domingo, 24 de outubro de 2010

À Prova de Morte (Death Proof, 2007)



Após a sua sensacional estréia em Cães de Aluguel, Quentin Tarantino descobriu que a Girl Power era a maior marca de suas influências cinematográficas. Claramente influenciado pela estética Pulp, o diretor reforçou suas características metanoir dando às femme fatales um papel de destaque nas suas obras. O maior exemplo é Uma Thurman, em Pulp Fiction e Kill Bill, mas também Pam Grier em Jackie Brown, Melanie Laurent em Bastardos Inglórios. Mas, a cereja no bolo do cineasta está neste Á Prova de Morte. Tarantino usa e abusa da sua tara por pés, tira das atrizes o melhor da sua sensualidade, com direito a quase closes ginecológicos e dá a elas a fúria necessária na hora da vingança. Todo o poder feminino ao cinema!.



Apoiando em diálogos extensos, onde novamente mistura cultura pop com futilidades, Quentin passeia pelos rostos femininos, pelos corpos, como um voyeur próximo, um observador da alma feminina. Ele faz o espectador se apaixonar pelas personagens, para depois massacrá-las sem dó. Mais personagens entram em cena e quando parece que serão as próximas vítimas, o jogo muda. O psicopata, ganhando a cara de Kurt Russel, no papel da sua vida, se torna vítima.



Como sempre, também, Tarantino investe nas influências marcadas. Passou pelos filmes chineses, Blaxplotation, e agora vai de Grindhouse, películas de baixo orçamento feitos na década de 70. Aqui, misturado com um legítimo Road Movie australiano. E tome cenas antológicas, como a batida de frente entre os possantes, e aquela da perseguição vingativa que dura 15 minutos. Parece muito menos.




Nota: 10.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Radar Trash Recomenda: Ilha do Medo – Shutter Island (2009)


Filme de Suspense dirigido por Martin Scorsese? É claro que não tinha como dar errado. Afinal, mestre Martin é um senhor supremo quando o assunto é o domínio imagético da estética do Cinema. E o cineasta entra em um terreno perigoso que é o suspense psicológico. Afinal, poucos conseguem estabelecer uma atmosfera decente para a história, como Stanley Kubrick em O Iluminado. A última vez que lembro de ter visto um bom suspense psicológico foi em Identidade, de James Mangold.

Mas Scorsa (permitam-em chamá-lo assim. É que são tantos filmes que já me sinto íntimo do sobrancelhudo) é assim. Se em outros casos, panorâmicas aceleradas, cortes abruptos e quebra de lente seriam erros imperdoáveis, neste especificamente, o nosso diretor sabe o que faz. Nada ali, durante toda a narrativa, sejam os diálogos, o cenário, a fotografia, montagem, elenco, é por acaso. Cada elemento em cena, cada mise-en-cene tem uma razão de ser.




Leonardo di Caprio e Mark Ruffalo são dois agentes federais enviados a uma ilha, na década de 1950, para investigar o desaparecimento de uma assassina que estava internada em um hospital psiquiátrico que há ali. Desde a chegada da dupla no rochedo, cada cena remonta a um quebra cabeça, desde a desconfiança dos soldados, os ferimentos do agente de Di Caprio até o furacão que se avizinha. E ali acontece de tudo, rebelião de presos, psicólogos fujões, diretor alemão (que reacende um trauma de guerra no policial), fósforos.



Em pequenas e marcantes participações, Elias Koteas Jackie Earle Haley e Patricia Clarkson, mudam o rumo da história, até desaguar em um final impactante. Aliás, a frase final do personagem Teddy, de Leonard, é brilhante e remete ao tormento e a remissão de pecados que atinge Jack Nicholson em O Iluminado e De Niro, em Taxi Driver. No fundo, Scorsese não está muito interessado em sustos fáceis e espíritos. Para ele, o verdadeiro terror está na mente humana.

Imperdível. Nota 10.