segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Amour - 2012, Michael Haneke


Michael Haneke gosta de torturar o seu público. Em Violência Gratuita, levava o telespectador ao extremo da violência, jogando-o como cúmplice. Já no filme Caché, este era obrigado a acompanhar o olhar voyuer dos protagonista, levando o cinéfilo ao extremo da metalinguagem do cinema. Em Amour, sua mais recente obra, a tortura é imaginada usando todos os recursos estilísticos e técnicos do cinema em um exercício quase sádico.

 Amor acompanha um casal francês (vividos de maneira dolorosamente intensa por Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva) que  compartilha todos os segredos, gostos e hábitos diários há muitos anos. Mas, os mesmo anos são cruéis com o ser humano e o processo de deterioração do corpo é inevitável.
Aqui, Haneke prova sua genialidade. Os planos longos e silenciosos expõem todo o incômodo que um deles tem que enfrentar diante de uma rotina cruel que vai se impondo. Não há mais música que relaxe. E um simples gesto de dar água se transforma em um sacrifício dificil de lidar, e não é a toa que a violência acaba subindo à superfície, vergonhosa e sofrida.

O filme viaja para o futuro na primeira cena, enquanto policiais abrem o quarto trancado, com fitas e chaves e encontram um corpo sereno, sem vida, mas poeticamente ameaçado pelo fedor que incomoda quem está ali. Essa dicotomia entre o belo e o morto trespassa por toda a película. Música e silêncio. Vida e Morte.
A imagem da platéia de um concerto que nunca é mostrado reflete bem a angústia de se deparar com algo que não podemos dominar. Somos incapazes de virar a câmera pra ver o palco. E assim, obrigados a focar apenas na platéia, ficamos. Assim é a Morte. Nada podemos fazer, a não ser contemplar aquilo que ela quer.


E como é amargo o gosto de sua aproximação. Não há poesia em ver alguém que se ama prostrado na cama, e se sentir incapaz. O gesto, extremado, é chocante, mas compreendido. A renúncia poderia significar um recomeço, em um sonho quase absurdo, de ver a simples rotina de lavar pratos e sair para passear de volta. Mas, o impossível toma conta e só resta aprisionar o resto de amor que a amargura não levou em uma caixa. Aquele velho quarto, de tantas memórias. Afinal, enterros não valem a pena. São bizarros, na palavra do próprio protagonista. E sobra apenas a falsa ironia do título da obra.



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