quarta-feira, 2 de maio de 2018

Fúria de Titãs



Em 2008, com paciência e planejamento, a Marvel decidiu que era hora de trilhar o próprio caminho no cinema e começar a arrecadar “alguns” bilhões de bilheteria. Iniciou com Homem de Ferro, que nem de longe era o personagem mais famoso da editora, mas tinha como trunfo ser uma experiência pioneira, além de Robert Downey Jr, o Tony Stark em pessoa. Um passo ambicioso para quem, anos antes, chegou a declarar falência e vendeu os direitos de muitos dos seus heróis para outros estúdios, como Fox e Sony, que não trataram bem essas criações (há exceções honrosas, como os primeiros X-Men, Deadpool e Logan). Era o momento de investir nos que sobraram e criar um universo próprio.
10 anos depois e 18 longas no currículo, a produtora é só sorrisos. Fez algumas coisas mais duvidosas, claro (Thor – Mundo Sombrio, Homem de Ferro 3). Mas no geral, o saldo é mais que positivo. E Vingadores – Guerra Infinita (Infinity War, 2018) é a grande culminância desse projeto bem-sucedido. Mas que isso, é uma homenagem aos leitores de quadrinhos com mais de 30 anos. Tem crossovers, lutas sincronizadas, atos grandiosos, sacrifícios. Quem passou a infância fascinado com a era de prata das Hqs sai do cinema com lágrimas nos olhos.
Arrisco dizer ainda que é o filme-evento da década, como Star Wars, Matrix e o Senhor dos Anéis já foram um dia. Um grande blockbuster que agrada a quase todos e redefine os padrões para os campeões de bilheteria. Mas tudo isso iria por água abaixo se a produção fosse ruim e apenas colagem de cenas aleatórias de ação (sim, Liga da Justiça, estou olhando pra você). Entretanto, a direção dos irmãos Anthony e Joe Russo é correta, as lutas são bem coreografadas e o roteiro (também de uma dupla: Christopher Markus e Stephen McFeely) é ótimo por conseguir amarrar todas as subtramas e os mais de 50 personagens (!!!), dando espaço e motivação para todos. Sim, tudo funciona como uma grande engrenagem, com espaço para ação, drama, romance e muito humor.  
A Marvel foi bem corajosa em dar carta branca para Markus e McFeely subverter alguns cânones da mitologia cinematográfica e fazer sacrifícios pelo bem da narrativa. Dizer algo mais é dar spoiler, diminuindo o impacto do final e da cena pós-crédito.  A trilha sonora melhorou bastante e é épica no ponto certo. Os efeitos especiais são bem feitos, principalmente relacionado ao CGI dos vilões.
Falando em vilões, também nada serviria se o principal deles, aquele que vem cercando o universo Marvel desde Vingadores 1, não desse certo. Mas dá muito. Isso porque, novamente, os roteiristas apostaram na carta certa. Thanos é ameaçador, carismático e tem uma motivação, que apesar de incorreta, é justificável (como Killmonger tinha em Pantera Negra, outro ótimo antagonista).  Guerra Infinita gira em torno dele e seus atos e Josh Brolin carrega o personagem nas costas com maestria.
Apesar dos efeitos visuais carregarem o rosto e corpo do titã louco, Brolin consegue liberar nuances interpretativas no olhar, gestos e voz. Nada de risadas histriônicas ou gestos forçados. Dá pra perceber quando ele está com raiva, dúvida ou curioso nos pequenos detalhes. E perceber isso é extremamente satisfatório para quem gosta de ver um grande ator em cena. Cito outro destaque: Thor, que finalmente é o Deus que esperamos dele, com as melhores cenas de pular da cadeira e vibrar (e Chris Hemsworth, quem diria, cortou a canastrice junto com suas longas madeixas).
Guerra Infinita é tudo que esperamos – ou não – de um épico da Marvel e que nos deixa já ansiosos para a próxima edição, desculpa, produção, daqui a um ano. Só faltou um “continua” no fim da página. Jack Kirby, do seu trono no paraíso da arte sequenciada, deve estar orgulhoso.

Nenhum comentário: