
Não dá nem para explicar direito o turbilhão de
sentimentos a cada página virada em suas graphic novels e demais quadrinhos,
mas vou tentar fazer uma rápida retrospectiva até chegar onde quero. Bom, primeiro
fiquei instigado com “Do Inferno”, depois minha visão de mundo foi
sensivelmente alterada ao ler “V de Vingança”, vibrei com a origem do Coringa
em “A Piada Mortal” e meu queixo caiu com “Watchmen”. Citei apenas os mais
importantes para, enfim, dizer que nada, absolutamente nada, se compara a “Lost
Girls”.
A obra foi lançada em 2007 e desde então sempre
tive vontade de ler, mas fui adiando. Ganhei os dois primeiros encadernados de
aniversário e comprei o último. Me arrependi da demora. Li em um dia, não deu
para interromper. Moore chegou no auge da sua imaginação, realmente elevando a
pornografia ao status de arte, dentro da cultura pop. Ele amplia a forma
sarcástica e irônica com que Woody Allen, por exemplo, aborda o sexo,
tornando-o o centro de tudo em nossa vida e mostrando as suas diversas facetas
num trabalho sério e profundo sobre o psiquê humana.
Se ficaram preocupados com a palavra “pornografia”,
podem ficar tranquilos, pois a narrativa é elegante e a criatividade é
aflorada, com os desenhos de Melinda Gebbie evocando a art nouveau, fazendo com
que as sequências eróticas sejam um colírio não só aos olhos, mas também à
mente, tendo o seu ponto alto em uma sequência que revela todo o desejo e luxúria
reprimidos por meio de um jogo de sombras durante uma conversa banal. Já o
roteiro de Moore mostra como o sexo rege o nosso destino e, para tal, situa a
história às vésperas da Primeira Guerra Mundial, a fim de promover o embate
entre a celebração da vida (o sexo) e a certeza da morte (guerra, destruição).
É um tratamento de choque, mas que funciona como antídoto para a ignorância, o
falso moralismo e a hipocrisia.
Deixei propositalmente para o final o detalhe que,
embora seja o mais óbvio, paradoxalmente, é o mais interessante de toda a
história: as suas protagonistas. Moore desconstrói os contos de fada e os
reinterpreta como uma alusão à iniciação sexual. Wendy, Alice e Dorothy, de
Peter Pan, Alice no País das Maravilhas e O Mágico de Oz, respectivamente, se
encontram num hotel na Áustria e compartilham suas experiências, que, aos seus olhos
de crianças, à época, ganhavam uma atmosfera de sonho e encantamento,
marcando-as para sempre. Daí vem o título do livro. Elas se conhecem e tentam
resgatar as meninas que foram um dia e se perderam pela vida.
Alan Moore mostra, portanto, que na ficção tudo é possível e não há limites para o verdadeiro artista. Ele explora o formato dos quadrinhos à exaustão, como, acredito, nunca tinha feito antes e expõe seus pensamentos para o público, tendo na pornografia, ou erotismo, que é como ele prefere, apenas um caminho. O que importa mesmo é enriquecer os leitores com um debate de ideias e uma gama de referências culturais. Se a opção pelo tema foi para chocar, não sei dizer. Só o que sei é que espero ler de Moore muitas outras loucuras geniais, ou genialidade loucas, se preferir.
Alan Moore mostra, portanto, que na ficção tudo é possível e não há limites para o verdadeiro artista. Ele explora o formato dos quadrinhos à exaustão, como, acredito, nunca tinha feito antes e expõe seus pensamentos para o público, tendo na pornografia, ou erotismo, que é como ele prefere, apenas um caminho. O que importa mesmo é enriquecer os leitores com um debate de ideias e uma gama de referências culturais. Se a opção pelo tema foi para chocar, não sei dizer. Só o que sei é que espero ler de Moore muitas outras loucuras geniais, ou genialidade loucas, se preferir.
Um comentário:
Fiquei curiosos com o livro... ótima pedida... muito boa a apresentação e o texto, inspiradores!
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