No domingo, dia 30 de agosto, os fãs de cinema lamentaram a morte do cineasta Wes Craven. E na última semana, estreou no cinema, o filme A Corrente do Mal (It Follows, 2015). O quê tem a ver uma notícia com a outra?. Tudo. Com absoluta certeza, o promissor David Robert Mitchell se inspirou bastante na filmografia de Craven para construir a atmosfera impactante que criou para a sua obra, um dos filmes de terror mais surpreendentes dos
últimos anos.
O enredo é simples, como em quase todo bom filme de horror: jovens são perseguidos por uma entidade maligna e desconhecida após terem relações sexuais. O grande problema é que o “monstro” não tem um perfil definido. Ele pode assumir qualquer identidade e aparecer a qualquer momento. A única chance de se livrar dele é fazendo sexo com outra pessoa, que acabando assumindo o carma para si. A tal corrente do título nacional.
Como dito, a produção tem influencias de algumas obras de Craven, como a paranoia sobrenatural de A Hora do Pesadelo (Nightmare On Elm Street, 1986). Além disso relaciona a questão do sexo com maldições, como em Benção Mortal (Deadly Blessing, 1980). Dentro dessa temática, há também similaridades em temática com Rabid (1977), obra ousada e repugnante de David Cronemberg, que foi dirigida em um período de lutas de gênero e liberdade sexual, mas também da proliferação de doenças venéreas.
É claro que a mira do cineasta também está nos slashers movies (filmes de psicopatas assassinados, sendo o mais famoso, o Jason de Sexta-Feira 13) da década de 1980, com direito a sustos fáceis e trilha sonora recheada de sintetizadores. Talvez, It Follows também seja o mais próximo de John Carpenter e seu Halloween que qualquer outra película nos últimos anos.
Porém, aqui, as metáforas são direcionadas para as primeiras relações entre os jovens, com mira nos medos e angústias de uma geração que está conectada ao mundo inteiro pela internet, mas ainda carrega muitas dúvidas sobre virgindade. A falta de contato familiar também é abordada com sutileza por Mitchell.
O cenário, somado a isso, é um personagem importante da história. Detroit foi o centro do desenvolvimento americano por décadas, graças à indústria automobilística. Era tão importante para a economia americana, que foi retratada como um centro tecnológico mundial em Robocop. É em um subúrbio da cidade que a história começa e depois avança para o centro da cidade. E o roteiro se passa ali por razões óbvias. Hoje, Detroit acumula prédios abandonados, ruas sujas e famílias vivendo próximas da linha da pobreza.
Assim como o ótimo Babadook, a Corrente do Mal é uma bela surpresa em um gênero que está sempre se reinventando, que é o Horror. Ou seja, para dar novidade é preciso subvertê-lo, algo que Wes Craven sempre buscou nos seus filmes, principalmente em obras como Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 1977) e, claro, Pânico (Scream, 1996).
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