sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Elo Perdido

Sempre que ia à locadora, olhava para ele. Pegava, lia a contracapa. E nada. O deixava no mesmo lugar. O Rodrigo, meu amigo aqui do jornal, me ofereceu incontáveis vezes o arquivo que ele baixou da internet. Recusei cada uma delas. Muito medo. Era tão perfeito na minha memória, pra quê arriscar? Mas, ele não desistiu e me encontrou. Um belo dia – ou melhor, madrugada –, zapeando na TV por assinatura, eis que ia começar a exibição de “O Elo Perdido”, filme baseado na antiga série de televisão dos anos 70, que tanto assisti nas reprises da TVS (hoje SBT). Tomei, então, a decisão. Encarei o filme.
Ah se eu pudesse encontrar uma fenda dimensional, que me fizesse voltar no tempo. Não como a que a família Marshall se deparou no terremoto enquanto desciam a cachoeira. Não, não precisava ir tão longe, lá no tempo dos dinossauros. Cinco minutos antes de me acomodar no sofá bastavam. Desligava a TV, ia dormir e pronto. Me poupava uma boa dose de estresse. Isso é que dá não confiar nos meus instintos. Um filme que tem Will Ferrell como protagonista não pode dar certo. O cara até funciona em pontas, pequenas participações, mas à frente de um projeto sempre naufragou.
Veja bem, não é que o filme seja ruim. Ele é pavoroso. Esqueceram a ficção científica e fizeram uma comédia. E o pior, uma comédia que não faz rir. Ao contrário, é insultante, de mau gosto, com momentos de pura escatologia. O que dizer de um Cha-ka e Will Marshall se drogando, com direito a insinuações sexuais? E o dinossauro evacuando o personagem de Ferrel? Beira o ridículo. Sério mesmo que os roteiristas acharam que isso era engraçado?
A série era tosca, com limitação de cenários, figurinos, efeitos especiais que estavam mais para defeitos... Mas tinha conceitos interessantes, roteiros elaborados, criativos (pelo menos na primeira e segunda temporada) e, sobretudo, carisma. Era impossível não se envolver com a história, com a luta pela sobrevivência de uma família em uma terra pré-histórica. Além disso, o trabalho era sério. Foi criado até um alfabeto, com certa quantidade de palavras para os Pakuni, a raça de Cha-ka. Em resumo, a série tinha algo que o filme não mostrou em momento algum: dignidade.
No mais, era uma senhora diversão ver o T-Rex em stop-motion correr atrás dos personagens em todos os episódios até eles chegarem à caverna. E também tinha a abertura. Simplesmente sensacional. Até hoje não vi uma melhor em séries de ficção (veja abaixo). Lembro que corria para frente da TV toda vez que ouvia: “Marshall, Will and Holly, on the routine expedition...”. “O Elo Perdido” é, portanto, um exemplo de que grandes orçamentos não significam nada. Gastaram rios de dinheiro para fazer um filme bisonho, enquanto que uma série de poucos recursos até hoje, quarenta anos depois de seu lançamento, é lembrada com carinho pelos fãs.

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