(Texto publicado originalmente no
Diário do Pará, Caderno Você, edição de 13/07/2013)
Você percebe que algo faz parte da
cultura Pop quando dá de cara com uma propaganda de brinquedos, em um canal de
fechado, com estes personagens. Mas, dessa vez não são os personagens de Toy
Story a percorrerem o imaginário da garotada. Nesse caso, são zumbis. Isso
mesmo. Os putrefatos comedores de carne agora são pequenos e simpaticos bonecos
para você colecionar. E eles se espalharam como uma epidemia: estão em grandes
lançamentos do cinema, como Guerra Mundial Z, Meu Namorado é um Zumbi e
Resident Evil; nos quadrinhos( o fenômeno The Walking Dead); na literatura
(Orgulho e Preconceito e Zumbis) e nos videogames (Resident Evil, Dead Island e
Zombie U).
Mas, nem sempre foi assim. Desde que
Bela Lugosi estrelou o filme Zumbi Branco (1932), até a década de 90, o
subgênero de filmes com zumbis ficou relegado ao cinema chamado B e uma pequena
legião de fãs. Fanáticos esses trazidos por um sujeito baixinho e sorridente
chamado George Romero, que decidiu que seria cineasta e faria algumas obras
primas do cinema trash, principalmente a sua aclamada trilogia do terror: A
Noite dos Mortos Vivos (1968, o pioneiro), O Despertar dos Mortos (1978) e o
Dia dos Mortos (1985). O maior interesse por Romero foi o fato de suas
criaturas serem mais que comedoras de carne. Cada película trazia imbutida uma
crítica social específica e devastadoras (preconceito racial, consumismo e
crimes militares em destaque).
Romero acrescentou mais um grande
filme nesse rol: Terra dos Mortos (2005), que peitava a relação predadora entre
ricos e pobres. Um quarteto de filmes de respeito, só manchado pela Ilha dos
Mortos (2009), um filme ruim e esquecível. Romero, hoje, é o cineasta mais imitado
no mundo e uma fonte infinita de refilmagens: Madrugada dos Mortos (2004,
excelente) e A Noite dos Mortos Vivos: Origem (2010, uma porcaria) são alguns
exemplos. Em 1990, Tom Savini fez uma surpreendente refilmagem de A Noite dos
Mortos Vivos, tornando-a uma das melhores do gênero.
E o ano de 1985 foi um desses que
define um gênero. Somente aqui veio duas outras referências cinematográficas
para os desmortos: os clássicos Reanimator e A Volta dos Mortos Vivos. O
primeiro, fruto do trabalho enlouquecido de Stuart Gordon. O outro, uma obra
marqueteira de Dan O’Bannon (a mente doentia por trás do monstro de Alien). Em
1988, Wes Craven (da série Pânico) voltou ao tema de Zumbi Branco ao criar um
drama sobre processo de zumbificação de haitianos, dessa vez nas mãos do
ditador Baby Doc.
Mas, a essa altura do campeonato, os
italianos, pródigos em produzirem giallos (filmes de seriais killers),
resolveram se aventurar no gênero. E a experiência foi a mais divertida
possível. Filmes tão díspares como Demons (1986), de Lamberto Bava (e produzido
pelo mestre Dario Argento) e Pelo Amor e Pela Morte (1994) mostraram que era
possível dar um toque de autor aos filmes podreiras. Mas foi o grande e
injustamente esquecido Lucio Fulci que a cara definitiva para os zumbis
spagghetis. Com o maravilhoso Zombie 2 (1979) (nome picareta dado pelos
produtores italianos, para dizer que seria uma continuação de A Noite dos
Mortos, que foi chamado no país de Zombie) e com o intenso The Beyond (1981),
Fulci levou esse tipo de filme marginal a um novo patamar, misturando carne
estragando com um clima gótico e trilhas arrasadoras do Goblins. E em Zombie,
ainda tem zumbis caminhando no fundo do mar!.
E a coisa se espalhou pelo mundo.
Peter Jackson (O Senhor dos Anéis), levou os zumbis para a Nova Zelândia em
Fome Animal (1992) e daí eles chegaram à Espanha (REC, 2006); À Noruega (Dead
Snow,2009); Alemanha (Rammbock, 2008); França (A Horda, 2009) e até, pasmem, à
Cuba (Juan de Los Muertos, 2012). Da terra da Rainha, vieram alguns bons exemplares,
como o misógino e engraçado Doghouse (2010) e os clássicos Todo Mundo Quase
Morto (2004) e Extermínio (2002). E, claro, não podemos esquecer os excelentes
exemplares brasileiros dessa safra: o bom Mangue Negro (2008) e os
razoáveis Porto dos Mortos (2010) e Zombio (1999).
A promessa é que esta escalada
popular dos zumbis continue em alta com o sucesso de The Walking Dead. Mas,
isso já é uma outra história, em um Apolicalipse mais próximo de você.
Para conhecer mais sobre os Zumbis:
Filmes:
Zumbi Branco
Reanimator
A Noite do Mortos Vivos
Madrugada dos Mortos
Dead Snow
Doghouse
Juan de Los Mortos
REC
A Maldição dos Mortos Vivos
Planeta Terror
Todo Mundo Quase Morto
Fido
Zumbilandia
Fome Animal
Extermínio
Terra dos Mortos
Cemitério Maldito
Zombie 2
Cockneys vs Zombies
A Volta dos Mortos Vivos
Quadrinhos
Walking Dead (2003) – Série de quadrinhos que deu origem à série e jogo
Marvel Zombies (2005) – Hq criada por Robert Kirkman onde os morto-vivos
invadem o universo Marvel.
The Goon (1999)
Séries
Walking Dead (2010) – Sucesso de público, apesar de
escorregar feio na terceira temporada. Quarta temporada estréia em outubro
deste ano.
Dead Set (2010) – Minissérie interessante sobre zumbis que atacam um set
de gravação de um reality show estilo Big Brother.
Death Valley (2011) – Série Cômica da MTV sobre grupo da polícia
especialista em caçar zumbis e vampiros. Durou uma temporada.
In The Flesh (2012) – Excelente drama britânico que trata de zumbis
“reabilitados” e novamente inseridos na sociedade, encarando preconceitos e
dramas existenciais. Segunda temporada já foi anunciada para 2014.
Les Revenants (2012) – Elogiada série francesa sobre pessoas que
voltam do mundo dos mortos. Uma temporada apenas.
Games
Zombies Ate My Neighbors (1993) – Clássico absoluto do Snes e difícil de
zerar pacas.
Resident Evil (1996) – Game que influenciou uma geração de survivor
horror nos videogames e rendeu uma série de sucesso com dezena de jogos.
Left for Dead (2008) – Jogo de tiro colaborativo com ritmo frenético.
Plants vs Zombies (2011) – Puzzle divertido feito para plataformas
móveis.
The Walking Dead (2012) – Elogiada adaptação da HQ com novos personagens
e modalidade Point and Click.
Literatura
Orgulho e Preconceitos e Zumbis (editora Intrínseca) – Releitura do
clássico Orgulho e Preconceito de Jane Austen.
Celular (editora Objetiva) – Excelente livro de
Stephen King sobre contaminação global causada por celulares.
The Walking Dead – A Ascensão do Governador (Editora Record)
Guerra Mundial Z (Editora Rocco)
Videoclipes:
Michael Jackson – O clássico Thriller
Billy Idol - Dancing With Myself (dirigido por Tobe Hooper,
do Massacre da Serra Elétrica)