Esta
série britânica da BBC é a prova que dizer que o gênero de Zumbis está saturado
é uma balela que só os críticos com ar blasé acreditam. Zumbis sempre serão
legais. E sempre haverá algum criativo disposto a incorporar novas mensagens e
metáforas sociais envolvendo os mortos-vivos. In The Flesh adiciona um novo e
dramático componente: os ex-zumbis. Sim, a série traz a perspectiva de
personagens que já comeram carne e graças a um programa do governo e
medicamentos conseguiram reverter (pelo menos parcialmente), os efeitos da
degradação nos mortos.
Aqui
não há hordas sanguinárias, tripas expostas ou gente sendo mordida e se
transformando em questão de segundos. Há apenas um jovem solitário que se
suicidou por uma paixão não-correspondida por um amigo, e voltou quando não
queria. Interessante que todos os “ressuscitados” foram recém-conduzidos de
volta a terra dos vivos de maneira inexplicável, que a série, com razão, nem se
dá ao trabalho de tentar mostrar. O importante são as reconstruções das
relações humanas que estavam destroçadas diante do fim injustificável.
A dor principal não é causada pelo organismo apodrecido. Mas sim, por uma
sociedade preconceituosa que não aceita o diferente e nem o amor livre e se
vale de uma muleta histórica para justificar suas barbaridades: a Religião.
Aquela que, segundo a Bíblia, deveria ser fonte de amor e compaixão é
distorcida pela sociedade do ódio e da destruição e, aqui, é impossível que
tudo acabe bem. Afinal, sempre teremos exércitos de controladores odiosos que
se escondem atrás da gravata e paletó ou da batina pra propagar seus poderes
sobre os fracos de espíritos.
In
The Flesh vai na ferida, em estado de gangrena, que seja e adota um pessimismo
direto. Com tons de cinza e trilha sonora ancorada em canções tristes ( com
alguns poucos alívios cômicos), a série mostra que não há salvação para quem é
homossexual, negro, pobre ou zumbi. Todos têm que se adequar a um sistema cujo
contrato social está mofado e não adaptado aos novos tempos, sob o risco de
levar um tiro na cabeça. E que nem o fato de sermos criaturas do mesmo sangue,
nos livra de nosso destino cruel. A morte aqui é o horror, mas também a moeda
de troca.
Com
apenas 3 episódios, In The Flesh se mostrou na sua primeira temporada que é uma
das melhores estréia de 2013 na televisão mundial. E é muito bom saber que, em
termos de bom cinema, a TV está no seu ápice de qualidade. Que dure por muito
tempo.
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