Há filmes pensados para serem grandiosos, mas se revelam pequenos. Existem também aqueles que, apesar de pequenos, são grandes em diversos sentidos. Uma Mulher sob Influência (A Women Under the Influence, 1974) está no segundo grupo. É um filme experimental, esteticamente radical e, propositalmente, com toques amadores. Mas possui uma temática poderosa e se torna mais rico quando avaliamos toda a carreira do diretor, o genial John Cassavetes.
Cassavetes dirigiu outras produções que adoro, como Glória (Gloria, 1980), Faces (1968) e Amantes (Loves Streams, 1984), mas é Uma Mulher Sob Influência que possui seu olhar definitivo sobre as relações sociais. Cassavetes explorava a alma humana e as relações dolorosamente reais entre as pessoas como um mineiro a retirar ouro de pedra. Aqui, ele usa sua genialidade para explorar em pequenas nuances a relação corroída entre Nick, um operário frustrado e cansado e Mabel, dona de casa incompreendida e amargurada, praticamente à beira da loucura.
Gena Rowlands está soberba como a personagem sufocada pela rotina e pelos graves devaneios mentais. Seus trejeitos, cacoetes cada vez mais intensos e desespero diante de um estado que não pode ser dominado são controlados com precisão dramática inigualável pelo diretor. Peter Falk tem o rosto marcante e duro e é ator adequado para o papel. A dupla transborda talento dramático para as cenas mais intensas, como da discussão diante dos filhos. Cassavetes trabalha assim, com pequenos constrangimentos. A cena do jantar com os amigos do trabalho de Nick também é esplendorosa. O cineasta estabelece um crescendo que passa de momentos felizes e íntimos para a vergonha total, em uma atmosfera asfixiante.
Rowlands trabalhou em quase todos os filmes de Cassavetes. Era sua esposa e confidente, ficando ao lado dele até a sua morte, em 1989. Como trabalhava com pouco dinheiro, ele contava com a atuação de amigos, que trabalhavam praticamente de graça, como Falk. Era um bom ator (foi o marido de Mia Farrow em O Bebê de Rosemary), mas foi por trás das câmeras que influenciou outros grandes cineastas como Roman Polansky, Paul Thomas Anderson e James Gray. Nick Cassavetes, filho do casal, é um bom diretor, mas está longe de ter o DNA de gênio do pai, que deixou um legado definitivo para e sobre o Cinema.
Um comentário:
Acho que vi uns dois filmes do Cassavetes, mas esse eu sempre pensava em ver e nunca me lembrava. Coloquei na lista agora, obrigado!
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