Quando escrevi sobre Rua Cloverfield, 10
(Cloverfield Lane, 2016), expliquei que admirava diretores de cinema que
conseguem fazer bons filmes de suspense e terror em cenários restritos. Algo
que James Wan (Sobrenatural, Invocação do Mal) faz com competência e que M.
Night Shyamalan tentou em Fragmentado (Split, 2017), apesar de problemas no
roteiro, sobretudo. E agora o norueguês Andre Øvredal, com apenas um longa-metragem no
currículo (Caçadores de Trolls, 2010), se mostra eficiente no assunto com A
Autópsia (The Autopsy of Jane Doe, 2017).
A Autópsia tem apenas um necrotério como locação e
foca totalmente na relação entre um médico legista (O veterano Brian Cox) e o
filho, que trabalha como seu assistente na análise de cadáveres (Emily Hitsch,
que já foi uma promessa em Hollywood quando fez Na Natureza Selvagem e Speed
Racer). O trabalho ia bem, até que eles recebem uma missão do xerife da
cidade: identificar a causa da morte de bela jovem, encontrada no porão de uma
casa onde ocorreu uma chacina. O cadáver parece completamente intacto e as
dificuldades começam à medida que eles o examinam, pois a situação é mais
complexa e angustiante do que imaginam.
O thriller trabalha bem a tensão inicial com as
descobertas sinistras e apela para um gore intencional e necessário, ao mostrar
a dissecação dos corpos em detalhes, com sangue e órgãos expostos
deliberadamente. O problema é que o roteiro parece se direcionar para uma trama
detetivesca e termina indo para o lado fortemente sobrenatural. Nenhum
problema, se a história não decidisse ignorar os elementos da primeira meia
hora, como se fossem dois filmes diferentes, ao incluir espíritos e alucinações
na equação. A partir daí as motivações surreais e as explicações se tornam
meio sem sentido e há diversos furos no roteiro, que são ignorados até o final
da película.
Mesmo assim, Øvredal trabalha bem os momentos de tensão,
usando elementos simbólicos, como espelhos e, principalmente, sinos de mortos
(uma cena, especificamente, é absurdamente amedrontadora), além do próprio
necrotério, antigo e nada acolhedor. A trilha sonora é simples e usada com
certa parcimônia, o que enriquece a experiência solitária e mórbida do local
onde se passa a ação. Enfim, é um daqueles filmes de gênero simples, corretos e
que servem como um bom passatempo para uma sessão com pipoca e refrigerante.
Isso se você tiver estômago para comer vendo um cérebro sendo aberto, claro.
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