A consciência de que somos pequenos diante do universo e da natureza somada ao medo causado pela perda da humanidade em situações-limite. É a premissa básica de um bom filme de zumbis. O gore – sangue, tripas, etc. – é um bônus. Pode ou não fazer parte desta equação e não está ligado diretamente à qualidade da obra. Essa confusão existe por um motivo muito simples: é mais fácil apelar para a violência gráfica do que trabalhar uma ideia, pensar o filme, provocar sensações por meio da linguagem cinematográfica, da estrutura narrativa e de um subtexto interessante – seja ele político, religioso ou social. Guerra Mundial Z faz isso. E muito bem.
Para efeito de comparação, tomemos como exemplo uma das principais séries do momento: The Walking Dead. Questões ligadas à sobrevivência norteiam a produção e zumbis não passam de pano de fundo para os conflitos entre os vivos. Vez ou outra, um aparece e rola a carnificina. Nada gratuito. Tudo de grotesco que acontece apenas ressalta uma dramaticidade pré-existente. É, como disse antes, um bônus.
Já em Guerra Mundial Z, o massacre e cenas mais fortes são sugeridos. Não vemos uma única gota de sangue derramada, mas do princípio ao fim ficamos em estado de alerta, em total tensão, pois o perigo que ronda os personagens nos envolve e um simples piscar de olhos parece ser fatal. A identificação inicial com aquelas pessoas é, portanto, essencial para entrarmos nesse jogo, pois as cenas de ação, que dão a exata dimensão da escala global que o vírus atingiu – e que remetem diretamente aos créditos iniciais, com a noção do nosso comportamento “animalesco” na Terra – são encadeadas de maneira a não deixar espaço para respiros ou aprofundamentos psicológicos.
E como esse resultado é alcançado? Logo no começo, observamos Gerry Lane preparar o café da manhã para as filhas, fazer brincadeiras no carro... Ações que poderiam ser de qualquer pai de família no dia a dia. O cotidiano é invocado. É um dia comum na vida do cara. Poderia ser qualquer um de nós em seu lugar, não é preciso superpoderes. Lógico que ter treinamento militar de ex-agente da ONU como ele ajudaria um pouquinho no processo. Mas o fato é que ele é humano, tem que encarar a própria mortalidade enquanto tenta cumprir a sua missão, que não é salvar o mundo. Isso já seria uma consequência do que de fato importa a ele: salvar a sua família.
Por falar nisso, “salvar o mundo” soa até um pouco contraditório, já que aqui é a natureza quem está nos dando o troco, como um implacável serial killer, nas palavras do cientista que tenta decifrar as pistas deixadas por esse “vilão” e, dessa forma, achar uma cura. Mas dar o troco pelo quê? Quem se faz essa pergunta obviamente não é familiarizado com os filmes de zumbi, cuja pertinência sempre se fará presente quando a sociedade vive uma crise, seja em que âmbito for, pois a alegoria é a sua razão de ser. Por isso, cada canto escuro explorado pela câmera do diretor Marc Forster e até mesmo cada morto-vivo que avança sobre nós trazem consigo um espelho para que possamos ver, enfim, onde erramos e como – e se – podemos recolocar o mundo nos trilhos.
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