segunda-feira, 26 de abril de 2010

Coleção Vaga-Lume

Ainda lembro a primeira vez que gostei pra valer de um livro. Foi com oito anos de idade, durante as férias de julho em Mosqueiro. Meu primo havia levado um exemplar de “Deus me Livre”, de Luiz Puntel, e como desde pequeno fugia do sol e da badalação típica do período, me enfurnei no quarto e não conseguia parar de ler. Nem ligava para as constantes reclamações do então ex-dono do livro. Resultado: no dia seguinte telefonei para a minha mãe, que ficara em Belém, e pedi que comprasse novos títulos da série à qual pertencia o livro e que tanto me encantou, a Vaga-Lume, da editora Ática.
Quando regressei para a volta às aulas, já tinha devorado uns seis ou sete livros da coleção que, fui saber, existia desde 1972 e reunia vários escritores de renome. Ou seja, um longo caminho pela frente. E o melhor é que na contracapa constava uma seleção de títulos. Era só marcar qual queria e pronto. A partir daí, a missão de me abastecer com essas leituras passou a ser, basicamente, do meu pai. Recordo de um dia em particular, na Jinkings, quando ele deixou a livraria mofino e eu carregado de livros, feliz da vida. Foram cinco, se não me falha a memória. Entre eles, “O Mistério do Cinco Estrelas” e “O Escaravelho do Diabo”. Outros clássicos que me vêm à cabeça agora são “A Ilha Perdida” e “O Caso da Borboleta Atíria”.
Uma situação curiosa foi quando minha mãe me disse que havia livros da coleção guardados em algum lugar de casa, pois tinham sido leitura escolar obrigatória para meu irmão, nove anos mais velho que eu – ele odeia a série e uma simples menção a ela lhe causa arrepios até hoje, o que é compreensível, já que ler é algo que deve ser incentivado e não imposto. Só sei que segundos depois minha mãe se arrependeu de ter me dado a informação. Fiz todo mundo revirar estantes, guarda-roupas e qualquer lugar onde pudesse estar escondido esse tesouro.
Cheguei a ter cerca de cinquenta exemplares e ainda tenho um bom número deles – emprestar é fogo, a probabilidade de retorno sempre é reduzida. Li a maioria mais de uma vez, às vezes começava a ler durante o almoço e terminava duas horas depois, por aí. Eram textos leves, de aventura e suspense, com boa dose de humor. Meus autores favoritos eram Marcos Rey, Maria José Dupré, Marçal Aquino e Silvia Cintra Franco, com destaque para o primeiro dessa lista. Rey, morto em 1999, foi talvez o mais prolífico da série e sempre trazia o mesmo trio de protagonistas em suas histórias: os primos Leo e Gino, e a garota Ângela, que se envolviam em tramas policialescas.
Faz tempo que não tiro a poeira da minha coleção Vaga-Lume, outras leituras são prioritárias agora. Mas nunca me esquecerei daqueles personagens que me divertiram tanto na infância e pré-adolescência. Encorajado por eles, passei a frequentar assiduamente as livrarias, tentando descobrir novos autores, outro tipo de literatura. E é engraçado como isso soava, - e ainda soa - esquisito. Um dia, no convênio, estava lendo “Rei Lear” e um amigo meu soltou a pérola: “Shakespeare, tu é fresco?”. Mas tudo bem, sem estresse. Se ele soubesse que a leitura ajudaria bastante nas conversas com as garotas... Azar o dele. Nada que uma sessão de xingamentos mútuos não resolvesse para, cinco minutos depois, voltar para o sossego do meu livro.

Trilogia do trash

Até hoje tem gente que se pergunta o que um cara como Peter Jackson fez para conseguir se firmar como um dos principais diretores de cinema de Hollywood. A saga de Tolkien nos cinemas não era um projeto barato, não admitia riscos, mas, ainda assim, Jackson, famoso por seus filmes de terror de baixo orçamento, foi contratado. A razão? A única, a meu ver, é o poder criativo que ele possui e que seria fundamental em “O Senhor dos Anéis”. Sim, porque pode até não parecer, mas fazer um trash bem feito não é para qualquer um.
Desprezadas por quase todos os estúdios, essas produções funcionam, além do divertimento, como um verdadeiro laboratório para novos cineastas, que se viram como podem para buscar soluções bem sacadas para os problemas que as envolvem, finalizar o projeto e, com sorte, levá-las a algum festival ou mostra – se não, ainda há a possibilidade cada vez mais útil da divulgação pela internet.
Jackson começou assim, com sua própria câmera, juntando amigos em um fim de semana, nas folgas do trabalho, para as gravações. Desse modo peculiar, deixou um legado para aqueles que vibram com obras do gênero. Na verdade, uma trilogia (o cara antecipou a moda sem saber). Já havia assistido às partes um e três, digamos: “Náusea Total”, de 1987, e “Fome Animal”, de 1992.
O primeiro até que tem uma premissa interessante, mas o filme é muito “costurado”, o que compromete a “qualidade” final. Isso se explica, pois se tratava de um curta-metragem de 10 minutos, que foi mudando e crescendo, durante quatro anos, até se tornar um longa. Ou seja, muita coisa ficou pelo caminho. O que não quer dizer também que não seja possível apreciar as cenas sanguinolentas e todo o tipo de atrocidades e escatologias que estão presentes na história, que narra a chegada de extraterrestres ao nosso planeta com o objetivo de estocar carne humana para vender como alimento numa rede intergaláctica de fast-food.
Já “Fome Animal” foi o que mais rendeu notoriedade ao diretor. E não é pra menos. Tem cenas antológicas, como a do padre “dando porrada em nome do Senhor” e um mito do “macaco-rato”, tirado sabe-se lá de onde, para iniciar a história. Melhor (ou pior) do que a criatura é a antagonista, uma mãe super-protetora que se transforma em uma morta-viva, dá início a uma epidemia na cidade e deixa a vida do filho ainda mais desesperadora. Sem contar com o bebê-zumbi, que arranca gargalhadas cada vez que surge em cena.
Os “efeitos especiais” e maquiagens atingiram o auge (na medida do possível) em “Fome Animal”, mas isso só aconteceu porque Jackson teve nesse intervalo um exercício e tanto. Estou falando de “Meet the Feebles”, ainda inédito no Brasil, que baixei da internet e assisti na última semana. E uma coisa posso dizer: é sensacional. O melhor dos três, sem dúvida. Como não foram utilizados atores de carne e osso (alguns fantasiados apenas), ficou muito melhor para criar o clima grotesco.
Esse “muppets às avessas” retrata os bastidores de um popular espetáculo teatral, que abriga personagens sórdidos, sem moral alguma: o chefe, um leão-marinho, é casado com a estrela do show, o hipopótamo fêmea Heidi, mas tem um caso com uma gata siamesa e comanda uma rede de tráfico de drogas com a ajuda de seu assistente, o rato Trevor, que, por sua vez, corrompe fêmeas para fazê-las trabalhar como atrizes pornôs; temos ainda um coelho viciado em sexo, que tenta a todo custo esconder que contraiu uma doença venérea, e um sapo veterano da guerra do Vietña, que trabalha como atirador de facas, mas só faz matar seus ajudantes. O único inocente nessa história toda é o porco-espinho Robert, que se apaixona por uma cadela e busca o seu happy end.
A trama vai detalhando as histórias de cada personagem em uma crítica cruel às pressões do showbizz, inclusive por meio de uma mosca-repórter, que, doida por um furo de reportagem, mergulha, literalmente, na podridão que inunda aquele ambiente. E o filme fecha com chave de ouro, em uma cena feita para lavar, com sangue, a alma de quem repudia tudo aquilo que ali foi apresentado.
Hoje, Jackson enfrenta ainda o preconceito e a resistência de quem acha o cinema fantástico uma bobagem (coitados) ou que os efeitos especiais não devem ter tanta importância. Mas se, nesse caso, eles estiverem a serviço do roteiro e não o contrário, pronto, não tem argumento que possa diminuir o seu valor. Talvez não gostem dele porque teve a coragem de fazer o que muitos críticos não tiveram: meter a mão na massa.





quarta-feira, 21 de abril de 2010

A dura realidade de um Videogame

Para tirar a poeira do blog, esta animação sensacional sobre como é difícil a vida de um personagem de videogame: