O filme aí do título é um terror das antigas. Foi realizado em 1981, quando eu não era nem nascido, numa época em que o estilo era respeitado, levado a sério. As produções que hoje se dizem de terror são tão fracas, cheias de clichês, que, em vez de medo, provocam sono. Além disso, a maioria investe na mescla com outros gêneros, sendo os mais comuns a comédia (o famoso terrir), ação e ficção científica. Terror puro e dos bons é difícil de encontrar no atual cenário cinematográfico.
Por isso, a volta ao passado é fundamental e O Enigma do Mal, que assisti um dia desses, conseguiu me surpreender. É um filme tenso do início ao fim. Te prende pela história forte, pelo drama vivido pela protagonista e arranca o terror das interpretações naturalistas dos personagens. A trilha sonora é ausente em vários momentos da produção, que aposta acertadamente em pancadas secas, no estalo, no som ambiente. Às vezes, dá uma impressão que estamos vendo a um documentário. O clima é claustrofóbico.
Baseado em fatos reais, a história narra uma série de estupros cometidos contra uma mãe de família. O detalhe é que os atos são de autoria de um espírito maligno. A partir daí, além da expectativa pelos novos ataques, o ponto alto do filme são os embates entre a racionalidade e a crença em forças ocultas, representados por psiquiatras e parapsicólogos, respectivamente. Eles expõem toda a sua argumentação para convencer a vítima – e o espectador – a aceitar o seu ponto de vista.
As explicações para os fenômenos que ocorrem são muitas e bem coerentes. Investigam o passado da vítima, o relacionam com o presente, diagnosticando a vítima como louca, que tem delírios e se machuca sozinha... Enfim. É uma teoria. Mas quem, em sã consciência, sofrendo tais ataques, a aceitaria? A mulher tenta de tudo para se ver livre, só quer que isso pare. Mas, seguidamente, continua a ser estuprada. Ouve a voz do agressor, sente a sua presença. É uma perseguição física e mental.
O medo do desconhecido, por se tratar de um filme de terror, é o que guia as ações. Chega uma hora em que as explicações se tornam desnecessárias. É real. Está acontecendo. Como parar? Dá pra parar? São as únicas perguntas que importam. Vejam o filme, tentem não ser influenciados pela enxurrada de conceitos atirados pelos dois lados da questão e tirem suas próprias conclusões. É uma experiência que vale a pena no meio de tantas bombas que vestem a capa de filme de terror atualmente.