Elena Costa era uma jovem aspirante à atriz quando,
em 1990, se matou com altas doses de tranquilizantes e álcool. 23 anos depois,
sua irmã, a cineasta e atriz Petra Costa decide recontar a vida da irmã para entender (ou tentar)
as motivações que teriam levado a bela jovem à tirar a própria vida.
Tentando montar um difícil quebra cabeça familiar,
Petra (que tinha sete anos quando Elena faleceu) rememora os pequenos fragmentos
pessoais da própria família trazendo para o público toda a dor que acometeu
aqueles indivíduos ante à tragédia pessoal que os atingiu. E as marcas desse
sofrimento estão em cada canto de olho, mãos, movimentos de cada uma das três vidas que
mudaram após aquele ano fatídico.
Como documentarista, Costa decide demonstrar a vida
(e a morte) através de pequenos fluxos diários que compõem nosso dia a dia. E a
melancolia desta caminhada segue sem rostos, sem identidades, a não ser das duas
jovens ligadas umbilicalmente e espiritualmente por décadas e uma mãe que traz,
no rosto, toda a crueza de uma existência sofrida.O fluxo de corpos sobre as
águas é a representação literalmente simbólica desse deslizar da vida. Assim
como as gotas na janela do avião, que remetem às lágrimas que resultarão dali
em diante.
Elena é uma figura fascinante como personagem de
análise documental. Jovem, bonita, talentosa, mas de personalidade bipolar,
como demonstra as filmagens recuperadas de sua adolescência. Em uma cena, ela
come com um olhar distante, alheia à alegria infantil que a cerca. Em outra,
dança de maneira leve e descompromissada, um contraste com a cena seguinte, onde
aparece encenando séria e duramente a primeira peça de teatro.