segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O mundo virou um ringue entre humanos e zumbis





Quando o personagem Jack fechou os olhos em Lost, em 2010, houve uma corrida na TV americana. Os produtores queriam, na marra, criar logo uma série que preenchesse a lacuna da história sobre a ilha misteriosa como fenômeno de mídia: Lost fez muito sucesso tanto na TV quanto na internet, gerando inúmeros sites, blogs e fóruns de discussões sobre seus mistérios e reviravoltas dos roteiros. A geração de fãs da história cresceu na medida em que os rumos da convergência entre as mídias mudaram. A cada final de episódio, os “lostmaniacos” corriam para a internet para compartilhar impressões e comentar tudo o que houve naquela hora.

É claro que muita besteira foi posta ao ar nessa vã tentativa: séries como The Event, Flash Forward, V e Alcatraz eram criadas e canceladas em escala industrial. Histórias rasas e sem empolgação afastaram o público. Outras até que conseguiram ser excelentes, porém sem muita gente disposta a assistir - como Fringe (que merece uma nova chance, por sinal).

E foi preciso um senhor vir do cinema, com uma coleção de quadrinhos debaixo do braço pra dar um novo alento a este quadro. Sorte da emissora AMC, que comprou a ideia do cineasta Frank Darabont de adaptar The Walking Dead para a TV. Darabont já tinha experiência em adaptações para a tela grande, que foram premiadas e aplaudidas pela crítica, como À Espera de Um Milagre, O Nevoeiro e, principalmente, Um Sonho de Liberdade.

O que fez Darabont se apaixonar pela história em quadrinhos de Robert Kirkman (até então apenas conhecido pela série Marvel Zombies), foi sua capacidade de angustiar e surpreender o leitor com um tema já batido: O apocalipse Zumbi.
Série transporta para a TV o que há de melhor na versão em quadrinhos

Cheia de referência de outras histórias de zumbis como Extermínio (já copiada descaradamente na sua sequência inicial), A Volta dos Mortos Vivos e, claro, da filmografia do pai dos mortos, George Romero, Darabont deu o pontapé inicial da série e Kirkman se tornou um dos produtores. Após uma briga, o diretor demitiu roteiristas e depois deixou a série, deixando o abacaxi nas mãos de outro produtor experiente; Glenn Mazzara (The Shield). Essa troca fez alguns estragos no andamento da história na 2ª temporada, mas Mazzara recupera-se bem na terceira.


OS FRACOS NÃO TÊM VEZ

Espertamente, a série apresenta o que de melhor tem na arte sequencial e acrescenta novos ingredientes, inclusive mudando rumos do enredo. Personagens morrem mais cedo e outros são criados. Alguns já são os preferidos dos fãs, como Daryl Dixon. Mas o terror sobre o que ainda pode acontecer permanece. E talvez seja isso que esteja atraindo tantos fãs. Ninguém está a salvo, nem mesmo as crianças.

Enquanto a primeira temporada foi de atenção ao mundo trágico e novo, a segunda trouxe uma ilusória sensação de paz na fazenda, até a destruição da esperança na frase de Rick: “Isto não é uma democracia”. A terceira traz uma nova e simbólica fase: dentro de uma prisão, uma analogia semiótica à situação-limite que todos vivem. Além disso, teremos um novo terror à espreita: o Governador. Quem leu os quadrinhos sabe o que isso significa. Quem não leu, não perde por esperar. Aliás, vai perder sim: um pouco do sono. Boas histórias de terror geram sensação de desconforto com os créditos finais. Walking Dead vem cumprindo isso à risca, e com louvor.

(Texto meu publicado no Diário do Pará do dia 18/11/2012 -  Caderno Você)

Um comentário:

Tanto disse...

Vivo meus dias esperando pelas terças-feiras. Adorei o texto.