No início dos anos 2000, o estúdio de animação da Disney, berço de produções históricas e premiadas, passou por uma crise sem precedentes. Depois do sucesso de “Tarzan”, em 1999, os animadores não conseguiam mais fazer um grande filme. “Dinossauro” e “A Nova Onda do Imperador” tiveram apenas bilheterias razoáveis. Em seguida, entre 2001 e 2007, foi uma sequência espantosa de fracassos de público (à exceção de “Lilo e Stitch”), como “Atlantis”, “O Planeta do Tesouro” e “Irmão Urso”. A pá de cal parecia vir com o ruim “Nem que A Vaca Tussa” (que tinha feito o estúdio desistir das animações tradicionais) e o pior de todos: “O Galinho Chicken Little”. Tempos sombrios demais para a turma de Mickey e Cia.
Mas eis que, em uma tacada de mestre, a empresa abriu as malas e pagou alguns bilhões para comprar a Pixar, maior produtora de filmes de animação do mundo. O contrato previa que as marcas permaneceriam separadas, mas o comando criativo de ambas ficaria nas mãos de John Lasseter. E é impressionante como a entrada de Lasseter arrumou a casa, transformou os novos exemplares em estouros de bilheteria e ganhou aplausos da imprensa mundial (“A Família do Futuro” foi feita nesse meio tempo), como “Bolt”, “A Princesa e o Sapo” (que trouxe o 2D de volta), “Enrolados”, “Detona Ralph” e “Operação Big Hero”. “Frozen”, então, deixou os executivos com sorrisos de orelha a orelha e virou uma coqueluche entre os adolescentes.
“Zootopia” segue a mesma fórmula e colhe bons frutos. Um ótimo roteiro, animação deslumbrante e um banho de criatividade dos artistas responsáveis pela história. O primeiro grande barato de “Zootopia”, de cara, é respeitar a escala anamórfica dos animais. Todos os bichos agem e se movimentam seguindo sua própria estrutura corporal. Aliás, como todo ambiente urbano deveria fazer, a cidade funciona para os seus cidadãos de diferentes tamanhos e ecossistemas. Isso leva a algumas gags visuais inspiradas, como o metrô com vários tamanhos de saídas e as lanchonetes adaptadas para as girafas, onde a comida é ejetada por tubos. Divirtam-se ainda com as referências a “O Poderoso Chefão” e “Breaking Bad”.
A história é bem conduzida, com ação e surpresas. Mas, principalmente, por levantar temas atuais como o feminismo (que virou um padrão pós-Lasseter), a corrupção, justiça social e, principalmente, o combate ao fascismo, evidente quando determinado personagem diz: “O medo sempre funciona como política”. A lição que o filme deixa, no fim das contas, é que é possível aceitar as diferenças e incentivar a boa convivência urbana, lutando contra os discursos que pregam a intolerância. Ou a gente segue essas premissas ou corremos o risco de sermos extintos da face da terra, como algumas espécies da película. Porém, diferente do mundo selvagem, prejudicado pela ação humana, nós estamos condenados pela nossa própria ignorância e cobiça.
OURA
Boa surpresa eu tive ainda quando abri meu aplicativo de música e achei o disco “Oura”, de Allan Carvalho (um dos responsáveis pelo Duo Quaderna, junto com Cincinato Jr). Carvalho mostra um amadurecimento musical impressionante. O álbum é ótimo, cheio de camadas sonoras e referências musicais universais. Uma mistureba da boa. Tem toadas de boi, brega, guitarrada e surf music. Ouçam com atenção. Está nas melhores plataformas de streaming.
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