
Em o Mestre, Paul Thomas Anderson volta a um tema recorrente
de sua filmografia: as relações paternas. Mas, diferente de Sangue Negro e
Magnólia, aqui esse conflito não é cosanguíneo. Criador e criatura se
confundem, como um Frankestein às avessas, desconstruído a partir de um
discurso religioso de fantasia, apoiado em conjecturas falsas e encenações
canhestras, em uma das milhares de missões religiosas, aqui denominada “A Causa”,
criada nos anos de 1950.

Anderson é um grande diretor. Sabe como trabalhar com a
fotografia, a trilha sonora ( de Johnny Greenwood, guitarrista do Radiohead).
Adepto de planos curtos e planos longos em sequência, PT sabe sufocar e aliviar
o espectador quando quer. Seu domínio do cinema é invejável para os dias de
hoje.
Baseada na Cientologia, religião sci-fi dos famosos, A Causa
segue os mesmo vícios desta. Centraliza o milagre nas mãos pesadas de um único
homem e esta gravidade forçada acaba por estabelecer relações com objetivos
automáticos, porém, potencialmente destrutivos (e a semelhança com outras
religiões cristãs não é mera coincidência).
Nesse caso, se pensarmos bem, o ser humano é normalmente (ou
anormalmente) movido por seu comportamento animalesco. Assim, a violência, o
sexo e a falta de compaixão são características intríssecas à humanidade em
busca da sobrevivência. E seria muito difícil retirá-lo deste habitat apenas
com orações, citações e encenações de hipnoses.

E é neste cenário que o pastor Lancaster Dodd (Philip
Seymour Hoffman, sensacional) tenta
domar o alcoólatra e pervetido Freddie Sutton (Joaquin Phoenix, ótimo).
Ele sabe que a sua própria sombra está refletida naquele rapaz, capaz de
simular um sexo constrangedor com uma escultura de areia. Porém este mesmo é
dominado pela esposa, vivida com intensidade por Amy Adams. E este triângulo
teria tudo para terminar em tragédia, como em Sangue Negro, se não fosse os
próprios defeitos (virtudes?) de Sutton. Ele é indomável. Sua postura e modo de
agir são de um selvagem. E Phoenix capta esse maneirismo com uma seriedade
impressionante. Impossível para um pastor domesticar uma pessoa assim. Talvez
em uma próxima vida.