem falar dos nossos “amigos” de outras décadas: Han Solo, Leia e Luke Skywalker são importantes para a nova trama e um deleite para os fãs quando aparecem. É fácil abrir um sorriso quando Harrison Ford, Carrie Fisher e Mark Hamill aparecem em momentos diferentes e belas cenas. Se você é um fanático por essa batalha nas estrelas, prepare o lenço que há algumas bem emocionantes. Quem venha os próximos episódios e seus derivados. E que força esteja no nosso bolso para dar conta disso.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Criador e Criatura


Quando Star Wars – O Despertar da Força estrear nesta quinta-feira, 17 de dezembro, milhares de pessoas já terão comprado seus ingressos antecipados, tornando o 7º filme da mitologia um fenômeno de bilheteria antecipado. E basta uma volta pelas ruas, para ver a convulsão cultural provocada pela franquia em todo o mundo. Em toda a parte, há algum produto sendo vendido com elementos da valiosa marca, com autorização da marca ou não: de shampoos infantis a canecas de cerveja. E a Lucas Films, produtora que gerencia os produtos SW criada por George Lucas, arrecadou, arrecada e arrecadará bilhões de dólares com licenciamentos, séries, jogos (alguns excelentes) hqs e livros.
Todo esse hype se justifica por méritos do próprio diretor, um visionário. Você pode discutir a qualidade intelectual do produto, mas não o senso de oportunidade de Lucas. Em uma década onde o cinema primava pelo realismo na direção e roteiros e diretores do nível de Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Sam Peckimpah dominavam as premiações e corações dos cinéfilos, havia um rapaz franzino e barbudo que preferiu explorar outras frentes, com a ficção científica experimental (o razoável THX-1138, 1971) e a comédia juvenil (Loucuras de Verão – American Graffiti), seu primeiro sucesso, lançado em 1973.
 Mas, o maior arrasa-quarteirão do cinema chegou às salas de cinema  4 anos depois: Star Wars – Uma Nova Esperança era um sci-fi barato e inocente, apesar da estética suja do deserto. Trazendo inovações do campo dos efeitos especiais, o filme chamou a atenção principalmente por resgatar a magia dos seriados americanos que precediam os filmes nas décadas de 1950 e 1960 (Perdidos no Espaço e Flash Gordon, por exemplo), adicionando elementos de Film Noir e Westerns. Tudo cercado por uma ingenuidade típica das histórias em quadrinhos da era de ouro das hqs, quando o maniqueísmo entre vilões e heróis era bem construído em caráter e figurino. Por isso os heróis são “cavaleiros” e os vilões são seres obscuros e apavorantes.
O único senão dessa história é algo que Coppola lamentou em entrevista há alguns dias: Lucas, infelizmente ficou preso no labirinto da sua própria criação, como um Frankenstein moderno admirado e assustado com a proporção que o seu monstro, no caso o seu filme, adquiriu. Uma pena, pois ele poderia ter contribuído muito mais para o cinema de autor. Mesmo assim, deixou sua marca produzindo e roteirizando grandes produções como a série Indiana Jones. E a Disney tenta, agora, desvincular a saga do seu criador, dando uma nova chance para o novo midas de Hollywood, J.J. Abrams. Vamos ver se Abrams fará jus ao cara que deu luz ao maior ícone do cinema Blockbuster: o vilão Darth Vader.  A conferir, afinal, o ingresso já está comprado há algumas semanas.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Que Horas ela volta (2015)



Provavelmente fui uma das últimas pessoas a ver Que Horas Ela Volta (2015), quando o filme já possuía todo o respeito diante da crítica e público. A curiosidade só aumentou quando a obra foi a indicada brasileira ao Oscar de 2016, já que o representante do Brasil deste ano, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, apesar de não ficar entre os finalistas, é excelente e um dos melhores de 2014.
E a obra dirigida e roteirizada por Anna Muylaert merece todas as loas e o hype criado em cima desta. É um filme bem dirigido, enquadrado e que se beneficia naturalmente das pequenas mise-em-scènes que a diretora cria nos ambientes da casa da família de classe onde mora (sobrevive?) a doméstica nordestina Val. Tida como “quase da família”, ela encara pequenas humilhações diárias como algo natural, em prol do amor que tem por aquelas pessoas.
A fotografia, ótima, consegue transformar o quase único cenário da narrativa, a residência dos patrões, em um ambiente dúbio: há momentos que o local é acolhedor e iluminado e em outros, se torna escuro e opressor, como a mão pesada que o sistema social trata a relação entre empregado e empregador.  No caso específico da obra de Muylaert, é esfregado no nosso rosto como o dinheiro é divisor de castas no Brasil. E como pessoas são vistas como subespécies, que servem apenas para limpar ou servir gente que é incapaz de levantar de um sofá para pegar um sorvete na geladeira ou até mesmo um copo d’água, enquanto está com a cara enfurnada no celular.
É um choque de gerações (principalmente entre os dois adolescentes: um tem tudo, a outra tem que lutar pelos seus ideais, mesmo diante de muitos obstáculos pela frente). O final é poético e desconstrói o início da trama, quando Val deixa de cuidar da própria filha, para “educar” o filho daqueles que acham que o dinheiro é capaz até de comprar amor e respeito. Não vou dar spoiler, mas se vocês entenderem essa “ponte” narrativa, entenderão como a história é ótima em vários pontos de vistas.  
E quanto à falada atuação de Regina Casé, todas as críticas positivas se justificam: a sua Val é cheia de virtudes e maneirismos típicos que você esquece que quem está ali é uma apresentadora de televisão. Nos pequenos gestos, na fala contida, no conformismo do olhar ou nos diálogos improvisados estão os seus valores como atriz. Se o Oscar fosse um prêmio justo, Casé merecia uma indicação. Seu trabalho é primoroso e um dos melhores que já vi no cinema brasileiro. Destaque também para Carmila Márdila, como Jéssica, rebelde e questionadora, como os jovens devem ser. E para o quadrinhista e escritor Lourenço Mutarelli, como o conformado Carlos.
Desde já estou torcendo que a película fique entre os finalistas do Oscar: Muylaert e Regina Casé merecem ser reconhecidas mundialmente por este grande filme.