quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Os Mortos-Vivos – Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adland


Mesmo para quem não é fã de filmes de terror, as Hqs de zumbis de Robert Kirkman são obrigatórias. Apesar da série de TV de The Walking Dead fazer sucesso na televisão americana, é nos quadrinhos que Kirkman mostra sua força. Contando a história do policial Rick Grimes, que acorda do coma após levar um tiro em um mundo tomado por criaturas comedoras de carne humana e parte em busca da família, o autor mistura as já conhecidas referências sociais e políticas para as criaturas que rastejam com muita sangueira.


O impacto de cada edição e o domínio narrativo do escritor são impressionantes. Há um crescendo de angústia e loucura sem fim e ninguém está a salvo aqui. Mesmo. E o que sobra, impressionantemente, é a vontade de ler mais e mais. No Brasil, a série vem sendo publicada pela HQ Maniacs. E não se apegue a nenhum personagem. Sério.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Spielberg voltou!

Em 1993, Jurassic Park chegava aos cinemas. Embora não tivesse conhecimento, eu assistia no extinto Cine Palácio àquele que seria o último filme realmente divertido de Steven Spielberg em um período de quase vinte anos. Um hiato que não foi quebrado nem com o carisma de Indiana Jones. Faltava um frescor, um cheiro de novidade... Nem as incursões pelo drama se salvaram. A Lista de Schindler e Munique são bons, mas o gênero parece não combinar com Spielberg. A mão fica pesada e ele resvala no melodrama por diversas vezes, prejudicando o resultado final. Mas agora, em 2012, ao contar as peripécias de Tintim, o cineasta está em casa e entrega o que dele sempre se espera: uma grande e divertida aventura.
As aventuras de Tintim é uma adaptação da famosa série de histórias em quadrinhos criadas pelo cartunista belga Hergé. Realizar o filme era um antigo sonho de Spielberg, que teve uma dupla barreira: primeiro, vencer a hesitação dos estúdios em relação ao projeto, pois Tintim não era tão popular nos EUA para justificar o alto custo da produção. E depois esperar a técnica de captura de movimentos alcançar elevado patamar para, enfim, tirar a ideia do papel. Decisão acertada, já que, ao olhar em retrospecto, O Expresso Polar, primeira obra a utilizar tal tecnologia, empalidece e surge artificial diante da complexidade de Tintim, cuja animação não desvia o foco da narrativa, ao contrário, é orgânica, serve ao trabalho do ator, não o “apaga” digitalmente.
E este é um ponto fundamental, pois o filme não para nunca, a ação é contínua. Desde o momento em que o protagonista é apresentado (revelado num desenho pelo “próprio” Hergé – uma grande sacada) ocorre uma sucessão de fatos que não deixam espaço para respiros. Tanto é assim que um recurso dos quadrinhos é bastante utilizado aqui: Tintim pensando alto. Normalmente, uma exposição desnecessária em cinema, onde é melhor mostrar do que contar. Mas perdoável, pois obviamente não se trata de desleixo e sim de uma opção em prol do dinamismo da história, que leva Tintim, um jovem e entusiasmado repórter, cujo heroísmo está no sangue, a uma perigosa jornada pelo mundo.
Spielberg se mostra tão à vontade na direção que parece brincar com a câmera, deixando a criatividade guiar várias sequências, que certamente estão entre as melhores da sua carreira (e isso não é pouca coisa, afinal estamos falando do cara que criou Caçadores da Arca Perdida, Tubarão e Encurralado, entre outros ícones do cinema). Assim, somos brindados com fusões inspiradíssimas que unem passado e presente durante as lembranças do capitão Haddock, além da empolgante perseguição pelas ruas da cidade-fictícia Bagghar, num plano-sequência de roer as unhas. O diretor também usa o 3D de forma apropriada e não como mero enfeite, investindo na profundidade de campo em cenas importantes da trama.
Com um gancho escancarado para uma continuação, que terá Peter Jackson na direção e Spielberg na produção – numa inversão de funções em relação a este primeiro filme –, As aventuras de Tintim cumpre seu papel com louvor, portanto: dá vida a um personagem clássico dos quadrinhos - que há tempos merecia uma adaptação - e, mais do que isso, devolve o verdadeiro Steven Spielberg ao público. Esperar grandes filmes de grandes cineastas é uma aposta certeira. Pode até demorar vinte anos, mas um dia a recompensa chega.