Tem que abstrair. Essa é a regra para assistir às aventuras do primeiro super-herói japonês, National Kid. Lembrar do tempo em que éramos crianças, totalmente fissurados por Changeman, Jaspion e Jiraya, que nossos pais – que vibravam com o tokusatsu pioneiro – odiavam. Éramos facilmente enganados por truques baratos, montagens toscas e lutas coreografadas de forma, no mínimo, ridícula – e ainda ficávamos na frente da TV desferindo socos imaginários. As gerações mudam e o Japão se mantém firme no propósito de nos entreter com tais personagens.
É um programa de pura nostalgia, mesmo para quem, como eu, não tinha sequer nascido na época. Mas lembro bem de meu pai falando sobre o National Kid, enquanto eu assistia aos seus “filhotes”. E foi meu pai também quem me deu de presente de Natal o box do seriado em DVD. Eu escolhi e entreguei na mão dele - como antigamente -, que pegou, olhou, com aquele jeito de quem está puxando alguma coisa pela memória, e só soltou um clássico “égua!”. Pronto, agora vou ver o que fazia a cabeça da garotada dos anos 60.
Comecei a assistir na última terça-feira, quando estava de folga do trabalho. Fiz uma pequena maratona. Não deu pra terminar ainda, mas adiantei bem. São quatro DVDs com todas as sagas protagonizadas pelo herói. Já estou no terceiro, envolvido com a trama dos Seres Abissais, que considero bonzinhos comparados aos Incas Venusianos, que, realmente, fazem jus à fama de cruéis. Vamos ver se os monstros do Império Subterrâneo, que vêm logo a seguir, são adversários mais capazes.
A narrativa é bem simples: National Kid era um ser de outro planeta, que se escondia atrás de uma identidade secreta: o pacato professor Massao Hata. Ele estava sempre pronto para defender a terra dos monstros, fossem eles seres do espaço, do mar ou até mesmo das profundezas da Terra. Um detalhe: ele voava com os braços abertos, imitando as asas de um avião, ao contrário de outros heróis que possuíam esse tipo de poder.
São poucos extras na coleção, mas valem a pena pela raridade. Trata-se da dublagem original, feita pela AIC - São Paulo, que muitos consideravam perdida (houve uma redublagem nos anos 90). A qualidade de som e imagem não é das melhores, mas também já seria pedir muito. Além disso, tem um comentário do Paulo Gustavo Pereira sobre a série. Ele é o autor do livro “Almanaque dos Seriados” e escreve para a Sci-Fi News. O cara é uma bíblia dos pejorativamente chamados “enlatados”. É bom ver alguém discursar com propriedade sobre algo ligado à “cultura nerd”, tratá-la com o devido respeito, afinal, ninguém merece ficar nas mãos de intelectualóides.
Uma das coisas interessantes que descobri sobre National Kid é que o personagem foi concebido como um garoto-propaganda. Isso mesmo. A atual Panasonic era conhecida como National na época e lançou o programa para divulgar um rádio de pilha (!). Não é à toa, portanto, que a maneira como ele era invocado por quem estava em perigo se dava por meio de um radinho. Mas, se o conceito inicial era esse, a série se tornou algo muito maior, servindo de exemplo para várias outras produções que, igualmente, fizeram história.
* Publicado no Caderno Por Aí desta sexta, dia 29
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