(Texto Originalmente publicado na edição do Diário do Pará, caderno Você, de 16/02/2015)
Já na primeira cena do episódio que
abre a temporada inicial de Black Mirror, um vídeo enviado para uma rede social
mostra a princesa inglesa sequestrada por um terrorista mascarado, em um futuro
próximo. Em troca da vida da moça, ele exige que o primeiro ministro do país faça
sexo com uma porca em rede nacional. Não vou contar o resto da trama para não correr
o risco de dar spoilers, mas as consequências a partir desse jogo de tensão surreal
são devastadoras para a vida de todos naquela nação e a facilidade de acesso a
tecnologias da informação contribuem diretamente nessa convulsão social, para o
bem ou para o mal.
É exatamente esse limite do bom
senso entre a internet e a sociedade que a série trabalha, usando suas tramas
como alegorias para discutir o presente e o futuro e nossa interdependência aos
sistemas e bites gerados na grande rede mundial de computadores. E está cada
vez mais claro que no território livre da internet, o pedágio está na falta de
bom senso. Tudo é motivo para ataques, trolagens (para um termo comum em
discussões online), ciberbullyngs e todo tipo de ataque contra o outro. Toda
ação pode virar uma histeria coletiva, onde basta que um primeiro ataque vire
linchamento virtual, sem nem um respiro de questionamento se é isso mesmo que
queremos.
As duas temporadas já produzidas
possuem três episódios cada. É uma série curta, mas importante e subestimada. Não
há pontes entre as narrativas.Cada capítulo possui uma trama fechada, com
atores, épocas e até realidades diferentes, mantendo o estilo chocante da
clássica Além da Imaginação. Há ainda um especial de Natal ótimo estrelado por
Jon Hamm (Mad Men) e a promessa de uma nova leva de histórias para 2016.
O melhor de Black Mirror é a
quantidade de temas atuais que se relacionam em camadas em cada roteiro. No
segundo episódio, a trama trata de crise de energia, interação social através
de telas e de quebra ainda traz uma crítica mordaz aos reality shows. Já o
derradeiro do primeiro ano, os assuntos em pauta são o voyeurismo e a
biotecnologia. Este episódio, inclusive, sobre inplantes cerebrais que gravam e
projetam todas as imagens dos olhares dos cidadãos teve seus direitos
adquiridos e deve virar um longa metragem produzido por Robert Downey Jr. E um
remake (claro) americano já está em produção para estrear em 2016.
Já a segunda temporada, que
estreou em 2013, falou sobre solidão, carência afetiva, linchamentos virtuais,
o uso de avatares, política e o culto aos celulares e smartphones. Black Mirror
é uma série para ver e refletir. Está disponível em reprises na televisão por
assinatura e também em sites de torrent. Afinal, estamos falando de
transgressão tecnológica também, não?.
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