Baby
Driver (2017) é ótimo como cinema, sem necessariamente ser um filme excelente.
Parece contraditório? Não necessariamente. Edgar Wright é um diretor que sabe
surpreender. Tem ousadia e domínio técnico das suas obras, como já provou em
ótimas produções, como Todo Mundo Quase Morto, Chumbo Grosso, Scott Pilgrim
contra o Mundo e os Heróis da Ressaca. Trabalha bem com montagem rápida e
planos ousados. Mas, na sua nova “experiência”, ele leva a sua habilidade
técnica a um novo patamar.
Afinal,
Wright trabalha, aqui, exclusivamente para a edição de som e montagem. Por
isso, é importante destacar ainda o trabalho musical de Steven Price, além da
edição de Jonathan Amos e Paul Machliss. O fato do personagem principal ter um
problema de audição e ouvir canções no fone de ouvido inteiro é uma desculpa
interessante para ter trechos de músicas em quase todas as cenas. E é
impressionante como estas casam exatamente com as cenas e os sons ambientes.
Desde os pneus de carro que “cantam” em momento de um scratch em uma cena, até
o tiroteio que segue o tom da bateria em outra.
Há um
plano inteiro com o protagonista andando na rua, em que todo o barulho da
cidade e pessoas são incorporados ao ritmo do que toca na trilha sonora, que
conta com músicas de Commodores, Barry White e Jon Spencer Blues Explosion.
Seria muito justo se houvessem algumas indicações ao Oscar nesses quesitos. Esse
trabalho não funcionaria bem se o elenco não “abraçasse” a idéia. E eles
aceitam entrar na brincadeira. A inexpressividade de Ansel Elgort cai como uma
luva para o seu indiferente personagem, enquanto Kevin Spacey já traz uma
persona habitualmente ameaçadora e Jamie Foxx está perfeito como o bandido
quase psicopata. Destaque ainda para Lily James e Elza Gonzalez, com
personagens femininas fortes, mesmo com personalidades opostas.
Mas o
diretor se preocupou tanto com a parte técnica, que o roteiro acabou um pouco negligenciado.
Ele homenageia o gênero road movie de assalto, como Caçada de Morte, Os
Implacáveis (com direito a closes de volantes, marchas e aceleradores, típicos
da obra de Sam Peckimpah) e Drive, mas se perde nas próprias influências, ao
situar a narrativa no mais do mesmo. A história: um jovem habilidoso no
volante, mas com problemas psicológicos e auditivos causados por um acidente
trágico é forçado a trabalhar para uma organização criminosa especializada em
assaltos a bancos. Ao mesmo tempo, ele se apaixona por uma garçonete e precisa protegê-la
dos bandidos, além de salvar a própria pele.
E é isso.
Nada de novo. Há uma necessidade de dividir a narrativa em atos, e alguns
funcionam bem. Outros são mais arrastados, prejudicando a produção nas suas
duas horas de duração. Mesmo assim, é uma experiência cinematográfica como
poucas, para se apreciar e depois estudá-la junto às teorias da sétima arte. E
depois baixar a trilha sonora, para repetir os movimentos de Baby. Só não
escute enquanto estiver dirigindo.Pode ser arriscado.