sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Giallo - Reféns do medo

Um suspense sem suspense. Assim está sendo considerado pela maioria dos críticos o filme mais recente de Dario Argento, “Giallo – Reféns do medo”, que assisti nessa semana (o lançamento foi direto para DVD). Essa afirmação pode ser entendida de duas formas. Primeiro, que se trata de um filme sem mistérios narrativos. E realmente o é, já que a identidade do assassino é desvendada logo no início. Segundo, que Argento erra a mão e entrega um filme sem atrativos. Quanto a isso, não se enganem, afinal, não é à toa que o cineasta está no rol dos grandes mestres do cinema de horror.
“Giallo” pode não ter a força e a qualidade de um “Suspiria”, “Prelúdio para matar” ou “O pássaro das plumas de cristal”, mas ainda assim não faz feio na filmografia do diretor, que abdicou, pela primeira vez na carreira, de ser o encarregado de escrever o roteiro de um filme seu. E, por ironia do destino, este é um dos pontos fracos da produção. A princípio, a falta de um elemento surpresa iria subverter as regras e contaria como algo positivo, pois o enredo trabalharia basicamente um aprofundamento psicológico dos personagens. Mas isso cai por terra, já que o elenco é totalmente inexpressivo. Todos, inclusive o oscarizado Adrien Brody, atuam no automático. Isso sem contar que ficam várias pontas soltas no caminho – porém, nada que prejudique o entendimento final, sendo apenas situações desnecessárias.
Assim, o que “Giallo” apresenta de melhor é justamente a perícia de Argento em criar o clima de suspense e os enquadramentos por ele utilizados nas cenas de tortura e de extrema violência, alternando entre a simples exposição com a sempre eficaz sugestão das mesmas. E ficamos assim, como voyeurs de um verdadeiro show de horrores, pois o que importa para Argento não são os crimes em si, mas os métodos do assassino, seus motivos fúteis e torpes. “Sou feio e vou deixar todo mundo feio para me satisfazer sexualmente”, deve ser mais ou menos isso o que o seu vilão pensava ao retalhar as belas modelos sequestradas e fotografá-las para, depois, em frente ao computador, chupar uma chupeta e se masturbar.
Apesar de ter boas sacadas como essa citada acima, fica, pelo menos para mim, uma frustração: “Giallo – Reféns do medo” não é um legítimo giallo, como prometeu Argento durante a fase de produção do longa. Como assim? Essa palavra cunha um subgênero do cinema de horror italiano dos anos 70, que tem em Argento um de seus principais representantes. O giallo sempre trazia um assassino em série, revelado somente no final do filme, com um detetive em sua cola. Durante a projeção, mortes chocantes e apenas as mãos do vilão em luvas pretas de couro. Era basicamente isso. Argento – ou os roteiristas, não sei – quis inventar, tentar se reformular. Às vezes, até dá certo. Mas acho que ficou para a próxima. Sem problemas, ele tem crédito. E até um filme mediano do cara dá de dez a zero em superproduções que invadem os cinemas todo ano.

Texto publicado no caderno Por Aí desta sexta, dia 30

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