terça-feira, 25 de junho de 2013

Game of Thrones é um grande novelão da Globo


Novamente o aviso: o texto aqui trata unicamente da série de TV. Não li os livros nos quais foi adaptada.
Game of Thrones não é uma série ruim. Longe disso. Tem qualidades que remetem ao padrão HBO de excelência em séries. A produção é caprichada e os efeitos melhoraram muito. A série pode se gabar ainda de ter atores excelentes e veteranos (Charles Dance, Iain Glen, Ciaran Hinds, Peter Dinklage) e uma trilha sonora bem conduzida.

O problema está no que seria vital para qualquer narrativa seriada: a sua história. São tantos problemas e furos que fica difícil se empolgar com tudo o que se passa na tela. Os roteiristas (volto a dizer, não sei o que George R.R. Martin faz nos livros) começaram jogando uma penca de personagens a tela.

Se você não for Robert Altman, fica difícil se interessar por algum personagem específico ou pelo seu desenvolvimento. É tanta gente, que tem momentos que um aparece em cena depois de tanto tempo que tenho que puxar muito na memória ou recorrer ao Google para relembrar quem é o dito cujo. (como a turma de Thoros de Myr). E outros, simplesmente, desaparecem sem justa causa (cadê a tal de Lady Arryn e seu filho mamador bizarro?).



Outro problema é a falta de vontade em resolver os nós da história. Na minha opinião, ficou tão problemático fechar os arcos da mitologia de Westeros que a única opção é matar personagens. A morte é um recurso dramático essencial para as narrativas, mas pode servir de muleta dramática quando ela acontece sem uma definição daquilo que a introduz. Além de que, é extremamente desonesto com que acompanha o desenrolar dos acontecimentos. Coisa que autores da Globo, como Glória Perez e Gilberto Braga adoram fazer.

O exemplo claro disso é o tal de Casamento Vermelho. Justiça seja feita, as cenas foram bem filmadas, são tensas e o final é impactante. Mas, precisávamos mesmo de 29 episódios para ter algo assim? E o que as mortes de Robb Stark e sua mãe acrescentam à história? E todo aqueles dilemas de guerra que acompanhamos antes? Como disse, funciona como algo para tapear o telespectador.

Mesmo assim, gostei de mais coisas agora que nas outras temporadas: Finalmente, Khaleesi e sua turminha da pesada começam a ter um desenvolvimento adequado, com a conquista de um exército e a luta contra a escravidão. E os dragões já são ameaçadores, isso é bom. Jaime Lannister também está ganhando uma espécie de redenção e é um caminho interessante para o personagem.

Adoro também o duelo de interpretações de Charles Dance e Peter Dinklage como pai e filho. A dupla dá um show de ironia, vergonha e presunção. E os diálogos entre os dois são sensacionais. Tenho que saudar ainda a atriz Michele Farley, que dá um peso dramático para Lady Stark. Sua angústia em ver sua família desmoronando é real e dá uma angústia. Emmy e Globo de Ouro pra ela. Uma pena que tenha tão pouco tempo em cena.

De resto, é aquilo: Bran e Rickon ficam peruando por ai, Jon Snow não serve pra nada e o tal de Stannis Baratheon fica alí, chorando, enquanto aquela bruxa vermelha o faz de trouxa. E o que é o personagem de Davos? Salvem o personagem de Liam Cunhingham da mesmice!. E sério mesmo? O tal de Theon passou a temporada inteira sendo torturado naquela câmara? Precisa disso?

Os: Porra, cadê os zumbis? Só apareceu um depois de todo aquele exército legal do final da segunda temporada?

Pensando um pouco mais nessa questão da falsa história de Game of Thrones, resolvi fazer umas comparações com autores de novelas da Globo. Vamos lá:

- A série tem dezenas de personagens, o que faz com que muitos sejam esquecidos ou fiquem perdidos em cena. (novela da Glória Perez)

- Homens e mulheres com pouca roupa, sujos e suados. (estilo Carlos Lombardi)

- Personagens são mortos sem que nos importemos com eles apenas para servir de muleta dramática. (Gilberto Braga, é com você)

- Didatismo, cara. Odeio didatismo. (Sílvio de Abreu ficou mestre nisso).

- Falsas polêmicas com cara de crítica social. (Glória ai de novo e, em menor grau, Walcir Carrasco)

- Cenas que só servem para encher bucha e que nada acrescentam à história. (todos os mencionados)

- Alívios cômicos forçados. (Sílvio e Lombardi no par ou ímpar).
  



sexta-feira, 7 de junho de 2013

Um novo massacre

Tenho duas imagens bem distintas, porém igualmente fortes na memória, quando o assunto é a saga da família de Leatherface. A primeira remete ao desconforto e tensão que tive ao assistir ao filme de Tobe Hooper, o clássico de 1974. Não foi medo, mas algo além disso, uma espécie de transe, similar àquele estágio angustiante entre o sono e o despertar, quando os pesadelos se tornam bem reais. A segunda imagem é de uma histeria coletiva de risos. Uma tarde de trabalho em que a redação do jornal parou para acompanhar a parte dois da série, um amontoado de absurdos que desafiava qualquer lógica e desde então se inseria na categoria de um dos maiores filmes trashs que já vi na vida. A cena final com a sobrevivente girando a motosserra no ar arrancou aplausos entusiasmados de todos os presentes. 
O Massacre da Serra Elétrica é assim: oito ou oitenta, indiferente não dá para ficar. Eu, particularmente, gosto de todas as encarnações da história. Leatherface e seus pares são personagens instigantes, seja provocando o terror ou a comédia. Sim, porque embora ele seja um ícone do cinema de horror baseado na seriedade do filme original, do que veio depois pouco se salva para o gênero, apenas alguns sustos e, claro, o fato de haver litros de sangue falso jorrados pelas vítimas do maníaco. Mas é tudo tão nonsense, tão descabido e feito nas coxas, que você não compra as tramas apresentadas, não te tocam como a primeira versão. Mas podem ser consumidas como passatempos, dá pra se divertir. 
Todas as gerações já tiveram contato com algum exemplar da franquia, seja uma sequência, remake ou um “prequel” (história de origem). Talvez o que tenha ficado mais marcado seja a infame refilmagem de 2003, com Jessica “Camiseta Molhada” Biel, que, por vias tortas, manteve o tom claustrofóbico do original, proporcionado por uma irritante linguagem de videoclipe, na moda à época. Agora, para aproveitar a onda, também irritante, do 3D, eis que surge uma sequência que ignora tudo o que veio após o filme de 74, mas que segue a mesma regra de todos aqueles cuja pretensão tentou sufocar ao se declarar a “continuação oficial”: clichês à exaustão, com alguns pontos positivos aqui e ali. 
A cartilha é conhecidíssima: grupo de amigos da cidade vai para uma cidade do interior, onde um por um, serão surpreendidos pelo assassino. E claro que não falta a mocinha tropeçando enquanto foge e as demais vítimas fazendo as piores e inconcebíveis escolhas. Algo como na paródia Todo Mundo em Pânico, em que ao se deparar com uma placa indicando as direções para “Morte” e “Segurança”, a opção é sempre pelo primeiro caminho. Fora que a simples leitura de uma carta logo no começo – recomendada com fervor por um dos personagens – teria evitado... Bem, teria evitado que o filme acontecesse. Deixando a metalinguagem de lado, o diagnóstico só pode ser burrice aliada a uma extrema falta de curiosidade. 
De positivo, embora também inverossímil, a virada final, que parece ter se inspirado no ideal de Zé do Caixão ao exaltar a linhagem, o sangue, como uma verdadeira fonte de poder, e o fato de subverter as regras da “última garota” para criar uma intimidade forçada e até nossa simpatia com a “causa” do vilão. Um desfecho improvável, mas que pelo menos escapou do lugar comum. E, cá pra nós, na altura dos acontecimentos qualquer surpresa era bem-vinda, valia tudo, pois não é possível que alguém ainda estivesse levando o filme a sério. Ele já se enquadrava no rol dos trashs, tinha mesmo que fazer por onde. 
O primeiro O Massacre da Serra Elétrica, portanto, continua único. Ali você pode ter uma noção dos crimes cometidos por Ed Gein, que serviram de base para a criação da saga. Dá medo, causa palpitações. É sensacional. O resto é Hollywood brincando com ketchup, botando em prática ideias estapafúrdias, atuações ridículas, roteiros furados e, intencionalmente ou não, engraçados. O que, para quem gosta de filmes trashs, também é sensacional. Escolha o que mais lhe agrada, não leve em consideração que a “serra elétrica” na verdade é uma “motosserra” – cortesia dos tradutores brasileiros – e bom massacre.