Demorou 75 anos para que a princesa Diana saísse de
Themiscyra e invadisse os cinemas. E a chegada da Mulher Maravilha (2017) à
tela grande não poderia ter vindo em melhor hora. Bom para a Warner e a DC, que
precisavam de um bom filme para emplacar o universo cinematográfico da editora,
capenga até então, e para a diretora Patty Jenkins, que lutou muito para tirar
a história do papel e está sendo devidamente reconhecida. E excelente também para
os fãs de cinema, com um ótimo entretenimento e um importante documento das
transformações sociais atuais.
O mais importante é que o filme abandona o
tom obscuro dos trabalhos recentes da Warner/DC (uma série de “bombas” como
Batman vs Superman e Esquadrão Suicida) e assume uma postura mais “matinê” de
aventura, como os clássicos dos anos 1970 e 1980, como Fúria de Titãs e, claro,
Superman (1978), o melhor filme de super-heróis da história. Não é à toa que,
em várias cenas, Jenkins homenageia Richard Donner com planos praticamente
refilmados do clássico. E assim como Donner trouxe um encantamento aos
cinéfilos com planos de Clark Kent voando, aqui é fascinante ver uma mulher
dominando todos os quadros da película com força e personalidade.
Os méritos, claro, são de Gal Gadot, que
consegue transmitir toda a raiva, dúvidas e ingenuidade da personagem sem cair
em maneirismos, mesmo sendo visivelmente limitada, ainda, como atriz. E ela não
está sozinha. Chris Pine faz o espião Steve Trevor parecer um Indiana Jones com
cara de galã da Era de Ouro de Hollywood, sem parecer machista e também ganha
personalidade própria, deixando o romance com a protagonista soar natural. Sem
contar Robin Wright e Connie Nielsen, fabulosas como as líderes das guerreiras
amazonas.
O roteiro funciona, como já disse, por deixar
fluir o clima de aventura, mas peca em um dos pontos essenciais: a construção
dos vilões, que são caricatos ao extremo. Outro problema é a iluminação de
algumas cenas, excessivamente escuras, talvez uma influência de Zack Snyder
como produtor. Mesmo assim, o diretor de fotografia Matthew Jensen é
inteligente em criar contrastes entre o clima colorido e solar da terra das
Amazonas com o tom cinzento da Europa na Primeira Guerra Mundial.
Mulher Maravilha é o filme certo, na hora
certa, principalmente como ferramenta de inclusão e representatividade
feminista. Assim como os quadrinhos causaram encantamento e ajudaram a formar
intelectualmente as crianças por gerações, o cinema de herói tem papel fundamental
nessa construção atualmente, com o domínio das HQs na tela grande. Não é um
filme perfeito, mas é perfeitamente adequado para o tempo atual. Eu estou
ansioso, desde já, para um filme de ação focado nas Amazonas. E vocês?