segunda-feira, 19 de junho de 2017

O filme certo, na hora certa



Demorou 75 anos para que a princesa Diana saísse de Themiscyra e invadisse os cinemas. E a chegada da Mulher Maravilha (2017) à tela grande não poderia ter vindo em melhor hora. Bom para a Warner e a DC, que precisavam de um bom filme para emplacar o universo cinematográfico da editora, capenga até então, e para a diretora Patty Jenkins, que lutou muito para tirar a história do papel e está sendo devidamente reconhecida. E excelente também para os fãs de cinema, com um ótimo entretenimento e um importante documento das transformações sociais atuais.
 O mais importante é que o filme abandona o tom obscuro dos trabalhos recentes da Warner/DC (uma série de “bombas” como Batman vs Superman e Esquadrão Suicida) e assume uma postura mais “matinê” de aventura, como os clássicos dos anos 1970 e 1980, como Fúria de Titãs e, claro, Superman (1978), o melhor filme de super-heróis da história. Não é à toa que, em várias cenas, Jenkins homenageia Richard Donner com planos praticamente refilmados do clássico. E assim como Donner trouxe um encantamento aos cinéfilos com planos de Clark Kent voando, aqui é fascinante ver uma mulher dominando todos os quadros da película com força e personalidade.
 Os méritos, claro, são de Gal Gadot, que consegue transmitir toda a raiva, dúvidas e ingenuidade da personagem sem cair em maneirismos, mesmo sendo visivelmente limitada, ainda, como atriz. E ela não está sozinha. Chris Pine faz o espião Steve Trevor parecer um Indiana Jones com cara de galã da Era de Ouro de Hollywood, sem parecer machista e também ganha personalidade própria, deixando o romance com a protagonista soar natural. Sem contar Robin Wright e Connie Nielsen, fabulosas como as líderes das guerreiras amazonas.
 O roteiro funciona, como já disse, por deixar fluir o clima de aventura, mas peca em um dos pontos essenciais: a construção dos vilões, que são caricatos ao extremo. Outro problema é a iluminação de algumas cenas, excessivamente escuras, talvez uma influência de Zack Snyder como produtor. Mesmo assim, o diretor de fotografia Matthew Jensen é inteligente em criar contrastes entre o clima colorido e solar da terra das Amazonas com o tom cinzento da Europa na Primeira Guerra Mundial.
 Mulher Maravilha é o filme certo, na hora certa, principalmente como ferramenta de inclusão e representatividade feminista. Assim como os quadrinhos causaram encantamento e ajudaram a formar intelectualmente as crianças por gerações, o cinema de herói tem papel fundamental nessa construção atualmente, com o domínio das HQs na tela grande. Não é um filme perfeito, mas é perfeitamente adequado para o tempo atual. Eu estou ansioso, desde já, para um filme de ação focado nas Amazonas. E vocês?