segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A escolha de Sofia





Sofia Coppola tem uma trajetória no Cinema muito interessante. Filha de um dos maiores diretores da história (Francis Ford Coppola, que dispensa apresentações), ela seguiu o mesmo rumo do pai, mas encontrou sua luz própria, com uma estética particular e investindo em protagonistas mulheres independentes e de atitude, mas não necessariamente fortes psicologicamente. Pelo contrário, muitas delas exacerbam os conflitos internos e externos e as narrativas se encaminham na consequência dessas condições extremadas, entre o frágil e o impulsivo (como nos ótimos As Virgens Suicidas e Encontros e Desencontros).
Em “O Estranho que Nós Amamos” (2017), Sofia depura essas contradições e exorciza o fantasma criativo que a atormentava depois de uma sequência de filmes apenas razoáveis (“Maria Antonieta”, “Um Lugar Qualquer” e “Bling Ring”). Para isso, foi buscar inspiração no livro de mesmo nome de Thomas Cullinan e também na primeira adaptação da década de 1970, dirigida por Don Siegel e estrelada por Clint Eastwood (ela manteve a inspiração nos créditos do roteiro), o qual já está na minha lista para ser visto em breve.
Na trama que se passa no século 19, em plena Guerra Civil nos Estados Unidos, um soldado inimigo ferido busca refúgio em um decadente internato feminino, onde moram cinco meninas de várias idades, comandadas pela sisuda Miss Martha (Nicole Kidman, ótima) e a introspectiva Edwina (Kirsten Dunst, atriz preferida de Sofia). Isoladas no local, elas começam a se interessar pelo hóspede por diferentes motivos e ele aproveita para manipulá-las.
Coppola é uma grande diretora e cria belíssimos planos externos, com uma fotografia natural deslumbrante. O som tem uma função evocativa à tensão sexual, com o barulho de bombas e cigarras reforçando esse crescendo narrativo, além de uma trilha sonora econômica na medida certa. Ela, inclusive, ganhou a Palma de Ouro em Cannes de melhor diretora pela adaptação.
Apesar das fragilidades do roteiro, com mudanças repentinas de comportamento e situações meio absurdas, a trama funciona por apostar nas contradições das personagens e a suas diferentes personalidades. À medida que a trama caminha para o enfrentamento e vingança, as reais intenções de todos começam a aflorar. É nesse cinismo, adicionado de camadas feministas, que a cineasta move suas peças e enche de sangue os alvos vestidos das donzelas da película. Que no fim das contas, não são tão
inocentes assim...

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