segunda-feira, 13 de março de 2017

Pronto para nadar





Moonlight (2016) é um filme de sensações físicas e emocionais. É a mostra perfeita que o cinema é fascinante por transformar em lirismo absoluto os conflitos imagéticos e dialéticos sobre as contradições humanas. Uma obra crua, ressignificada em uma poética visual, mas ao mesmo tempo movida por sons, como a música, o barulho do mar e os silêncios reveladores ou constrangedores.
Essa construção narrativa é feita pelo olhar de um menino introvertido e frágil chamado Chiron. Ele é pobre, filho de uma drogada (Naomi Harris, em uma atuação maravilhosa) e ainda está descobrindo a própria sexualidade, reprimida pelas piadas e xingamentos de outros estudantes. Ele acaba encontrando no traficante Juan (Mahershala Ali, em uma pequena, mas marcante participação vencedora do Oscar), uma bússola moral, apesar de falha e autodestrutiva. Além do criminoso, ele encontra apoio apenas em Teresa (a cantora Janelle Monae, uma revelação) e no colega de escola Kevin, em quem descobre a atração física.
O diretor Barry Jenkins sabe o poder do roteiro quem tem em mãos. A começar pelo bom trabalho de elenco, principalmente do personagem principal, em suas 3 fases, vividas pelos ótimos Trevante Rhodes, Ashton Sanders e Alex Hibbert. É impressionante como atores de idades diferentes conseguem se parecer no olhar, na fala pausada e nos gestos contidos.
Jenkins também investe em pequenos elementos para mostrar a transição física e moral de Chiron. O mar é o principal deles. É através da água que o personagem se sente livre, transformado e, como diria seu velho amigo, está “pronto para nadar”. Outros símbolos também representam saídas morais. Como portas e janelas, que são frequentemente abertas e fechadas em várias cenas. Assim, o diretor não se furta de explorar todas as nuances necessárias para contar a trama complicada de um jovem criminoso gay, negro e pobre e não apela, em nenhum momento, para maniqueísmos baratos.
No fim das contas, apesar de sabermos que o Oscar é um prêmio essencialmente comercial, cercado por lobistas e empresários, e que a academia está tentando se redimir das críticas sobre exclusão étnica nas suas premiações, tivemos um ano onde a estatueta dourada ficou em ótimas mãos. E que bom que o envelope lido no fim da errática cerimônia
estava errado.

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