Para Nic Pizzolatto, não há um único fiapo de
esperança para o ser humano. E ele deixa isso bem claro com esta segunda
temporada de True Detective. Ok, na primeira o final teve rompantes de
felicidades e conformismos. Mas dessa vez, não temos tempo para alívios. Para o
autor, vivemos em uma sociedade que esconde seus podres atrás de falsos
moralismos e rompantes de hipocrisia, sob o manto falacioso do bem comum. Qualquer
tentativa de quebrar esse ciclo é paga com a morte.
Ao ampliar o leque de personagens e subtramas,
Pizzolatto amplifica essa sensação de angústia e desesperança. O ponto de
partida da história é o mesmo: um corpo com marcas de um assassinato cometido
com crueldade. Mas as semelhanças com o ano inicial da série terminam ai.
Enquanto no ano passado o roteiro resvalava no sobrenatural, aqui o realismo
finca o pé com força no pescoço.
Outra diferença está na direção: Cary Fukunaga deu
unidade às imagens no primeiro ato. Neste segundo ano, vários diretores se
revezaram por trás das câmeras, deixando a condução irregular, mas ainda digna
de muitas cenas bem conduzidas, como a do tiroteio sangrento no final do quarto
episódio. Até então, acompanhar a trama é um exercício de paciência. O
roteirista desenrolar a narrativa com toda a calma necessária e exigindo plena
atenção de quem assiste.
É uma espécie de mal necessário, pois tudo que
acontece lá na frente é um reflexo dessa construção linear (lembrando,
novamente, mais uma diferença com o ano inicial, que apoiava sua estrutura em
flashbacks). É claro que há momentos pelos quais parece que estamos perdidos
nos acontecimentos, mas, no fim, é tudo uma questão de “não tente entender,
apenas sinta”, como diria Jean Luc Goddard. Uma característica claramente
influenciada pelos filmes chamados Noir das década de 40 e 50 (também
homenageados em filmes como Chinatown, Blade Runner e Los Angeles - Cidade
Proibida). Tramas complexas, personagens sem caráter e anti-heróis cheios de
dúvidas são algumas fases desse gênero policial.
O único senão da produção é a participação de
três personagens listados como principais (e não vou dizer quais são), que
parecem deslocados do resto da trama. Um deles gera tão pouco interesse, que
sua saída brutal da temporada empalidece bastante e não gera o impacto
necessário. Entretanto, os atores compensam isso. Rachel McAdams e Colin
Farrell estão competentes como sempre, mas é Vince Vaughn a grande surpresa.
Acostumado a papéis em comédias, o ator consegue transformar seu mafioso em um
personagem desesperado e violento, como um animal selvagem encurralado em uma
armadilha. Só Vaugh já valeria assistir a série. Mas True Detective é mais.
Muito mais. A pergunta é: estamos prontos para mais uma temporada?. A
conferir.
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