segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Uma cidade com as veias abertas




Para Nic Pizzolatto, não há um único fiapo de esperança para o ser humano. E ele deixa isso bem claro com esta segunda temporada de True Detective. Ok, na primeira o final teve rompantes de felicidades e conformismos. Mas dessa vez, não temos tempo para alívios. Para o autor, vivemos em uma sociedade que esconde seus podres atrás de falsos moralismos e rompantes de hipocrisia, sob o manto falacioso do bem comum. Qualquer tentativa de quebrar esse ciclo é paga com a morte.
Ao ampliar o leque de personagens e subtramas, Pizzolatto amplifica essa sensação de angústia e desesperança. O ponto de partida da história é o mesmo: um corpo com marcas de um assassinato cometido com crueldade. Mas as semelhanças com o ano inicial da série terminam ai. Enquanto no ano passado o roteiro resvalava no sobrenatural, aqui o realismo finca o pé com força no pescoço.
Outra diferença está na direção: Cary Fukunaga deu unidade às imagens no primeiro ato. Neste segundo ano, vários diretores se revezaram por trás das câmeras, deixando a condução irregular, mas ainda digna de muitas cenas bem conduzidas, como a do tiroteio sangrento no final do quarto episódio. Até então, acompanhar a trama é um exercício de paciência. O roteirista desenrolar a narrativa com toda a calma necessária e exigindo plena atenção de quem assiste.
É uma espécie de mal necessário, pois tudo que acontece lá na frente é um reflexo dessa construção linear (lembrando, novamente, mais uma diferença com o ano inicial, que apoiava sua estrutura em flashbacks). É claro que há momentos pelos quais parece que estamos perdidos nos acontecimentos, mas, no fim, é tudo uma questão de “não tente entender, apenas sinta”, como diria Jean Luc Goddard. Uma característica claramente influenciada pelos filmes chamados Noir das década de 40 e 50 (também homenageados em filmes como Chinatown, Blade Runner e Los Angeles - Cidade Proibida). Tramas complexas, personagens sem caráter e anti-heróis cheios de dúvidas são algumas fases desse gênero policial.
 O único senão da produção é a participação de três personagens listados como principais (e não vou dizer quais são), que parecem deslocados do resto da trama. Um deles gera tão pouco interesse, que sua saída brutal da temporada empalidece bastante e não gera o impacto necessário. Entretanto, os atores compensam isso. Rachel McAdams e Colin Farrell estão competentes como sempre, mas é Vince Vaughn a grande surpresa. Acostumado a papéis em comédias, o ator consegue transformar seu mafioso em um personagem desesperado e violento, como um animal selvagem encurralado em uma armadilha. Só Vaugh já valeria assistir a série. Mas True Detective é mais. Muito mais. A pergunta é: estamos prontos para mais uma temporada?. A conferir. 

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