(Texto originalmente publicado na coluna Diário Cultural do Caderno Você, jornal Diário do Pará, edição de 30/03/2015)
Estreou essa semana em circuito reduzido no Rio de
Janeiro e São Paulo (Em Belém, esperamos que chegue logo), o novo filme de Paul
Thomas Anderson, Vício Inerente. É mais uma parceria do diretor com Joaquin
Phoenix, depois do espetacular O Mestre, de 2012. Pelo trailer dá pra
imaginar que P.T. Anderson (não confundir com outro cineasta ruim chamado Paul
W. Anderson – que cometeu todos os Resident Evil ) criou uma viagem lisérgica absurda
pelo universo da utopia hippie dos anos de 1960.
Seu primeiro filme foi o obscuro Jogada de Risco
(1996), mas o reconhecido internacional veio com Boogie Nights – Prazer sem
Limites (1997), que arrebatou três oscars, incluindo melhor roteiro original
para Anderson. E foi ali que ele deixou claro suas intenções: derrubar o sonho
americano, em todas as épocas e meios. Da indústria pornográfica às riquezas do
petróleo (Sangue Negro, 2007), passando pelo poder espiritual (O Mestre) ou do
amor fantasiado (Embriagado de Amor, 2002). Em Boogie Nights, as metáforas que
cercam a ostentação do dinheiro e do sexo são claras: Não há moral
possível diante de seres tão afeitos aos instintos animalescos da violência, do
dinheiro e do sexo.
Na visão de Anderson, a linha que separa o poder da
desgraça é tão tênue quanto a morte. O que sai da boca de um líder espiritual
ou de um guru de autoajuda não se difere pelo simples fato que é destinada a
públicos esvaziados de amor próprio. O diretor talvez seja o filho mais aplicado
daquela geração da década de 1970, que transformou o pessimismo social
americano pós-vietnã e a crise da indústria cinematográfica em um novo
movimento apoiado na realidade cruel e desencantada, como Martin Scorsese,
Robert Altman, Hal Ashby, Francis Ford Coppola e Sam Peckimpah.
Isso, claro, sem abrir mão de uma poética visual
própria, com planos médios e longas sequências. Em Magnólia, como um legítimo
Altman de Nashville, o autor cria várias pequenas histórias de personagens em
uma narrativa maior, com toques bíblicos e uma trilha poderosa de Aimee Mann. A
cena em que todos os personagens cantam Wise Up é uma das mais belas já criadas
para o cinema. E temos, claro, a inesquecível e debatida chuva de sapos, que
serve como um anticlímax perfeito para a trama. Anderson é assim. Consegue
extrair beleza do prosaico e da desesperança. É meu cineasta favorito dos anos
de 1990 pra cá.
Relatos Selvagens
E finalmente, o aclamado longa argentino “Relatos
Selvagens” chega à capital paraense. O filme de Damián Szifron, indicado ao
Oscar de melhor filme estrangeiro, estreia dia 01 de abril, no Cine Líbero
Luxardo. As sessões ocorrem de quarta a domingo, nos horários de 19h (aos
domingos, tem sessões ainda às 17h), com ingressos a R$ 8,00 e entrada franca
para estudantes. Falarei sobre o longa na próxima coluna.
Aimee Mann - Wise Up:
https://www.youtube.com/watch?v=aNmKghTvj0E
Aimee Mann - Wise Up:
https://www.youtube.com/watch?v=aNmKghTvj0E