John Carpenter é um daqueles raros artesãos do cinema. De seus filmes, mesmo os medianos, sempre se pode extrair algo de bom. Ele domina a linguagem cinematográfica, pensa a sua narrativa, sabe exatamente como fazer para conseguir a reação esperada do espectador. E isso, no gênero que é a sua especialidade, é fundamental. Até porque o terror hoje sofre com a falta de consistência e originalidade em suas obras e a nova geração, como regra, parece entender que basta aumentar o volume do som para criar um foco de tensão e suspense. Não saber trabalhar a história, desenvolver personagens e, consequentemente, a trama, é um pecado que Carpenter não cometeu em sua vasta filmografia – no máximo uns “pensamentos impuros” aqui e ali, pois ninguém é perfeito.
Para quem se interessou e quiser comprovar as afirmações acima, o Cine CCBEU promove este mês, a partir do dia 9, o ciclo “As várias faces do mal”, com a exibição de filmes do cineasta, como parte das comemorações pelos quatro anos de existência do cineclube. Estão programados: Halloween, À beira da loucura, Christine – O carro assassino e O enigma de outro mundo. Verdadeiros clássicos do cinema de terror e ficção científica.
Embora os quatro filmes escolhidos sejam representativos em sua carreira, não pense que sairá de lá expert no cinema de Carpenter, pois ficaram de fora obras essenciais como A bruma assassina, Fuga de Nova York, Eles vivem e Assalto ao 13º DP. Isso sem contar produções menores, mas não menos interessantes, como Pesadelo Mortal (que faz parte da série Mestres do Terror) e Trilogia do Terror, e o divertido Os aventureiros do bairro proibido. Minha dica, portanto, é: vá ao CCBEU e depois à locadora ou à internet.
Dentre os filmes do ciclo, Halloween é o mais conhecido e apresentou o icônico Michael Myers, personagem que assim com Jason Voorhes e Freddy Krueger também sofreu um processo de idiotização após algumas sequências caça-níqueis. Talvez um pouco menos, já que a sua natureza impediu que o humor tomasse conta dos filmes, como em seus pares, se “limitando” à ruindade desses projetos. Mas nem essa banalização foi suficiente para manchar a imagem do original. Halloween é um filme que ainda hoje causa palpitação. O medo é real, nos faz olhar para o lado, checar se as portas estão trancadas ou coisas do tipo. Destaque para a trilha sonora e a interpretação de uma das mais notórias rainhas do grito, Jamie Lee Curtis.
Os outros três têm em comum o terror psicológico, a forma como Carpenter nos envolve na vida dos personagens e nos faz temer pelo que possa acontecer com eles. O ambiente tomado pela escuridão e cantos desertos, provoca uma sensação de desconforto, perigo iminente e são reflexos das sombras que habitam a nossa própria alma. Essa é talvez a principal característica do seu trabalho. Ele não tem pressa, contempla a tudo e a todos. O medo é onipresente, um estado de espírito. Mas quando revela a sua face no mundo real, quem não estiver preparado irá sucumbir.
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