Estreia em número recorde de salas de cinema no Brasil o filme Amanhecer, o quarto da “saga” Crepúsculo. Algo inversamente proporcional à qualidade dessas adaptações. Mas o sucesso de público não chega a ser incompreensível. Os fãs da série são os mais xiitas que surgiram na última década. Não admitem críticas, defendem o produto de sua adoração com unhas e dentes. Mas ainda não encontrei um que não seja uma adolescente suspirando pelos cantos por causa do “vampiro” e do “lobisomem”. Menos mal. Elas vão crescer e ver como esse comportamento é ridículo.
Até porque, elas, com certeza, não conhecem os vampiros e lobisomens de verdade. Os de Crepúsculo são uma afronta ao gênero do terror. Vampiros que brilham no sol, que passam a eternidade em escolas... Não dá pra engolir. Uma coisa é criar um mundo de fantasia, como Harry Potter, por exemplo, que não raro é comparado (injustamente, já que está a anos-luz em qualidade da trama de Stephanie Meyer) com Crepúsculo. Outra é se apropriar de elementos consagrados – artifício teoricamente mais fácil – e criar algo tosco, ruim, desrespeitando toda a mitologia que envolve os seres sobrenaturais.
E antes que me acusem de detonar Crepúsculo por este ser “um romance e não terror”, argumento que já escutei diversas vezes, assistam “Drácula”, do Coppola. Aquilo, sim, é um romance. E mesmo fora do horror, muitas comédias, por exemplo, tratam esses ícones com mais propriedade do que Crepúsculo. E nem venham também com a história de que a protagonista é um exemplo de superação feminina, que ela conduz a narrativa, ao contrário dos clássicos. A vocês, digo: a Bella (sim, sei o nome) é uma abestalhada, que espera tudo acontecer. Vai contra todos os ideais de feminismo.
Talvez até por isso haja tanta identificação. Ela, apesar de ser uma mulher feita, age como uma adolescente boba e imatura. Acho que se rolasse um papo entre a Bella e suas fãs do mundo real, o assunto não passaria de Hanna Montana e similares. Quem sabe até resolvam juntas um teste de revistas tipo Capricho ou Querida. Daqui a alguns anos, quem sabe, poderão falar sobre cinema. Mas falta muito pra isso.