Aviso:
Alguns pequenos spoilers sobre Lost e Arquivo X no texto a seguir.
No livro Simulacro e Simulações Jean Baudrillard
defende que, em qualquer sociedade, não há apenas um embate entre real e imaginário.
Mas sim, uma coexistência impossível graças à sedução do irreal frente a uma
realidade imperfeita. Os símbolos são mais importantes que sua representação.
Em todo o caso, o inconsciente pode ser manter confortável diante daquilo que
não domina e rejeita as imperfeições que mantém a própria humanidade com os pés
no chão, entre decepções, apegos morais e pequenos arroubos de
felicidade.
Estava pensando nessa relação ao rever um dos meus
episódios favoritos de Arquivo X: “A Sexta Extinção”, um dos poucos decentes da
7ª temporada. Nele, o agente Fox Mulder aceita a proposta de largar as
investigações e levar uma vida comum, de subúrbio, estilo American Way of Life,
com esposa e filhos, próximo de amigos. Mas no mundo real da série Mulder
padece, em coma, de um mal alienígena. A felicidade é pueril e imaginária. É o
seu corpo resistindo à morte e recriando uma vida que não mais condições de existir.
O que me levou diretamente para a melhor narrativa do
Superman nos quadrinhos. Na coletânea “O Que Aconteceu ao Homem de Aço?”, o
escritor Alan Moore cria a história emocionante de “Para o Homem que tem Tudo”,
com Clark Kent preso a uma planta espacial, definhando. Mas o parasita também
lhe dá memórias falsas de uma vida em Kripton, onde ele reina ao lado do filho.
Quando o herói percebe que está sendo enganado, há uma cena, de partir o
coração, dele dizendo para o rebento que este não é real. O desejo de viver outra vida em realidades
paralelas já foi tema de inúmeros filmes, sendo o mais óbvio Matrix, além de outros
como Show de Truman, Cidade das Sombras, A Vida em Preto e Branco e Eles Vivem.
Na sua última temporada, Lost alterna dois mundos: o real, na ilha, e uma
espécie de purgatório, após a morte dos personagens, onde estes conseguiram viver
felizes e realizados.
Há um paralelo bruto nessa questão de realidade
simulada com o que vive hoje a chamada Geração Y. Uma geração que, em sua
maioria, acha que não existe nada além das próprias ambições. O reflexo está
nas redes sociais: busca-se o ideal de corpo, cenário e status, mesmo que sob
uma perspectiva falsa. O problema é que uma hora a conta chega e a frustração é
certa. Não se aceita o fracasso, esquecendo que o mundo é feito por
fracassados. Se todos fossem bem sucedidos, o mundo entraria em colapso. Lembrem
que a Economia é o estudo da escassez e não da riqueza infinita. A realidade
cobra um preço alto e se você não tiver equilíbrio, se torna uma pessoa
egoísta, atrás de uma meritocracia fingida, que acha que o mundo lhe deve
alguma coisa, ao invés de pensar que nós
é que devemos algo ao mundo.

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