terça-feira, 12 de julho de 2016
Os ventos da mudança
Em um dos episódios da ótima série “Master of None”, o personagem principal, que é nova-iorquino descendente de indianos, reclama da falta de papéis para atores da Índia que não sejam de gurus sábios ou cantores. Ele mesmo tenta ganhar a vida interpretando e sua única chance verdadeira é em um filme de ação tosco, no papel de um cientista, que acaba sendo cortado na montagem, por não ter muita importância. Aziz Anzari é um ótimo comediante e aqui ele expõe um bode na sala do mundo do cinema americano: a falta de representatividade real de grupos minoritários na tela grande.
Há algumas décadas, essa discussão não teria tanta importância, quando era comum atores brancos fazerem black face (pintarem o rosto para compor personagens negros) ou esticarem os olhos e pintarem um bigode fino na tentativa de parecerem chineses. Mas, nos últimos anos esse debate ganhou força, graças à atuação firme de grupos e artistas, além das necessárias discussões nas redes sociais. O alvo recente foi a Academia de Cinema de Hollywood, que não teve nenhum negro entre os indicados ao Oscar deste ano, inclusive nas categorias técnicas.
Para tentar dirimir a questão, a presidência da entidade responsável pela festa da estatueta dourada anunciou os novos membros da entidade há duas semanas. Dos 680 escolhidos, 46% são mulheres e 40% não-brancos. Há alguns brasileiros, como os cineastas Anna Mulayert (Que Horas Ela Volta?) e Alê Abreu (O Menino e o Mundo) e o diretor de fotografia Lula Carvalho. Ainda é um quantitativo pequeno, mas é um passo considerável nesse processo relativamente recente de inclusão social na sétima arte.
Um detalhe interessante é a criação do chamado Teste de Bechdel, que calcula uma espécie de coeficiente de participação feminina nos filmes e séries. Se a produção tem mais de duas mulheres ou se elas conversam entre si que não seja sobre homens são algumas “equações” usadas para determinar isso. A maioria das obras não passa no teste, mas é curioso ver a quantidade de sucessos de bilheteria ou da audiência na TV que têm mulheres fortes como protagonistas, como o filme “Jogos Vorazes” e a série “The Good Wife”.
Os próprios artistas estão se mobilizando para promover a inclusão social na cultura americana. O cantor Adam Lambert, atual vocalista do Queen, desistiu de participar da releitura de “Rocky Horror Picture Show” para dar lugar a uma atriz trans. O papel ficou com Laverne Cox, que já vinha se destacando em outra série inclusiva, “Orange is The New Black”. “Sense 8” também tem uma atriz trans, Jaime Clayton. O mais importante, no fim das contas, é o sistema de produção de cinema perceber que a diversidade racial, religiosa e sexual deve estar presente lá, mesmo que tímida, como em toda sociedade.
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