Na última sexta-feira (25), quando comecei a
escrever este texto, havia uma fila gigantesca para trocar kit de material
escolar por ingressos para o show da banda norueguesa A-Ha. Este caso é mais um
exemplo de como os anos da década de 1980 ainda exercem um fascínio único nas
pessoas. Um misto de nostalgia e diversão, que até mesmo quem não viveu aquela
época sente. Mas, qual o motivo para a existência desse saudosismo cultural de
3 décadas atrás, que nenhum outro período é capaz de disputar?.
Bem, primeiro acho que o próprio período tem uma
resposta mais ou menos certa. Os EUA haviam passado pela Guerra do Vietnã. E os
jovens mudaram seu paradigma de comportamento, influenciados pela liberação
sexual e o desejo de ter a liberdade de fazer o que quiser, rompendo convenções
sociais. Em suma, a época que o pop dominou as paradas de sucesso, com Madonna,
Cindy Lauper e o funk modernizado do Michael Jackson. No cinema, o sucesso do
Clube dos Cinco e Curtindo a Vida Adoidado.
Enfim, a cultura pop abraçou sua vocação kitsch,
alegre e exagerada. E eis, que um astronauta fincou uma bandeira na lua, no
spot da MTV, e o estrago estava feito. Todo mundo adorava passar horas vendo
videoclipes, quando os criadores do Youtube ainda engatinhavam. A Europa
também passava por mudanças. A vocação industrial começa a perder fôlego, a
população da periferia já tinha tido voz com o Punk e o pós-punk doutrinava a
mente musical da garotada com Depeche Mode e The Smiths. Os sintetizadores
viraram instrumentos necessários e o próprio A-Ha nasceu nesse bom das batidas
eletrônicas.
Foi também a época que a tecnologia se tornou mais
acessível. O Walk-man e o Disc-man dominavam os ouvidos. A televisão estava
mais barata. Os videocassetes permitiam a gravação de musicais pela TV. E os
aparelhos de som 3 em 1 enfeitavam as salas. Toda prateleira que se prezasse,
tinha uma coleção de vinis e fitas-cassetes. Quem nunca trocou fitas com
coletâneas gravadas com os amigos?.
Bem, e quem viveu aquela época hoje beira a casa
dos 40 anos, tem maturidade, estabilidade financeira e ainda consome muito
daquilo. Não é a toa que as festas do Hot Classics são sinônimos de casa cheia.
E que os shows dos artistas que permanecem na ativa lotam igualmente. É por
isso que o Simple Minds e, por conseguinte, os anos 80, cantam com tanta
ênfase: “Don't You (Forget About Me)”. Se depender desse público consumidor, a
década não será esquecida tão cedo...