segunda-feira, 4 de abril de 2016

Sobre simulacros e decepções


Aviso: Alguns pequenos spoilers sobre Lost e Arquivo X no texto a seguir.
No livro Simulacro e Simulações Jean Baudrillard defende que, em qualquer sociedade, não há apenas um embate entre real e imaginário. Mas sim, uma coexistência impossível graças à sedução do irreal frente a uma realidade imperfeita. Os símbolos são mais importantes que sua representação. Em todo o caso, o inconsciente pode ser manter confortável diante daquilo que não domina e rejeita as imperfeições que mantém a própria humanidade com os pés no chão, entre decepções, apegos morais e pequenos arroubos de felicidade. 
Estava pensando nessa relação ao rever um dos meus episódios favoritos de Arquivo X: “A Sexta Extinção”, um dos poucos decentes da 7ª temporada. Nele, o agente Fox Mulder aceita a proposta de largar as investigações e levar uma vida comum, de subúrbio, estilo American Way of Life, com esposa e filhos, próximo de amigos. Mas no mundo real da série Mulder padece, em coma, de um mal alienígena. A felicidade é pueril e imaginária. É o seu corpo resistindo à morte e recriando uma vida que não mais condições de existir.
O que me levou diretamente para a melhor narrativa do Superman nos quadrinhos. Na coletânea “O Que Aconteceu ao Homem de Aço?”, o escritor Alan Moore cria a história emocionante de “Para o Homem que tem Tudo”, com Clark Kent preso a uma planta espacial, definhando. Mas o parasita também lhe dá memórias falsas de uma vida em Kripton, onde ele reina ao lado do filho. Quando o herói percebe que está sendo enganado, há uma cena, de partir o coração, dele dizendo para o rebento que este não é real.  O desejo de viver outra vida em realidades paralelas já foi tema de inúmeros filmes, sendo o mais óbvio Matrix, além de outros como Show de Truman, Cidade das Sombras, A Vida em Preto e Branco e Eles Vivem. Na sua última temporada, Lost alterna dois mundos: o real, na ilha, e uma espécie de purgatório, após a morte dos personagens, onde estes conseguiram viver felizes e realizados.
Há um paralelo bruto nessa questão de realidade simulada com o que vive hoje a chamada Geração Y. Uma geração que, em sua maioria, acha que não existe nada além das próprias ambições. O reflexo está nas redes sociais: busca-se o ideal de corpo, cenário e status, mesmo que sob uma perspectiva falsa. O problema é que uma hora a conta chega e a frustração é certa. Não se aceita o fracasso, esquecendo que o mundo é feito por fracassados. Se todos fossem bem sucedidos, o mundo entraria em colapso. Lembrem que a Economia é o estudo da escassez e não da riqueza infinita. A realidade cobra um preço alto e se você não tiver equilíbrio, se torna uma pessoa egoísta, atrás de uma meritocracia fingida, que acha que o mundo lhe deve alguma coisa, ao invés de pensar que  nós é que devemos algo ao mundo.

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