Em 2008, com paciência e planejamento, a Marvel
decidiu que era hora de trilhar o próprio caminho no cinema e começar a
arrecadar “alguns” bilhões de bilheteria. Iniciou com Homem de Ferro, que nem
de longe era o personagem mais famoso da editora, mas tinha como trunfo ser uma
experiência pioneira, além de Robert Downey Jr, o Tony Stark em pessoa. Um
passo ambicioso para quem, anos antes, chegou a declarar falência e vendeu os
direitos de muitos dos seus heróis para outros estúdios, como Fox e Sony, que
não trataram bem essas criações (há exceções honrosas, como os primeiros X-Men,
Deadpool e Logan). Era o momento de investir nos que sobraram e criar um
universo próprio.
10 anos depois e 18 longas no currículo, a
produtora é só sorrisos. Fez algumas coisas mais duvidosas, claro (Thor – Mundo
Sombrio, Homem de Ferro 3). Mas no geral, o saldo é mais que positivo. E Vingadores
– Guerra Infinita (Infinity War, 2018) é a grande culminância desse projeto
bem-sucedido. Mas que isso, é uma homenagem aos leitores de quadrinhos com mais
de 30 anos. Tem crossovers, lutas sincronizadas, atos grandiosos, sacrifícios.
Quem passou a infância fascinado com a era de prata das Hqs sai do cinema com
lágrimas nos olhos.
Arrisco dizer ainda que é o filme-evento da década,
como Star Wars, Matrix e o Senhor dos Anéis já foram um dia. Um grande
blockbuster que agrada a quase todos e redefine os padrões para os campeões de
bilheteria. Mas tudo isso iria por água abaixo se a produção fosse ruim e
apenas colagem de cenas aleatórias de ação (sim, Liga da Justiça, estou olhando
pra você). Entretanto, a direção dos irmãos Anthony e Joe Russo é correta, as
lutas são bem coreografadas e o roteiro (também de uma dupla: Christopher
Markus e Stephen McFeely) é ótimo por conseguir amarrar todas as subtramas e os
mais de 50 personagens (!!!), dando espaço e motivação para todos. Sim, tudo
funciona como uma grande engrenagem, com espaço para ação, drama, romance e
muito humor.
A Marvel foi bem corajosa em dar carta branca para
Markus e McFeely subverter alguns cânones da mitologia cinematográfica e fazer
sacrifícios pelo bem da narrativa. Dizer algo mais é dar spoiler, diminuindo o
impacto do final e da cena pós-crédito. A trilha sonora melhorou bastante
e é épica no ponto certo. Os efeitos especiais são bem feitos, principalmente
relacionado ao CGI dos vilões.
Falando em vilões, também nada serviria se o
principal deles, aquele que vem cercando o universo Marvel desde Vingadores 1,
não desse certo. Mas dá muito. Isso porque, novamente, os roteiristas apostaram
na carta certa. Thanos é ameaçador, carismático e tem uma motivação, que apesar
de incorreta, é justificável (como Killmonger tinha em Pantera Negra, outro
ótimo antagonista). Guerra Infinita gira em torno dele e seus atos e Josh
Brolin carrega o personagem nas costas com maestria.
Apesar dos efeitos visuais carregarem o rosto e
corpo do titã louco, Brolin consegue liberar nuances interpretativas no olhar,
gestos e voz. Nada de risadas histriônicas ou gestos forçados. Dá pra perceber
quando ele está com raiva, dúvida ou curioso nos pequenos detalhes. E perceber
isso é extremamente satisfatório para quem gosta de ver um grande ator em cena.
Cito outro destaque: Thor, que finalmente é o Deus que esperamos dele, com as
melhores cenas de pular da cadeira e vibrar (e Chris Hemsworth, quem diria,
cortou a canastrice junto com suas longas madeixas).
Guerra Infinita é tudo que esperamos – ou não – de
um épico da Marvel e que nos deixa já ansiosos para a próxima edição, desculpa,
produção, daqui a um ano. Só faltou um “continua” no fim da página. Jack Kirby,
do seu trono no paraíso da arte sequenciada, deve estar orgulhoso.
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