segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Refilmar ou não refilmar? Eis a questão

(Texto originalmente publicado na coluna Diário Cultural do Diário do Pará/Caderno Você, edição de 09/02/2015)


Apesar de nem sempre um bom trailer significar um filme bom, o vídeo de divulgação da refilmagem de Poltergeist indica que teremos pelo menos uma homenagem decente ao original. Há releituras de cenas icônicas da película dirigida por Tobe Hopper– como a da garotinha na frente da tela da televisão e a do assustador ataque do boneco palhaço no quarto – e a presença de um ótimo ator no papel principal (Sam Rockwell). O trabalho, que estreia em julho, tem ainda a produção de Sam Raimi, o que só gera mais curiosidade à obra (a versão de 1982 era produzida por Steven Spielberg).
Por outro lado, sempre que um clássico ganha um remake, cabem algumas indagações: tinha mesmo necessidade disso? Por que gastar milhões em uma nova versão de roteiros, ao invés de investir em ideias novas? Existem algumas respostas possíveis para essas perguntas. Há uma crise de boas histórias em Hollywood. Filmes são caros e os produtores não gostam de fazer apostas arriscadas, podendo perder dinheiro. É uma oportunidade nova de ver como ficariam as histórias com mais investimentos e novas tecnologias de efeitos especiais. Diretores gostam de dar sua visão a enredos consagrados.
Também acredito que os americanos têm uma certa ojeriza a filmes antigos do próprio país e também de produções estrangeiras. É um pensamento mais ou menos como “ei, seu filme é legal, mas aqui no nosso país ou nos dias de hoje, podemos fazer da nossa maneira”. Algumas vezes,  dá certo: Michael Haneke conseguiu melhorar seu Funny Games. O Chamado é melhor que o original japonês. E Deixa Ela Entrar feito nos states é tão bom quanto a versão sueca.
Surpreendentemente, outros se tornam uma espécie de metaclássicos: obras excelentes confeccionados em cima de outros iguais. David Cronemberg conseguiu isso com A Mosca. Cronemberg também com O Enigma do Outro Mundo. O mestre Werner Herzog deu nova vida ao monstro Nosferatu. Outro mestre, Scorsese tem duas refilmagens ótimas para chamar de suas: Os Infiltrados e Cabo do Medo.  Quem não lembra de Al Pacino tocando o terror em Scarface?. Recentemente também tivemos Os Homens que Não Amavam as Mulheres (David Fincher nunca decepciona)  e, enfim, um Planeta dos Macacos decente.    
Entretanto, normalmente o tiro sai pela culatra. Oldboy refeito é uma obra horrorosa, assim como Água Negra (estragados por produtores, pois os diretores são os excelentes Spike Lee e Walter Sales, respectivamente). Gus Van Sant fez um desnecessário Psicose, quadro a quadro da obra prima de Hitchcock. Rob Zombie deveria ser preso pelo que ele fez com o Halloween de John Carpenter. E Tim Burton também por estragar o próprio passado reproduzindo O Planeta dos Macacos (a versão de 2001) e A Fantástica Fábrica de Chocolate.
Na dúvida, vale a dica: veja o original, assista ao remake e tire suas próprias conclusões. Comparações não são ruins. Pelo contrário, ajudam a entender razões certas ou motivos errados que certos filmes ganham a tela novamente.

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