quinta-feira, 9 de março de 2017

Velhos amigos




Era o ano de 2000, quando entrei no cinema empolgado, então com 19 anos, para ver a personificação dos heróis dos quadrinhos que eu gostava e que ganharam forma em X-Men, o Filme. O diretor Brian Singer vinha prestigiado com os ótimos Os Suspeitos e O Aprendiz. O elenco do filme tinha nomes já famosos, como Hale Berry e veteranos do naipe de Patrick Stewart e Ian Mckellen. Mas o papel de maior curiosidade dos fãs dos quadrinhos foi reservado para um ator até então bem desconhecido, chamado Hugh Jackman: o raivoso e complexo Wolverine.
Dali em diante, Jackman virou um astro e repetiu o personagem em outras 7 produções, até decidir pendurar as garras em Logan (2017), derradeira aventura do “carcaju”, dessa vez comandada pelo experiente James Mangold (dos ótimos Cop Land, Identidade, Johnny &June e Os Indomáveis). E, definitivamente, foi uma despedida honesta e impactante. A obra redime as falhas grotescas da 20 Century Fox, como os terríveis X-Men Origens – Wolverine e X-Men Apocalipse.
Jackman impõe sua presença em cena desde o primeiro segundo em que aparece, com um rosto duro e envelhecido e o corpo sentindo o peso da idade. Ao seu lado, o mentor Charles Xavier nos lembra de que mesmo mutantes poderosos sofrem com o desgaste do tempo, em uma atuação cheia de nuances e beleza de Stewart.
Depois de tanto tempo, os dois estão muito a vontade nos personagens. Dafne Kenn, que faz a pequena, mas perigosa X-23 é uma revelação. Em seu primeiro papel na tela grande, a menina transmite toda a fúria mutante junto aos trejeitos e ingenuidades típicas da infância, afinal, mesmo sendo uma máquina de matar, ainda é uma criança.
Apesar de não usar flashbacks, deixando as dores do passado subentendidas, o roteiro acaba apelando para muletas narrativas para explicar melhor a história, como uma gravação de celular estranhamente bem feita e diálogos expositivos em excesso. Mesmo assim, Mangold segura a direção com firmeza e cria rimas visuais elegantes, como a metalinguagem de temas presente no filme Os Brutos Também Amam, que Xavier e X-23 assistem na televisão do hotel, além da aparência de um clone que estabelece conexão com o primeiro filme dos X-Men. A fotografia é linda e as paisagens reforçam o ambiente meio western alcançado pela narrativa.
Além, claro de lembrar direta ou indiretamente outros filmes onde personagens duros se envolvem emocionalmente com crianças que precisam proteger ao longo de uma caminhada, como O Profissional e A Estrada. Logan é menos um filme de herói e mais um road movie dramático dos bons, do nível de Mad Max – Estrada da Fúria, e, coincidentemente, deve ganhar uma versão em preto e branco em breve.

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