terça-feira, 12 de setembro de 2017

Terror Original




Em 1984, Stephen King publicou o livro que serviria de inspiração para várias histórias sobrenaturais protagonizadas por crianças: It – A Obra Prima do Medo. A trama, muito copiada pelo sucesso Stranger Things, conta com 6 meninos e 1 menina, que confrontam unidos uma força demoníaca em forma de palhaço, em uma pequena cidade americana. A narrativa já serviu para criar uma minissérie em 1990, que tinha altos e baixos, mas assustou uma geração de garotos (como eu).
Por isso, torcemos o nariz quando foi anunciada uma nova versão, comandada pelo diretor Andy Muschietti (que só tinha dirigido o ótimo curta Mamá e o longa-metragem ruim Mama) . Mas bastou a introdução do filme It – A Coisa (2017), para as desconfianças se dissiparem. A cena é tensa e chocante e a aparição de Pennywise faz você se segurar na cadeira.  O ator Bill Skarsgard é a própria encarnação do mal e rivaliza diretamente com a icônica interpretação de Tim Curry na primeira adaptação.
O elenco infantil é ótimo, tem boa interação e desenvoltura juntos. Isso não seria possível se o roteiro não conseguisse deixar a construção da relação do grupo tão natural. Cada uma delas tem espaço para desenvolver seu próprio arco dramático e isso é importante para nos preocuparmos com a jornada deles. E It sempre foi uma metáfora para os medos da passagem da infância para a adolescência e como eles encaram isso.
A versão de Muschietti reforça isso: dos temores mais naturais, como as mudanças físicas e sexuais, os terríveis, como o bullying, racismo e os abusos sexuais e psicológicos. O diretor faz isso com uma bem vinda sutileza e recorrendo a símbolos conectados à mente dos pequenos, como o desvio no olhar de um quadro feio, a primeira menstruação ou a dor de um luto, além de recorrer a uma estética própria, como a câmera sempre sob o olhar deles e uma trilha sonora ingênua,  entrecortada por diálogos e cenas de brincadeiras divertidas. Afinal, mesmo encarando um monstro terrível, eles ainda são crianças. Sem contar que todos os adultos se tornam anônimos ou indiferentes a toda a brutalidade que ocorre em volta deles (o próprio King criou algo parecido no conto que deu origem ao cultuado Conta Comigo).
Palmas ainda para o design de produção. A casa dos personagens, esgotos e escola se tornam lugares apertados, sombrios, escuros e opressores. Os efeitos especiais funcionam e a maquiagem de Pennywise é perfeita. A prótese de cabeça, o olhar estrábico e os dentes afiados, com uma fala quase infantil, deixa a entidade com uma persona aterrorizante.  Para terminar a decisão mais que acertada de localizar a trama na década de 1980, que serve tanto como homenagem ao livro, quanto às produções da época como Os Gonnies (do qual considero este o sucessor espiritual). O diretor acerta ainda em deixar a trama dos adultos, quando eles voltam à cidade 27 anos depois, no livro, para uma possível continuação. Com novas angústias, como a depressão, o alcoolismo e o fracasso financeiro. Afinal, em cada fase da vida, temos nossos próprios fantasmas para lidar.  

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