Novamente o aviso: o texto aqui trata unicamente da
série de TV. Não li os livros nos quais foi adaptada.
Game of Thrones não é uma série ruim. Longe disso.
Tem qualidades que remetem ao padrão HBO de excelência em séries. A produção é
caprichada e os efeitos melhoraram muito. A série pode se gabar ainda de ter
atores excelentes e veteranos (Charles Dance, Iain Glen, Ciaran Hinds, Peter
Dinklage) e uma trilha sonora bem conduzida.
O problema está no que seria vital para qualquer
narrativa seriada: a sua história. São tantos problemas e furos que fica
difícil se empolgar com tudo o que se passa na tela. Os roteiristas (volto a
dizer, não sei o que George R.R. Martin faz nos livros) começaram jogando uma
penca de personagens a tela.
Se você não for Robert Altman, fica difícil se
interessar por algum personagem específico ou pelo seu desenvolvimento. É tanta
gente, que tem momentos que um aparece em cena depois de tanto tempo que tenho
que puxar muito na memória ou recorrer ao Google para relembrar quem é o dito
cujo. (como a turma de Thoros de Myr). E outros, simplesmente, desaparecem sem
justa causa (cadê a tal de Lady Arryn e seu filho mamador bizarro?).
Outro problema é a falta de vontade em resolver os
nós da história. Na minha opinião, ficou tão problemático fechar os arcos da
mitologia de Westeros que a única opção é matar personagens. A morte é um
recurso dramático essencial para as narrativas, mas pode servir de muleta
dramática quando ela acontece sem uma definição daquilo que a introduz. Além de
que, é extremamente desonesto com que acompanha o desenrolar dos
acontecimentos. Coisa que autores da Globo, como Glória Perez e Gilberto Braga
adoram fazer.
O exemplo claro disso é o tal de Casamento Vermelho.
Justiça seja feita, as cenas foram bem filmadas, são tensas e o final é
impactante. Mas, precisávamos mesmo de 29 episódios para ter algo assim? E o
que as mortes de Robb Stark e sua mãe acrescentam à história? E todo aqueles
dilemas de guerra que acompanhamos antes? Como disse, funciona como algo para
tapear o telespectador.
Mesmo assim, gostei de mais coisas agora que nas
outras temporadas: Finalmente, Khaleesi e sua turminha da pesada começam a ter
um desenvolvimento adequado, com a conquista de um exército e a luta contra a
escravidão. E os dragões já são ameaçadores, isso é bom. Jaime Lannister também
está ganhando uma espécie de redenção e é um caminho interessante para o
personagem.
Adoro também o duelo de interpretações de Charles
Dance e Peter Dinklage como pai e filho. A dupla dá um show de ironia, vergonha
e presunção. E os diálogos entre os dois são sensacionais. Tenho que saudar
ainda a atriz Michele Farley, que dá um peso dramático para Lady Stark. Sua
angústia em ver sua família desmoronando é real e dá uma angústia. Emmy e Globo
de Ouro pra ela. Uma pena que tenha tão pouco tempo em cena.
De resto, é aquilo: Bran e Rickon ficam peruando por
ai, Jon Snow não serve pra nada e o tal de Stannis Baratheon fica alí,
chorando, enquanto aquela bruxa vermelha o faz de trouxa. E o que é o
personagem de Davos? Salvem o personagem de Liam Cunhingham da mesmice!. E sério
mesmo? O tal de Theon passou a temporada inteira sendo torturado naquela câmara?
Precisa disso?
Os: Porra, cadê os zumbis? Só apareceu um depois de
todo aquele exército legal do final da segunda temporada?
Pensando um pouco mais nessa questão da falsa
história de Game of Thrones, resolvi fazer umas comparações com autores de
novelas da Globo. Vamos lá:
- A série tem dezenas de personagens, o que faz com
que muitos sejam esquecidos ou fiquem perdidos em cena. (novela da Glória
Perez)
- Homens e mulheres com pouca roupa, sujos e suados.
(estilo Carlos Lombardi)
- Personagens são mortos sem que nos importemos com
eles apenas para servir de muleta dramática. (Gilberto Braga, é com você)
- Didatismo, cara. Odeio didatismo. (Sílvio de Abreu
ficou mestre nisso).
- Falsas polêmicas com cara de crítica social. (Glória ai de novo e, em menor grau, Walcir Carrasco)
- Cenas que só servem para encher bucha e que nada
acrescentam à história. (todos os mencionados)
- Alívios cômicos forçados. (Sílvio e Lombardi no par
ou ímpar).