segunda-feira, 25 de maio de 2015

Ato em defesa da Cultura Paraense


Após a ocupação artística do abandonado Solar da Beira, que escancarou a falta de compromisso da prefeitura de Belém com a produção e difusão cultural, um grupo de artistas, produtores, agentes e fazedores culturais criou o coletivo Produtores e Artistas Associados. E na próxima sexta-feira, 29, eles farão um ato em frente ao Theatro da Paz para discutir a implantação de políticas culturais, além da revitalização e ocupação de espaços públicos. A ação começa às 19h e, claro, terá show de vários artistas que aderiram à ideia. Todo apoio ao movimento, e que outras iniciativas importantes para Belém e todo o Estado floresçam por aqui.

O uso de narrativas em jogos de videogames





(Texto Originalmente publicado na coluna Diário Cultural do Caderno Você, jornal Diário do Pará, de 25/05/2015)

Eu confesso que faz algum tempo que não jogo videogame a sério. Meu último console era um Playstation 2. De vez em quando, arriscava alguns jogos casualmente no Super Nintendo (que ainda guardo com carinho) ou me divertia com o Mário Kart no Wii do meu filho. Antes disso, fui uma das milhares de crianças que se encantou com o Atari na década de 1980 e com os jogos de plataforma do Snes, onde perdi horas e horas para conseguir “zerar” (chegar ao fim, segundo os gamers) os jogos.
Alguns meses atrás, entrei na “nova geração” dos gamers com o Xbox 360. Tive uma experiência inicial impactante e divertida com a série Gears of War e com Street Fighter 4. Entretanto, há semanas que só tenho olhos para outro jogo: Red Dead Redemption, que foi lançado em 2010. O que me chamou a atenção na “obra” da empresa Rockstar, além do vasto mundo aberto com infinitas possibilidades de exploração, foi sua capacidade de extrapolar o limite dos bites dos consoles e se transformar em uma experiência quase cinematográfica.
Red Dead é um western Spaghetti da melhor qualidade, com todo o charme que os clássicos bangue-bangue americanos e italianos possuíam. A trilha sonora parece ter sido feita por Mario Monicelli e John Marston ficaria perfeito interpretado por Clint Eastwood ou James Coburn. Os personagens são complexos e carismáticos e a trama possui uma sensibilidade narrativa indo da aventura ao suspense e com doses certas de drama. Ou seja, todos os ingredientes dos faroestes de Sergio Leone e Lucio Fulci.
Os jogos de videogames hoje não são apenas passatempos com boas mecânicas, gráficos e jogabilidade e, sim, plataformas para o desenvolvimento de narrativas fascinantes e absurdamente cinematográficas. Além do já citado Gears of War, existe uma infinidade de jogos-filmes espalhados pelos principais consoles, como Last of Us (considerado por muitos aquele com a melhor história), Halo (com milhões de jogadores fiéis), Elder Scrolls Skyrim (com uma exploração gigantesca) e Bioshock Infinite (um suspense montado em um cenário steampunk). Cada movimento ou sequência de botões usados são articulados para nos importamos com o que ocorre na tela. A maioria possui histórias originais, mas têm as adaptações que fazem jus aos originais, como The Walking Dead (jogo dividido em capítulos e temporadas).

segunda-feira, 18 de maio de 2015

As mulheres e seu papel no cinema


(Texto originalmente publicado na coluna Diário Cultural, do Diário do Pará, caderno Você, edição de 18/05/2015)

Por incrível que pareça, existe uma associação nos EUA “em defesa dos homens”, onde ativistas estão tentando promover um boicote contra o filme “Mad Max: Estrada da Fúria”. Eles reclamam que a produção é “feminista demais”, por causa da importância da personagem de Charlize Theron para a trama. Será que George Miller esperava essa repercussão do seu trabalho 36 anos após apresentar ao mundo a primeira aventura de Max em um mundo pós-apocalíptico?
O estranho mesmo é a polêmica aparecer assim, em meio a tantas transformações sociais e conquistas das mulheres no combate ao machismo e à misoginia. Apesar do cinema ainda ser um território essencialmente machista, devido em parte à predominância de executivos, produtores, roteirista e diretores homens, essa realidade vem mudando bastante. Existe até um conceito chamado Teste de Bechdel, criado pela cartunista norte-americana Alison Bechdel, que estabelece critérios sobre participação feminina no cinema, como se a produção tem no mínimo duas mulheres como personagens creditadas, que haja diálogos entre elas e que esses diálogos não se resumam a falar sobre homens.
Bem, uma das primeiras películas de ação que consigo lembrar a passar no teste é a franquia “Alien”. Por trás da história de sobrevivência da tenente Ripley, existe uma simbologia sobre luta feminina entre a personagem principal durona e a alienígena-mãe. Se repararmos bem, há ainda um boom de bilheterias em franquias protagonizadas por elas, como a série “Insurgente” e, principalmente, o megassucesso “Jogos Vorazes”. São personagens jovens e decididas, assim como a mocinha de “Lucy”, a volta de Luc Besson aos cinemas com um sucesso inquestionável estrelado por Scarlett Johansson.
Johansson também foi parte de um questionamento importante sobre o papel feminino na cronologia da Marvel, já que a Viúva Negra é praticamente a única heroína da mitologia e mesmo assim foi excluída das linhas de produtos oficiais licenciados, assim como foi motivo de piadas sem graça de Jeremy Renner e Chris Evans sobre a sexualidade dela, já que se envolve com vários personagens da trama. Miss Marvel e Jéssica Jones vêm aí para que a empresa tente inverter as críticas justificadas sobre o tema.
No fim das contas, quem deixa de ir ao cinema ou de acompanhar uma história por causa do protagonismo feminino não sabe o que é cultura e seu papel definidor nas transformações de uma sociedade. The times they are a-changin.

SOL INVICTUS
Após um longo período de separações e reencontros, o Faith No More lançou essa semana um novo trabalho batizado de Sol Invictus, em CD e também Vinil. Mas, para alegria dos fãs (incluindo este jornalista), o álbum já foi disponibilizado em streaming na internet. E traz toda a essência da banda que tinha ficado lá na década de 1990: letras debochadas, um som pesado e soturno com mudanças de ritmos no meio das músicas e pelo menos uma balada grudenta para aliviar a porrada no ouvido, sempre com toda a loucura e versatilidade do vocalista Mike Patton e as baquetas alucinadas de Mike Bordin. Ou seja, é aquela mesma banda de 18 anos atrás (o “Album of the Year” é de 1997!), com todo mundo mais velho e independente. O resultado não é menos que excelente.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Justiça cega




 (Texto originalmente publicado na coluna Diário Cultural do Diário do Pará, Caderno Você de 11/05/2015)

Quando a Netflix anunciou a parceria com a Marvel para a criação de várias séries, a iniciar com o Demolidor, a primeira lembrança dos fãs foi a malfadada versão para o cinema do herói estrelada por Bem Affleck. Exagerada, com uma história ruim e atuações canastronas, a película foi um fracasso de público e crítica. Em seguida, e por uma dessas razões desconhecidas entre os produtores de Hollywood, foi a vez de Elektra ganhar seu filme, no mesmo universo quadrinhesco do justiceiro cego e igualmente ruim.
Creio que as dúvidas se dissiparam já nas primeiras sequências de ação da nova mitologia do demônio de Hell’s Kitchen. Situada no mesmo universo dos Vingadores, em uma Nova York destruída após as lutas entre o grupo de heróis com vilões alienígenas, a série procurou se distanciar dos irmãos de editora e fincar um pé na realidade violenta e suja das ruas da cidade. Ou melhor, entrar com os dois pés no peito da realidade. É uma série impactante, bem escrita e que não abre concessões para momentos de descontração. São poucos alívios cômicos e nisso ela está a anos-luz de distância da galhofa dos Guardiões da Galáxia.
Com riqueza de detalhes na trama e bons diretores, Demolidor poderia facilmente estar na grade da HBO. Há um grande cuidado com o produto final, que só tinha visto recentemente em True Detective e Game of Thrones (que peca pela história apenas razoável, diga-se). Já há até um plano-sequência entre os melhores já feitos: um dos bandidos sai da sala onde uma criança chora. Ele entra em outra porta, fala algo em russo e volta para outro espaço onde estão seus parceiros de crime. A câmera passeia pelo corredor estreito, até mostrar o herói mascarado “observando” a movimentação. Ele para diante da primeira entrada, invade e começa a briga, que envolve socos, chutes, facas e pistolas. A ação dura longos e angustiantes minutos e lembra muito uma sequência parecida do Oldboy original.
O elenco também foi bem escolhido. Charlie Cox nunca teve muito destaque em outras produções, mas tem o físico e a atuação adequada para o papel de Matthew Murdock. Por outro lado, Elder Henson é um bom alívio cômico e uma espécie de âncora, que traz de volta o protagonista para a realidade, como seu amigo Foggy Nelson. Além disso, Deborah Ann Woll, Rosario Dawson e Vonder Curtis-Hall dão um caráter mais humano e integridade moral à história. Mas é Vincent D’Onofrio quem ocupa todos os espaços da tela quando aparece em cena. Com interpretação sutil e gestos contidos, ele é capaz de transformar um monstro como Wilson Fisk em uma pessoa atormentada, capaz de gestos de violência repentinos. É sua melhor atuação desde que foi revelado por Stanley Kubrick no clássico Nascidos para Matar.
Apesar de alguns equívocos como Hemlock Grove, a Netflix mostra mais uma vez que não está para brincadeira e quer fidelizar ainda mais seus assinantes, seja upando temporadas inteiras ou lançando boas séries quase mensalmente, nos tornando quase “reféns” da empresa. Só lembrando que terão mais quatro séries de heróis (Jessica Jones, Luke Cage, Punhos de Ferros e os Defensores) pela frente e novas temporadas do Demolidor para o ano que vem.  Azar da nossa produtividade...

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Vale quanto pesa



(Texto originalmente publicado na coluna Diário Cultural, do Diário do Pará de 040515)

Em pouco menos de duas semanas no cinema, Vingadores 2 caminha fácil para se tornar o blockbuster do ano. Todas as sessões estão praticamente lotadas, em qualquer parte do mundo onde estreou.  Sua única ameaça, talvez, venha em dezembro, quando os sabres de luz forem empunhados novamente. Felizmente, a produção faz jus a todo o burburinho criado em todo dela. É grande - imenso até -  e apropriado para a tela grande. Os efeitos especiais são ótimos e o elenco é númeroso e respeitável.
Mas, por muito pouco, Joss Whedon não escorregou nas próprias ambições. O grande problema desta sequência é justamente a necessidade de ser mais grandioso que o primeiro filme, abusando de batalhas espetaculares e deixando a construção da história e dos personagens um pouco de lado.  Isso pode ser um gargalo para a Marvel no planejamento dos seus próximos passos no cinema, pois não sabemos o limite para tantas explosões e batalhas titânicas.
Um pouco de suspense ajuda, como mostrou Capitão América 2, que soube dosar as cenas de ação com a tensão do momento. E claro, os conflitos e diálogos entre os heróis, que são bem mais interessantes para dar humanidade às adaptações. Creio que Whedon e a produtora Marvel já tenham percebido isso e passaram o bastão das duas partes de Guerra Infinita para os irmãos Joe e Anthony Russo, justamente a dupla responsável pela continuação da aventura do herói da Segunda Guerra.
De resto, o filme consegue satisfazer todas as expectativas. Afinal, é sempre bom ver os heróis da infância lutando e fazendo poses juntos, como uma página dupla de uma HQ do George Pérez. Com um começo pré-créditos da abertura já movimentado, o jogo praticamente é vencido por 7 a 1. E o roteiro consegue abarcar a mitologia construída nos outros filmes (já são 11) e séries, sustentando sua própria narrativa transmídia. Curioso ainda que a produtora se utilize sempre dos objetos cênicos presentes nos outros filmes, que são reaproveitados em prol dessa história maior, como o Cedro de Loki, o cubo cósmico e a fonte de energia no peito do Tony Stark.
Há novamente espaços para as piadas e referências aos quadrinhos. E os atores, como já dito, estão muito à vontade nos uniformes e empunhando suas armas. O Homem de Ferro está em conflito da natureza das suas criações e o Capitão América mantém sua honra intacta em prol da liberdade. O Hulk aprimora seus conflitos de Jekyll e Hyde. A Viúva Negra revisita o seu passado traumático e mostra porque é a minha personagem favorita chutando bundas de soldados da Hydra.
Mas é Ultron que domina cada quadro – ou melhor, cada byte – em que aparece. Cínico, dissimulado, idealista do mal. É muito mais que um androide. É o vilão perfeito. Inteligente e sem ressentimentos. Ponto para a voz e captura de movimento de James Spader. É a escada completa para o que Thanos poderá ser como antagonista, em uma escala maior, universal, com dezenas de super-heróis da carta de opções da Marvel. E que venham mais histórias da Miss Marvel, Homem Formiga, Pantera Negra, Inumanos, Homem Aranha, Demolidor, etc. A velha criançada agradece.