Em 1984,
Stephen King publicou o livro que serviria de inspiração para várias histórias
sobrenaturais protagonizadas por crianças: It – A Obra Prima do Medo. A trama,
muito copiada pelo sucesso Stranger Things, conta com 6 meninos e 1 menina, que
confrontam unidos uma força demoníaca em forma de palhaço, em uma pequena
cidade americana. A narrativa já serviu para criar uma minissérie em 1990, que
tinha altos e baixos, mas assustou uma geração de garotos (como eu).
Por isso,
torcemos o nariz quando foi anunciada uma nova versão, comandada pelo diretor
Andy Muschietti (que só tinha dirigido o ótimo curta Mamá e o longa-metragem
ruim Mama) . Mas bastou a introdução do filme It – A Coisa (2017), para as
desconfianças se dissiparem. A cena é tensa e chocante e a aparição de
Pennywise faz você se segurar na cadeira. O ator Bill Skarsgard é a
própria encarnação do mal e rivaliza diretamente com a icônica interpretação de
Tim Curry na primeira adaptação.
O elenco
infantil é ótimo, tem boa interação e desenvoltura juntos. Isso não seria
possível se o roteiro não conseguisse deixar a construção da relação do grupo
tão natural. Cada uma delas tem espaço para desenvolver seu próprio arco
dramático e isso é importante para nos preocuparmos com a jornada deles. E It
sempre foi uma metáfora para os medos da passagem da infância para a
adolescência e como eles encaram isso.
A versão
de Muschietti reforça isso: dos temores mais naturais, como as mudanças físicas
e sexuais, os terríveis, como o bullying, racismo e os abusos sexuais e
psicológicos. O diretor faz isso com uma bem vinda sutileza e recorrendo a
símbolos conectados à mente dos pequenos, como o desvio no olhar de um quadro
feio, a primeira menstruação ou a dor de um luto, além de recorrer a uma
estética própria, como a câmera sempre sob o olhar deles e uma trilha sonora
ingênua, entrecortada por diálogos e cenas de brincadeiras divertidas. Afinal,
mesmo encarando um monstro terrível, eles ainda são crianças. Sem contar que
todos os adultos se tornam anônimos ou indiferentes a toda a brutalidade que
ocorre em volta deles (o próprio King criou algo parecido no conto que deu
origem ao cultuado Conta Comigo).
Palmas
ainda para o design de produção. A casa dos personagens, esgotos e escola se
tornam lugares apertados, sombrios, escuros e opressores. Os efeitos especiais
funcionam e a maquiagem de Pennywise é perfeita. A prótese de cabeça, o olhar
estrábico e os dentes afiados, com uma fala quase infantil, deixa a entidade
com uma persona aterrorizante. Para terminar a decisão mais que acertada
de localizar a trama na década de 1980, que serve tanto como homenagem ao
livro, quanto às produções da época como Os Gonnies (do qual considero este o
sucessor espiritual). O diretor acerta ainda em deixar a trama dos adultos,
quando eles voltam à cidade 27 anos depois, no livro, para uma possível
continuação. Com novas angústias, como a depressão, o alcoolismo e o fracasso
financeiro. Afinal, em cada fase da vida, temos nossos próprios fantasmas para
lidar.
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