quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Attack the block

Uma história bem contada não precisa de efeitos especiais grandiosos para prender a atenção do público. E não importa se o filme em questão traz como tema um ataque alienígena, que, por conceito, carece de um mínimo de investimento que permita ao espectador se envolver com a trama, torná-la crível. Em “Guerra dos Mundos”, por exemplo, Spielberg torrou cerca de 200 milhões de dólares e o resultado foi apenas regular. O original, da década de 50, com parcos recursos, quase um filme B, obteve muito mais êxito nesse aspecto.
Mas como sucesso de bilheteria é o fator levado em consideração pelos estúdios, não é exatamente uma surpresa que “Attack the block”, um filme inglês de baixo orçamento (13 milhões de dólares), nunca tenha chegado aos cinemas brasileiros. Ele não tem a “grife” hollywoodiana, embora seja produzido por Edgar Wright, responsável pelos excelentes “Todo mundo quase morto”, “Chumbo grosso” e “Scott Pilgrim contra o mundo”. Fora que não possui um Tom Cruise ou similar no elenco. O mais conhecido ali é Nick Frost, habitual colaborador de Wright. A direção é do desconhecido Joe Cornish.
O filme começa com uma inversão de valores. Os mocinhos aqui não são pessoas virtuosas, com quem podemos nos identificar facilmente. São os chamados “trombadinhas”, que fizeram de um bloco de condomínio o seu território, roubando com violência os desavisados que passam por ali. Ao atacarem uma moradora, são surpreendidos por um asteroide, que acerta em cheio um carro próximo. O líder da gangue, Moses, aproveita para vasculhar o automóvel destruído atrás de alguma coisa de valor, mas se depara com uma criatura que o fere e foge.
Inconformado, Moses parte à caça do que ele pensa ser uma espécie de porco-espinho e o mata. Ele leva o bicho para um traficante amigo seu analisar, já que o cara é fanático por Animal Planet e, quem sabe assim, faturarem uma grana. Mas, da janela do apartamento, Moses e sua gangue observam inúmeros asteroides caindo ali próximos. Não há dúvidas, é uma invasão.
O filme possui um forte caráter social, que retrata a juventude marginalizada londrina e a relação desta com a polícia local. Mas é uma carga de dramaticidade que não tira o foco da diversão, ao contrário, a reforça, utilizando-a como muleta para movimentar a narrativa, fazê-la andar. Uma disputa de poder no condomínio, que ocorre paralelamente, também serve a este propósito.
Mas esse contexto seria de pouca utilidade se as criaturas de “Attack the block” não causassem a tensão sugerida a todo instante. E como o orçamento não permitia grandes esforços da equipe de efeitos especiais, a opção foi por uma fotografia (por si só acinzentada para transmitir a melancolia que é viver naquele condomínio), mais escura quando os aliens surgem em cena, realçando sua capacidade destruidora com um intenso brilho azul das suas bocas. É simplesmente amedrontador.
A inventividade do roteiro prossegue até o final, quando descobrimos o porquê da insistente perseguição aos jovens (ao lado da vítima do assalto no início - em mais uma sacada genial - que terá que confiar sua vida aos seus inimigos), já que, a priori, as criaturas teriam toda a Inglaterra para espalhar o terror.
Enfim, é uma pena que “Attack the block” não chegue aos cinemas. São raros, hoje, os filmes de gênero que não insultem a inteligência do espectador. Parece que há uma regra implícita: para ser mainstream, é necessário vir mastigado. Ainda bem que existem as exceções e, claro, a internet para baixar essas preciosidades.

2 comentários:

Maick Costa disse...

O filme conseguiu me prender pelo detalhe de querer entender porque diabos da invasão/perseguição. Foi bem feito com o orçamento que tinha, apesar de eu ter achado um pouco tosco na história. No geral, eu gostei do filme.

Nando disse...

Talvez como em muitos filmes é até séries por aí, a invasão alienígena (que por incrível que pareça só acontece naquele bairro) sirva de cenário para o desenrrolar da historia. A dinâmica dos diálogos e aquela lambretinha de entregador de pizza foram alguns do maiores baratos desse filme =) Realmente uma pena esse filme não ter vindo para os cinemas, e quando acabei de ve-lo, pensei exatamente a mesma coisa: Ainda bem que temos como baixar filmes assim. No meu caso, Scott Pilgrim (também do Edgar Wright) foi do mesmo jeito