domingo, 21 de julho de 2013

Evil Dead - A Morte do Demônio (2013)


Todo remake tem um problema que começa já nos créditos iniciais: a inevitável comparação com o produto original. E na ampla maioria das vezes, a refilmagem se mostra uma obra tola e desnecessária (Todos os anos hollywood nos brinda com uma penca de porcarias, vendidas como readaptações, mas que são meros caça-níqueis).

Dito isso, podemos dizer que A Morte do Demônio é um filme menor comparado com o original de Sam Raimi, lançado em 1981. Raimi não tinha orçamento, mas é um cara criativo e conseguiu transformar um enredo trash em um clássico dos anos de 1980, graças ao seu talento em arrancar risos em situação esdrúxulas e apelar para muito gore, ao contar a história de cinco amigos que decidem passar um fim de semana em uma cabana na floresta, mas acabam libertando uma entidade demoníaca, graças ao feitiço contido no Necronomicon, o Livro dos Mortos.

Afora as comparações, o filme deu um ar mais de urgência à história, se aproximando da ótica atual do cinema de horror (mais choque e menos alívios cômicos). Há sustos e sangueira em profusão. O estreante diretor Jede Alvarez (do curta Ataque de Pânico) mostra que tem talento e noção de profundidade. Ele se mostra seguro nas cenas que exigem maior envolvido de quem assiste o filme.




Se mostrando mais uma continuação que uma refilmagem (o sangue na entrada do sótão é um indicativo disso), A Morte do Demônio é uma boa diversão de final de semana, para quem gosta de um filme de terror bem feito. A lamentar apenas o roteiro, cheio de buracos (situações mal explicadas e o velho estereótipo na criação dos personagen) e os atores, que em nenhum momento esbanjam o carisma de um Bruce Campbell, o eterno Ash da versão original.  Falando nele, Assista até o final dos créditos e tenha uma pequena surpresa...

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O bom e velho Schwarza


Quando Martin Riggs tomou para si a clássica frase de seu parceiro Roger Murtaugh e declarou estar “muito velho para essa droga”, ficou claro que ali, com Máquina Mortífera 4, no final da década de 90, um ciclo se aproximava do fim. Mel Gibson, um dos principais heróis de ação do cinema, ainda faria alguns filmes que exigissem grande esforço físico, como O Patriota, mas nunca mais como na série que, ao lado de Mad Max, fez a sua fama. Mas por que falo de Gibson se no título da coluna é Arnold Schwarzenegger o citado? Porque apesar do “recesso” de oito anos como político, Schwarza, ao contrário de Riggs e do próprio Gibson, não está nem aí para a idade e continua na ativa, arrastando seu corpo robótico e sexagenário para sessões de tiros, pancadaria e muito bom humor. 
Ao lado de Bruce Willis e Stallone, Schwarzenegger resiste à aposentadoria dos tipos durões por um motivo muito simples: a limitada capacidade de interpretação não lhes oferta uma variedade de papéis em Hollywood – Willis ainda escapa um pouco desse estigma, tem mais recursos como ator. Em compensação, dê-lhes uma arma e um punhado de frases de efeito que o resultado, provavelmente, será um sucesso de bilheteria. Os Mercenários, que já virou até franquia, está aí para comprovar a tese. Já o bom humor, que sempre esteve presente (principalmente em Schwarza, pois Stallone vez ou outra apostava no drama), agora é fundamental. Os filmes não são somente de ação, são comédias de ação, no melhor estilo True lies, O último grande herói e Um tira no jardim de infância. 
O último desafio, o mais recente do Schwarza, entra nesse rol. Há tempos não ria tanto em um filme. Para se ter uma ideia do tom nonsense e de todos os seus clichês e previsibilidade, ele já começa com um policial comendo donuts. Daí para saber quem vai morrer e como será o embate final é um pulo. Além disso, tem a participação de Johnny Knoxville, a “mente brilhante” por trás de Jackass. Ora, um filme que abre espaço considerável a um cara cujo ápice de atuação foi ter deixado um jacaré morder a sua bunda tem mesmo que abraçar a sua irrelevância, o seu lado trash. E tem Rodrigo Santoro também, que deve ter aceitado o papel só mesmo para tirar uma casquinha da Jaimie Alexander, já que ele é conhecido por priorizar escolhas artísticas. 
Enquanto isso, Schwarzenegger faz o que dele se espera como xerife de uma cidadezinha de fronteira que tem a missão de parar o Pablo Escobar da nova geração, que está em fuga para o México: dá uns esporros por telefone no chefe do FBI, surge na última hora para salvar os seus ajudantes, solta as suas pílulas de sabedoria, demonstra emoções distintas sempre com a mesma expressão facial e parte para a porrada contra o vilão, sendo mais eficiente do que toda a inteligência norte-americana e equipes da SWAT fortemente armadas. Juro e tenho testemunha de que levantei da cama e aplaudi de pé a cena em que Schwarza frustra de vez o plano do mafioso, se tornando, de fato, o último desafio, como diz o título do filme. Ah, a tosquice, ela não tem limites... Nesse caso, ainda bem.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Mais vivos do que Nunca





(Texto publicado originalmente no Diário do Pará, Caderno Você, edição de 13/07/2013)


Você percebe que algo faz parte da cultura Pop quando dá de cara com uma propaganda de brinquedos, em um canal de fechado, com estes personagens. Mas, dessa vez não são os personagens de Toy Story a percorrerem o imaginário da garotada. Nesse caso, são zumbis. Isso mesmo. Os putrefatos comedores de carne agora são pequenos e simpaticos bonecos para você colecionar. E eles se espalharam como uma epidemia: estão em grandes lançamentos do cinema, como Guerra Mundial Z, Meu Namorado é um Zumbi e Resident Evil; nos quadrinhos( o fenômeno The Walking Dead); na literatura (Orgulho e Preconceito e Zumbis) e nos videogames (Resident Evil, Dead Island e Zombie U).

Mas, nem sempre foi assim. Desde que Bela Lugosi estrelou o filme Zumbi Branco (1932), até a década de 90, o subgênero de filmes com zumbis ficou relegado ao cinema chamado B e uma pequena legião de fãs. Fanáticos esses trazidos por um sujeito baixinho e sorridente chamado George Romero, que decidiu que seria cineasta e faria algumas obras primas do cinema trash, principalmente a sua aclamada trilogia do terror: A Noite dos Mortos Vivos (1968, o pioneiro), O Despertar dos Mortos (1978) e o Dia dos Mortos (1985). O maior interesse por Romero foi o fato de suas criaturas serem mais que comedoras de carne. Cada película trazia imbutida uma crítica social específica e devastadoras (preconceito racial, consumismo e crimes militares em destaque).

Romero acrescentou mais um grande filme nesse rol: Terra dos Mortos (2005), que peitava a relação predadora entre ricos e pobres. Um quarteto de filmes de respeito, só manchado pela Ilha dos Mortos (2009), um filme ruim e esquecível. Romero, hoje, é o cineasta mais imitado no mundo e uma fonte infinita de refilmagens: Madrugada dos Mortos (2004, excelente) e A Noite dos Mortos Vivos: Origem (2010, uma porcaria) são alguns exemplos. Em 1990, Tom Savini fez uma surpreendente refilmagem de A Noite dos Mortos Vivos, tornando-a uma das melhores do gênero.

E o ano de 1985 foi um desses que define um gênero. Somente aqui veio duas outras referências cinematográficas para os desmortos:  os clássicos Reanimator e A Volta dos Mortos Vivos. O primeiro, fruto do trabalho enlouquecido de Stuart Gordon. O outro, uma obra marqueteira de Dan O’Bannon (a mente doentia por trás do monstro de Alien). Em 1988, Wes Craven (da série Pânico) voltou ao tema de Zumbi Branco ao criar um drama sobre processo de zumbificação de haitianos, dessa vez nas mãos do ditador Baby Doc.

Mas, a essa altura do campeonato, os italianos, pródigos em produzirem giallos (filmes de seriais killers), resolveram se aventurar no gênero. E a experiência foi a mais divertida possível. Filmes tão díspares como Demons (1986), de Lamberto Bava (e produzido pelo mestre Dario Argento) e Pelo Amor e Pela Morte (1994) mostraram que era possível dar um toque de autor aos filmes podreiras. Mas foi o grande e injustamente esquecido Lucio Fulci que a cara definitiva para os zumbis spagghetis. Com o maravilhoso Zombie 2 (1979) (nome picareta dado pelos produtores italianos, para dizer que seria uma continuação de A Noite dos Mortos, que foi chamado no país de Zombie) e com o intenso The Beyond (1981), Fulci levou esse tipo de filme marginal a um novo patamar, misturando carne estragando com um clima gótico e trilhas arrasadoras do Goblins. E em Zombie, ainda tem zumbis caminhando no fundo do mar!.

E a coisa se espalhou pelo mundo. Peter Jackson (O Senhor dos Anéis), levou os zumbis para a Nova Zelândia em Fome Animal (1992) e daí eles chegaram à Espanha (REC, 2006); À Noruega (Dead Snow,2009); Alemanha (Rammbock, 2008); França (A Horda, 2009) e até, pasmem, à Cuba (Juan de Los Muertos, 2012). Da terra da Rainha, vieram alguns bons exemplares, como o misógino e engraçado Doghouse (2010) e os clássicos Todo Mundo Quase Morto (2004) e Extermínio (2002). E, claro, não podemos esquecer os excelentes exemplares brasileiros dessa safra: o bom Mangue Negro (2008) e os razoáveis Porto dos Mortos (2010) e Zombio (1999).

A promessa é que esta escalada popular dos zumbis continue em alta com o sucesso de The Walking Dead. Mas, isso já é uma outra história, em um Apolicalipse mais próximo de você.   

Para conhecer mais sobre os Zumbis:

Filmes:

Zumbi Branco
Reanimator
A Noite do Mortos Vivos
Madrugada dos Mortos
Dead Snow
Doghouse
Juan de Los Mortos
REC
A Maldição dos Mortos Vivos
Planeta Terror
Todo Mundo Quase Morto
Fido
Zumbilandia
Fome Animal
Extermínio
Terra dos Mortos
Cemitério Maldito
Zombie 2
Cockneys vs Zombies
A Volta dos Mortos Vivos

Quadrinhos

Walking Dead (2003) – Série de quadrinhos que deu origem à série e jogo

Marvel Zombies (2005) – Hq criada por Robert Kirkman onde os morto-vivos invadem o universo Marvel.

The Goon (1999)



Séries

Walking Dead (2010) – Sucesso de público, apesar de escorregar feio na terceira temporada. Quarta temporada estréia em outubro deste ano.

Dead Set (2010) – Minissérie interessante sobre zumbis que atacam um set de gravação de um reality show estilo Big Brother.

Death Valley (2011) – Série Cômica da MTV sobre grupo da polícia especialista em caçar zumbis e vampiros. Durou uma temporada.

In The Flesh (2012) – Excelente drama britânico que trata de zumbis “reabilitados” e novamente inseridos na sociedade, encarando preconceitos e dramas existenciais. Segunda temporada já foi anunciada para 2014.

Les Revenants  (2012) – Elogiada série francesa sobre pessoas que voltam do mundo dos mortos. Uma temporada apenas.


Games

Zombies Ate My Neighbors (1993) – Clássico absoluto do Snes e difícil de zerar pacas.

Resident Evil (1996) – Game que influenciou uma geração de survivor horror nos videogames e rendeu uma série de sucesso com dezena de jogos.

Left for Dead (2008) – Jogo de tiro colaborativo com ritmo frenético.

Plants vs Zombies (2011) – Puzzle divertido feito para plataformas móveis.

The Walking Dead (2012) – Elogiada adaptação da HQ com novos personagens e modalidade Point and Click.

Literatura


Orgulho e Preconceitos e Zumbis (editora Intrínseca) – Releitura do clássico Orgulho e Preconceito de Jane Austen.

Celular (editora Objetiva) – Excelente livro de Stephen King sobre contaminação global causada por celulares.

The Walking Dead – A Ascensão do Governador (Editora Record)

Guerra Mundial Z (Editora Rocco)

  





Videoclipes:

Michael Jackson – O clássico Thriller


Billy Idol -  Dancing With Myself  (dirigido por Tobe Hooper, do Massacre da Serra Elétrica)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Guerra Mundial Z


A consciência de que somos pequenos diante do universo e da natureza somada ao medo causado pela perda da humanidade em situações-limite. É a premissa básica de um bom filme de zumbis. O gore – sangue, tripas, etc. – é um bônus. Pode ou não fazer parte desta equação e não está ligado diretamente à qualidade da obra. Essa confusão existe por um motivo muito simples: é mais fácil apelar para a violência gráfica do que trabalhar uma ideia, pensar o filme, provocar sensações por meio da linguagem cinematográfica, da estrutura narrativa e de um subtexto interessante – seja ele político, religioso ou social. Guerra Mundial Z faz isso. E muito bem. 
Para efeito de comparação, tomemos como exemplo uma das principais séries do momento: The Walking Dead. Questões ligadas à sobrevivência norteiam a produção e zumbis não passam de pano de fundo para os conflitos entre os vivos. Vez ou outra, um aparece e rola a carnificina. Nada gratuito. Tudo de grotesco que acontece apenas ressalta uma dramaticidade pré-existente. É, como disse antes, um bônus. 
Já em Guerra Mundial Z, o massacre e cenas mais fortes são sugeridos. Não vemos uma única gota de sangue derramada, mas do princípio ao fim ficamos em estado de alerta, em total tensão, pois o perigo que ronda os personagens nos envolve e um simples piscar de olhos parece ser fatal. A identificação inicial com aquelas pessoas é, portanto, essencial para entrarmos nesse jogo, pois as cenas de ação, que dão a exata dimensão da escala global que o vírus atingiu – e que remetem diretamente aos créditos iniciais, com a noção do nosso comportamento “animalesco” na Terra – são encadeadas de maneira a não deixar espaço para respiros ou aprofundamentos psicológicos. 
E como esse resultado é alcançado? Logo no começo, observamos Gerry Lane preparar o café da manhã para as filhas, fazer brincadeiras no carro... Ações que poderiam ser de qualquer pai de família no dia a dia. O cotidiano é invocado. É um dia comum na vida do cara. Poderia ser qualquer um de nós em seu lugar, não é preciso superpoderes. Lógico que ter treinamento militar de ex-agente da ONU como ele ajudaria um pouquinho no processo. Mas o fato é que ele é humano, tem que encarar a própria mortalidade enquanto tenta cumprir a sua missão, que não é salvar o mundo. Isso já seria uma consequência do que de fato importa a ele: salvar a sua família. 
Por falar nisso, “salvar o mundo” soa até um pouco contraditório, já que aqui é a natureza quem está nos dando o troco, como um implacável serial killer, nas palavras do cientista que tenta decifrar as pistas deixadas por esse “vilão” e, dessa forma, achar uma cura. Mas dar o troco pelo quê? Quem se faz essa pergunta obviamente não é familiarizado com os filmes de zumbi, cuja pertinência sempre se fará presente quando a sociedade vive uma crise, seja em que âmbito for, pois a alegoria é a sua razão de ser. Por isso, cada canto escuro explorado pela câmera do diretor Marc Forster e até mesmo cada morto-vivo que avança sobre nós trazem consigo um espelho para que possamos ver, enfim, onde erramos e como – e se – podemos recolocar o mundo nos trilhos.